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Os novos medos do cotidiano

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jose-narioAlguns dos nossos medos de infância já não têm razão de existir. São medos ultrapassados. Nos meus tempos de criança nós tínhamos um medo pavoroso de assombração, de mula-sem-cabeça, de lobisomem e outros. Tínhamos até medo da polícia, coisa que os jovens de hoje não têm. Aliás, os jovens de hoje não têm nem mesmo respeito pela polícia.

Nos dias atuaisas assombrações antigas estão desmoralizadas e até humilhadas. Nem se fala mais nelas. São simples ilustrações nos livros de folclore. E até nisso elas estão sendo desvalorizadas. O folclore de outros países, como o halloween americano, já tem mais apelo junto às crianças do que os nossos sacis e curupiras.

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Pois é, nos últimos tempos tenho desenvolvido outros medos, que eram mais comuns nos habitantes de grandes cidades. Mesmo vivendo aqui no interior, circulando a maior parte do tempo pelas nossas pequenas e hospitaleiras cidades, reconheço que alguns temores diferentes têm me assaltado. Ops! Vou mudar este último termo. Prefiro dizer “abalado”.

Quando vou ao banco não desgrudo os olhos da porta, tentando identificar o menor movimento diferente que possa significar qualquer ação agressiva como um assalto a mão armada. Ao usar as máquinas de autoatendimento, fora do horário comercial bancário, procuro fazê-lo o mais rápido possível, como se pudesse ocorrer uma explosão em alguns desses aparelhos a qualquer instante. Coisa pouco provável, nesses horários. Essas explosões geralmente acontecem de madrugada.

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Desde que as agências dos Correios passaram a oferecer serviços bancários, recebendo e fazendo pagamentos em dinheiro – e, muito frequentemente, sofrendo assaltos – que eu não me sinto mais seguro lá dentro. Do mesmo modo, sei que outros usuários, e principalmente os funcionários, também ficam tensos durante o tempo em que permanecem ali. Fato que vem provocando até problemas psicológicos nos empregados da empresa.

Se as agências bancárias, que possuem a proteção de três ou mais seguranças armados, sofrem continuamente com os roubos, imaginem as agências postais que não os têm! É natural que todos fiquem nervosos lá dentro.

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Em virtude disso, acho que já acrescentei mais um medo aos demais, ou seja, o temor de ir aos Correios. De certa forma, esses receios vão se encadeando, se transformando em um grande medo – ou medão – de viver. Isso desencadeia um processo em que começamos a ver perigo em todo canto.

Tenho observado isso nas pessoas de uns tempos para cá. Esse medo generalizado está impresso nas construções residenciais e comerciais, com seus complexos sistemas de segurança que incluem câmeras de vídeo, cercas elétricas, fechaduras eletrônicas e muitos outros dispositivos que visem a segurança em geral.

E que, em caso de invasão, pouco resolvem. São mais para apaziguar as almas torturadas que vivem dentro de cada um desses bunkers.Assim, creio que a convivência com esses novos medos são inevitáveis nos novos tempos.

Aos poucos, vamos nos acostumando com as privações oferecidas pelo nebuloso cotidiano. Minha mãe dizia, muito sabiamente, que, com o passar do tempo, nos acostumamos até com o que é ruim. Eu achava que não, mas começo a concordar com ela.

* José Nário é escritor, engenheiro florestal, especialista em Informática na Educação, Gestão Ambiental e Educação Inclusiva e autor dos livros “Lelezinho, o pintinho que ciscava pra frente e andava pra trás”, “Lelezinho vai à escola” e “Minha janela para o nascente”.

 

 

 

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