Publicidade

Paulo Pavesi, pai da vítima Paulo Veronesi Pavesi, que ficou conhecido como Paulinho,  depôs, no início da tarde desta quinta-feira (28), durante sessão do júri popular dos três médicos acusados pela morte e remoção de órgãos do menino. São réus do processo, José Luiz Gomes da Silva, José Luiz Bonfitto e Marco Alexandre Pacheco da Fonseca.

Publicidade

O depoimento de Paulo Pavesi aconteceu logo após o retorno do recesso para almoço, às 15h. Ao ser apresentado como testemunha, os advogados dos réus pediram para que ele não fosse ouvido por ser parente da vítima. O juiz, Daniel Leite Chaves, não acatou os argumentos da defesa, porém advertiu Pavesi do seu compromisso em dizer a verdade ao ser ouvido como testemunha de acusação e das implicações legais do seu depoimento.

O empresário, que já esteve exilado por alguns anos, contou que atualmente reside em São Paulo. Pavesi lembrou o dia do acidente do filho, quando ele caiu no prédio onde morava. Ele explicou que estava fora de Poços de Caldas e que foi contatado por telefone, retornando à cidade imediatamente.

Já em Poços, o pai disse ter sido informado que o quadro de saúde do filho tinha piorado. Ele manifestou a vontade de doar os órgãos, porém advertiu que só ocorreria caso houvesse morte cerebral. Isso porque, segundo Pavesi, a condição de Paulinho não era definitiva para ser considerado doador quando retiraram os órgãos. O pai também explicou que só descobriu a irregularidade da doação algum tempo depois, chegando, inclusive, a presentear com placas de prata os médicos pelos cuidados que eles tiveram com o filho.

Pavesi explicou que as suspeitas de que algo estava errado vieram quando ele recebeu a conta do hospital e descobriu que estavam cobrando por exames e medicamentos incompatíveis com o tratamento do filho. Alguns procedimentos foram até realizados após ele receber a notícia da morte cerebral de Paulinho. Esclareceu ainda que, a partir disso, foram abertas comissões de investigações e processos que renderam a ele ameaças e o obrigaram a se exilar na Itália. Como resultado, também foi realizada a exumação do corpo do menino, que constatou a remoção de órgãos não autorizados.

Em seu depoimento, Pavesi ainda apontou que o esquema criado não se valia apenas da captação irregular de órgãos, mas também beneficiaria receptores fora da lista oficial de espera, tendo, inclusive, uma delas recebido órgãos de Paulinho.

Sobre os médicos sentados no banco dos réus, o pai os apontou como sendo aqueles que atenderam a vítima quando ela chegou à emergência de um hospital particular, há cerca de 100 metros do prédio onde moravam.

Pavesi, em seguida, respondeu aos questionamentos dos advogados. O depoimento foi finalizado às 17h10.

Após as declarações presenciais do pai de Paulinho, outras testemunhas estão sendo ouvidas por vídeo. Ainda não se sabe se os réus prestarão depoimento ainda hoje ou se o juiz optará por suspender o julgamento.

 

O caso

A acusação dos quatro médicos é de homicídio qualificado do menino Paulo Veronesi Pavesi, ou Paulinho, como ficou conhecido, na época tinha 10 anos, e pela remoção dos órgãos e tecidos em desacordo com a lei nº 9.434/97, conhecida como Lei de Transplantes.

Decisão do Tribunal de Justiça de Minas Gerais (TJMG) remeteu o processo para a capital, após pedido de desaforamento solicitado pelo Ministério Público, sob o argumento de que a população de Poços de Caldas estaria corrompida pelo bombardeio midiático do caso.

Embargos, recursos e pedidos arrastaram o processo até agora. O STF decidiu em outubro do ano passado pela anulação da sentença que já havia condenado os réus. Assim, os médicos puderam ir a júri.