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Poços de Caldas

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‘Um Urbano mais Humano: a água e seus poços’

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whatsapp-image-2016-11-08-at-16-41-36Penso em água, penso em Poços e logo penso: onde está a água? Onde está a agua que cura, que bebemos, que nos lavamos, que comemos (para a cocção e preparo de alimentos), enfim cadê a água?

Penso então na água e na sua possibilidade pública. Onde está? Em uma cidade cujo nome deriva de lugares onde se armazena a água, logo penso: onde estão os poços de Poços de Caldas? Estariam em Caldas? Não. Também não estão lá.

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Mas em Roma tomamos água em quase todas as esquinas, em bicas corridas, em fontes, fontanários. Mas na cidade dos poços que eram de Caldas, não há tantos poços. Em Poços de Caldas há uma raridade, a água termal, quente, com cheiro característico, com textura única e suave, que escorre e se esconde.

A rua a esconde, a rua nos dá a velocidade que não nos deixa perceber o ‘raro e precioso’.

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Raro e precioso elemento natural que brota do solo e forma poços de banhos, de lamas. Mas lama é suja e deve ser limpa assim como a água límpida e saneada nos balneários a nós concedidos como monumentos comemorativos e encantadores do espaço público.

Foi em 1930, com as grandes obras do Palace Cassino, palace Hotel e Thermas Antonio Carlos  a consolidação desse espaço que hoje guarda nossa água termal, rara e preciosa. Mas nós, poços-caldenses, nos apropriamos da água rara e preciosa em nosso cotidiano?

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E quanto a nós, arquitetos e urbanistas, nos apropriamos da água rara e preciosa em nossos projetos e intervenções? E nós, gestores públicos, nos apropriamos da água em nossas políticas públicas locais e regionais?

Sabemos onde está nossa água? E então, se resolvermos trazer a água para nosso dia a dia? Como faremos?

Penso então no espaço urbano como elemento estruturador do processo de aproximação e do resgate lúdico da água no espaço público, uma ação no campo da identidade local.

Me lembra uma autora, Ana Fani Carlos, geógrafa brasileira, que em seus escritos sobre o espaço público e o sentido de valor da terra, alerta sobre a qualificação deste espaço e como podemos encará-lo.

Pensar o espaço público somente como mercadoria talvez seja o grande equívoco de nossas cidades.

Se começarmos a pensar o espaço público e que este depende da existência de um comércio desenvolvido em conjunto com o espaço urbano, podemos então entender o espaço urbano como algo mais.

Esse algo mais, raro por essência como nossa água, termal, mineral e potável, é exatamente o que poderíamos potencializar como algo que não se tem em todo lugar, e assim transformar nossa Poços dos poços novamente. Este é o resgate necessário para a identidade da cidade, para além da mercadoria e como espaço público, coletivo por sentido e excelência.

O espaço público depende muito da existência de um comércio desenvolvido em conjunto com o espaço urbano. Cabe ao urbanismo favorecer a animação urbana integrando o comércio em suas

concepções. No entanto precisa (re)conhecer o Lugar , sua essência, suas possibilidades e potencialidades, dentro da dinâmica existente. A qualificação deve partir do que existe e potencializá-lo como raridade. Estabelecer o que é próprio do lugar e partir disto como elemento projetual da intervenção.

Lugares que podem ser (re)significados a partir do existente, sem uma“refabulação ideológica”, do que pode ser reconhecido como raro, onde tudo vira consumo e mercadoria como símbolo vazio e esvaziado de sentido.

Deve proporcionar a diversidade e portanto ser flexivel e com características locais, diferente dos novos espaços que são criados para o convívio e as práticas sociais na cidade que se constituem em espaços equivocados, que se traduzem em estruturas descoladas do tecido urbano. Se parecem mais com parques temáticos fechados sobre si mesmos, se configurando em apropriações excludentes do espaço público.

Então, o espaço público que dá sentido e lógica à cidade é aquele que consegue estabelecer as relações da vida cotidiana. A apropriação coletiva dos espaços livres nas cidades contemporâneas perpassam pelas relações entre o edificado e o não edificado. Há uma emergência no (re)conhecimento da cidade como este espaço de trocas, de intercâmbio, onde a diversidade trata do uso como dinâmica coerente do dia a dia. Ser um espaço para todos não pode ser um único espaço, monofuncional, de características únicas e homogêneas.

A compreensão do espaço e de sua produção estabelece uma prática que se constrói democraticamente e que deve fazer parte da gestão democrática da cidade.

Essa é a contribuição do espaço público na formação de cidades mais humanas, que responde a complexidade da vida na cidade contemporânea.

Seria esse o papel do urbanismo contemporâneo, o de reconhecer aquilo que é local como premissa para intervenções urbanas que resgatam, reconhecem e reestruturam espaços e cidades a partir de sua história, sua essência e do povo que a usa.

Poços de volta aos poços públicos das Caldas numa grande celebração das águas e sua dança no espaço público da cidade. Seremos então Poços de Caldas novamente.

* Adriane Matthes é arquiteta e urbanista – mestre e doutoranda em urbanismo  pela PUC Campinas – e professora do curso de Arquitetura e urbanismo da PUC Minas campus Poços de Caldas.

 

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