Os que se consideram ou se auto reconhecem como “esquerdas” (e só uso o termo porque tem gente que adora rótulo) já devem ter percebido que o resultado das últimas eleições no país foi o recado inexorável, intransferível, inegociável de que velhas estratégias não têm mais o respaldo da maioria da população.
Contudo, existem ainda os que se agarram a qualquer possibilidade de permanecerem vivos, muitas vezes respirando com o “nariz” alheio. Assim, aportam o bote a uma causa qualquer e que, no presente momento, tem o nome de “Juventude”, como um “ barco salva vidas”, em meio ao naufrágio oriundo da seca dos sufrágios da representatividade popular.
Por um lado, realmente é muito salutar que a juventude ocupe seu espaço contra o “Capitalismo Selvagem”, “Fora Temer”, “Contra a PEC 241”, porque, conforme afirmou o jornalista e socialista francês Georges Clemenceau (1841-1929), “um homem que não é socialista aos 20 anos não tem coração e um homem que seja socialista aos 40 não tem cabeça”. Aliás, deveríamos realmente incentivar a participação de todos os cidadãos, independentemente da sua faixa etária, sexo, gênero, classe social, whatever.
Por outra análise, existe a consciência oportunista de determinados grupos, movimentos e partidos políticos que a juventude (sendo providencialmente genérico) ainda é terreno fértil para plantio de “sementes” ditas como “revolucionárias”, a “favor da “educação”, da “saúde” e do “bem comum”, mesmo que não se saiba lá muito bem o que isto signifique.
Feitas estas ressalvas, não é de se espantar que muitos agora reclamem, exigem, e proclamem a participação da juventude nos rumos do país. Esta causa politicamente correta é assinada por todos aqueles que defendem a democracia como uma “forma de governo onde o poder é exercido pelo povo”, o que, claro, incluem-se os jovens. Valem, porém, alguns questionamentos.
Por que somente agora se lembraram da juventude? Por que o “silêncio conivente” dos últimos anos? Por que não pediram a participação da juventude na porta das escolas (e não dentro delas) durante o atraso dos recursos do Pronatec, nos cortes no orçamento da educação, nas notas baixas nas avaliações do ensino básico ou mesmo na interrupção do Fies?
Por que não se comenta sobre os quase 10 milhões de jovens brasileiros (de 15 a 29 anos) que pertencem à chamada “Geração Nem, Nem, Nem”, nem trabalham, nem estudam e nem procuram emprego? Quais serão os frutos gerados por estas “sementes do amanhã”?
Os problemas do país são muitos e a educação e a saúde estão entre aqueles que exigem maior atenção de todos nós.
Mas, seria muito bom, se começássemos a arrumar a nossa própria casa. Ao invés de “Fora Temer” que tal começar por colocar os jovens para melhorar a própria escola onde estudam?
Ao invés de ser contra a “PEC”, que tal incentivar campanhas movidas pela própria juventude contra as drogas que teimam em se instalar dentro das próprias escolas?
Que tal ver como está o “quintal” da educação e da saúde dentro de cada município e gerar internamente a força motriz que pode fazer a diferença? Que tal solicitar a cada jovem que conheça a cidade onde mora, participe das suas transformações, assuma a sua responsabilidade, lute pelos seus direitos e cumpra com suas obrigações?
Sem desqualificar a luta pelos problemas macros do país, o espaço da juventude é verdadeiramente construído no terreno da esperança que fica ali no fundo do quintal de cada moradia, em cada rua, em cada bairro, em cada escola.
É ali, com certeza, que plantamos as sementes do amanhã.
“Nós podemos tudo, nós podemos mais. Vamos lá fazer o que será” (Gonzaguinha).
*O autor é jornalista, professor universitário, escritor, palestrante e consultor de marketing empresarial.