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O goleiro e o Big Brother

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Há alguns anos, não me lembro exatamente quando, elaborei um texto que tinha um título bastante sugestivo: “A ditadura do Big Brother”, que foi publicado no semanário “A Folha Regional”, jornal impresso da cidade de Muzambinho. Creio que foi mais ou menos quando o programa de TV apareceu no Brasil e gozava de estrondoso sucesso. Portanto, há mais de quinze anos.

Aquelas primeiras edições da atração televisiva se transformaram em mania no país e as pessoas não falavam de outra coisa. As manobras dos participantes para sobreviver dentro do “reality show” eram comentadas por todos, em todos os lugares. Principalmente as iniquidades perpetradas por eles, tidas como inevitáveis, para resistir à eliminação do programa. Esse comportamento, pelo que se sabe, é o que faz o gosto da audiência.

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Apesar de não ter assistido regularmente aos programas, sei que a linha mestra da coisa é mais ou menos esta: vale tudo para se manter “na casa”, inclusive passando por cima de alianças e amizades firmadas durante o evento. Aliados mudam de lado conforme suas necessidades mais prementes, mostrando as facetas mais abomináveis e desprezíveis dos participantes. Os efeitos do confinamento seriam os responsáveis por tudo isso, com os presentes se engalfinhando para explorar as fraquezas dos demais.

No fundo, todos nós sabemos que aquilo não passa de mais uma novelinha, com capítulos roteirizados e com cada um dos personagens representando o seu papel. Apesar disso, uma coisa fica evidente, a lição principal, que é mostrar até onde o ser humano é capaz de ir para obter um mínimo de sucesso, custe o que custar. A isso eu dei o nome de “ditadura do big brother”.

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O caso da equipe de futebol da cidade de Varginha, que contratou o jogador Bruno Fernandes, goleiro que mandou matar a namorada e sumiu com o corpo, lembra o programa de televisão. Mesmo sabendo que vai perder os patrocinadores atuais, o clube insistiu na contratação porque sabe que outros financiadores vão querer associar-se a ele para mostrar suas marcas no peito do jogador, famoso por vias muito tortas.

Da mesma forma que os “jogadores” do programa de TV, no vale tudo da vida real o Boa Esporte sabe que vai levar vantagem, objetivo desejado por grande parte dos brasileiros em quaisquer circunstâncias. O clube, principalmente nos primeiros meses da contratação, obterá muita exposição do seu nome e de suas atividades nos meios de comunicação. E é exatamente isso que qualquer empresa quer, ou seja, chamar atenção a qualquer custo. Sabe daquela história do “Falem mal, mas falem de mim”? É exatamente isso, infelizmente, o que pretende o clube de Varginha, não importando os resultados dentro do campo.

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Como já foi amplamente divulgado, nenhum dos dois lados, o clube ou o jogador, está errado. Um procura o sucesso, desmedidamente, e o outro quer a reabilitação junto à sociedade. O que está indignando as pessoas é o fato de que o crime do jogador não foi totalmente esclarecido.O corpo da jovem assassinada nunca apareceu e o jogador não cumpriu a totalidade da pena que lhe foi imposta.

Essa polêmica também vem mostrar a situação de milhares de presidiários na mesma situação que o jogador de futebol, mas que não têm o mesmo privilégio. Cumprem penas em estabelecimentos totalmente degradados e superlotados, sem poder gozar das mesmas vantagens.

Certamente a maioria desses deserdados da sorte está presa por crimes bem menos graves do que aquele praticado pelo goleiro, mas nenhum deles tem o mesmo poderio econômico e, mais relevante, a fama, que lhe proporciona tratamento especial da justiça. E esse privilégio, num lampejo de oportunismo hipócrita, reforça o desejo da equipe de futebol de Varginha, que é fazer sucesso a qualquer custo, num simulacro do famoso programa de TV.

*José Nário é escritor, engenheiro florestal, especialista em Informática na Educação, Gestão Ambiental e Educação Inclusiva e autor dos livros “Lelezinho, o pintinho que ciscava pra frente e andava pra trás”, “Lelezinho vai à escola” e “Minha janela para o nascente”.

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