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Poços de Caldas

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Vida nas nuvens

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Anteontem eu parei o carro em uma praça e, não sei porquê, olhei para o céu. Avistei imediatamente um aglomerado de nuvens que lembrava uma manada de elefantes. Havia uns grandões orelhudos, outros menores e até alguns filhotes. Fiquei meio que encantado com aquela visão. Antes dessa, não me lembro da última vez que havia visto animais e outras figuras nas nuvens. Só sei que faz muito tempo!

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A manada de nuvens logo começou a desfazer-se. Alguns dos elefantes se transformaram em hipopótamos compridos e gordos. Os menores viraram lobos e carneiros. Vi ainda vários cavalos e uns três bois chifrudos. Na periferia do aglomerado surgiram pequenos grúmulos parecidos com algodão doce. Tudo foi se alongando, como se fosse aquele rastro de fumaça lançado pelos aviões. Minutos depois não havia mais nada discernível ou que se parecesse com algo que eu conheço.

Balancei a cabeça, admirado. Parecia que aquela manada estava só aguardando que eu a visse para se desmanchar, para se deixar levar pelos ventos das alturas da atmosfera. Parecia mesmo que alguém a desenhara no céu. Num céu só meu, particular. Uma exibição exclusiva para mim. É o que parecia, mas não posso imaginar um motivo para que isso acontecesse, posto que eu não mereço algo assim.

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Olhei em volta, tentando descobrir se alguém mais avistara os elefantes celestes e estava a observá-los como eu. Ninguém olhava para o céu. Todos os demais transeuntes, sem exceção, olhavam para seus telefones celulares. Alguns mexiam com a boca, aqueles que usavam fones de ouvido, ensaiando um muxoxo inaudível. Outros simplesmente dedilhavam frases curtas no teclado do aparelho e, em seguida, aguardavam a resposta com um arremedo de sorriso nos lábios.

Havia ainda os que conversavam de frente para o telefone, gravando seus vídeos ou enviando mensagens de voz. Grupos de adolescentes produziam seus “selfies” animadamente. Aqui e ali, várias dessas pessoas riam ruidosamente dos conteúdos vistos nas telas dos seus aparelhos. Uma alegria um tanto comedida ou, talvez, bem calculada. Os conteúdos são muitos e há que se dividir bem a alegria para poder gozar do máximo possível de diversão. Acho que por isso riam um pouco e logo paravam, para recomeçar em seguida.

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As pessoas cruzavam a praça em todos os sentidos e, creio, nenhuma delas via a beleza dos canteiros de flores ou o verde das árvores. Muito menos os elefantes no céu. Enquanto eu observava, ninguém se cumprimentou. Ninguém gastou um “bom dia!” com o outro que passava ao seu lado. Nenhuma pessoa sequer olhou para quem vinha em direção contrária ou caminhava paralelamente. Também pudera, todos olhavam pra baixo, para as mãos que seguravam os celulares.

Não havia como não compará-los com um bando de autômatos caminhando pelas ruas, cada um recebendo ordens particulares e realizando suas tarefas sem hesitar. Um bando de androides sem vontade própria, enfeitiçados por aquela pequena tela que despeja o mundo ante seus olhos, direcionando seus gostos e suas ambições de forma imperceptível.

Não sei se é bem isso, ainda não fui fisgado por esse moderníssimo instrumento de escravização chamado “smartphone”. Mas, não poderia ser de outra maneira, convivo com dezenas de pessoas que já o foram e sei que a maioria depende imensamente desta forma de comunicação. E sei também que esta situação se repetirá cada vez mais, já que desde muito pequenas as crianças recebem e usam seus aparelhos celulares.

E as nuvens, coitadas, vão perder seu tempo desenhando figuras no céu para que a humanidade as aprecie. Pensando bem, acho que as elas já estão desistindo dessa função. Tanto é verdade, que eu passei muitos anos sem ver figuras nas nuvens. Tá certo que é preciso um tanto de inocência e uma boa dose de imaginação, além de um certo romantismo, para ver essas ilustrações desenhadas no céu.

Inocência, romantismo e imaginação. As duas primeiras, caídas em desuso há muito tempo, talvez estejam a caminho da extinção. A terceira vive intensamente, mas sem a presença das outras, tornando-se cada vez mais insossa e repetitiva. Por isso, é cada vez mais difícil ver figuras desenhadas nas nuvens.

Mesmo que elas estejam lá, poucas pessoas serão capazes de vê-las. Praticamente todas elas olham continuamente para baixo, para aquela pequena janela brilhante que hipnotiza seus olhares e determina suas vontades. Alheios a tudo que os cerca, elas caminham pelas ruas como se nada mais existisse em volta. Infelizmente, é assim que vivem as pessoas neste momento.

E eu aqui querendo que elas vejam figuras nas nuvens do céu… Que inocência!

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