“O protagonismo da mulher e o respeito ao momento dela foi sendo retirado de nós ao longo das décadas” é o que Eliza Sampaio Quinteiro considera sobre o parto. Eliza é doula em Poços de Caldas e explica que recuperar esses aspectos é uma das principais buscas da assistência humanizada.
O parto é um momento marcante na vida das mulheres e uma experiência singular para cada uma delas. Entre dores e hormônios, outro princípio da assistência humanizada é a individualização do cuidado. A busca para atender bem e de forma específica às mães e aos bebês é marcada também pela medicina baseada em evidências, que tende a abandonar procedimentos feitos por rotina e que não têm comprovação científica para serem tão amplamente utilizados.
Benefícios
Neste modelo, as mães que optam pelo parto humanizado sentem os benefícios de forma natural. Eliza explica que há recomendações da Organização Mundial da Saúde (OMS) e do Ministério da Saúde para que a mulher entre em trabalho de parto, já que este é o único meio certeiro para indicar que o bebê está pronto para nascer. Porém, a orientação não é respeitada em procedimentos como a cesárea eletiva.
Além de um número menor de intervenções, passar pelo trabalho de parto e todas as descargas hormonais traz benefícios que se estendem ao pós-parto. Nas mulheres que tiveram partos naturais, a involução do útero acontece mais facilmente. Elas ainda têm mais facilidade na descida do leite, menor índice de depressão pós-parto e menores riscos de hemorragia.
Poços de Caldas
O Brasil foi considerado o país campeão em cesárias em 2015, segundo a OMS. Na contramão do cenário brasileiro, em Poços de Caldas o número de mulheres que optam por partos naturais humanizados tem aumentado, segundo Eliza.
Na legislação municipal está previsto o direito da mulher de ser acompanhada pela doula, se assim desejar. Existe também o Plano Municipal para Humanização do Parto, que aborda todas as questões que a OMS e o Ministério da Saúde colocam como procedimentos recomendados e não recomendados, além de grupo de apoio e discussões na Câmara Municipal sobre o assunto.
Estes avanços para humanização do parto fizeram com que a assistência se tornasse realidade para mulheres poços-caldenses. “Eu não tinha ideia do que era parto humanizado. Achava que fosse aquele tipo de parto que a Bela Gil teve e que fosse super inacessível”, conta a estudante de psicologia Mariana Tolomei. “Quando eu descobri o círculo materno e fui no primeiro encontro, que era sobre as fases do trabalho de parto, eu vi uma luzinha no fim do túnel. Vi que eu, mesmo sem condições de ter uma equipe em casa me assistindo, também poderia ter um parto respeitoso e humanizado” pontua.
30 horas
Apenas depois de 30 horas em trabalho de parto, o filho de Mariana veio ao mundo. Tendo recebido a assistência humanizada, ela conta que nem a demora a desmotivou. “Como eu tinha as doulas do meu lado, a demora do meu trabalho de parto não foi um problema. Elas me orientaram sobre a hora certa de ir pro hospital, aí pude curtir boa parte das minhas contrações no conforto de casa. E essa orientação também evitou possíveis intervenções desnecessárias, que poderiam acontecer se eu fosse ao hospital no início do trabalho de parto”.
Da demorada experiência, Mariana guarda boas lembranças, marcadas pelo respeito e o protagonismo que ela e o filho tiveram neste momento. “A equipe que me atendeu foi muito atenciosa, em especial a médica, que aceitou tudo que foi pedido no meu plano de parto e me tratou todo o tempo de maneira humana, deixando que eu protagonizasse meu parto.”