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O que as ocupações nos dizem sobre a Educação?

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andrea-benettiDesde o ano passado, estudantes secundaristas nos têm feito experimentar algo muito mais intenso do que qualquer artigo de lei que define participação social de adolescentes na vida comunitária poderia ter feito com tanta intensidade. Sob a ameaça de fechamento de dezenas de escolas de Ensino Médio no estado de São Paulo, estudantes iniciam movimentos de ocupação dos espaços escolares. Inauguram um movimento social que ultrapassa e muito apenas a luta para que suas escolas permaneçam abertas. E elas permaneceram.

Há pouco mais de um mês, o movimento de ocupações se reinicia, dessa vez vindo com uma força gigantesca a partir do estado do Paraná e se estende por diversos estados do país. Estudantes adolescentes protestam contra a PEC que congela investimentos públicos e contra a chamada “Reforma do Ensino Médio”. As críticas se estendem para desde a falta de consulta às comunidades escolares e profissionais da educação, até a retirada de disciplinas formadoras de criticidade da obrigatoriedade do currículo e até da Educação Física, além da desnecessidade da formação licenciada de professores, entre outras aberrações.

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Mais do que a detenção sobre as críticas que impulsionaram as ocupações, elas em si são o que nos importa para abordar as questões ligadas à adolescência que buscamos neste texto. Comumente, nossa sociedade tem imensa dificuldade em lidar com adolescentes, que são entendidos como rebeldes, dorminhocos, não se interessam por nada além da descoberta do sexo, vivem de internet, entre outros problemas diariamente ouvidos por quem lida com adolescentes. Basta se sentar na sala de qualquer Conselho Tutelar do país para ouvir os desentendimentos em famílias, pais querendo “entregar” os filhos adolescentes ao Estado, desinteresse pelos estudos, fugas de casa, uso de drogas.

Ao assistir o que ocorre nas ocupações, entretanto, passamos a perceber jovens cuidando do espaço escolar, cozinhando, organizando-se em equipes de trabalho, cuidando uns dos outros, articulando-se para negociar os objetivos das ocupações, organizando aulas. Entrar em uma escola ocupada é experimentar a realidade que jamais conseguimos oferecer a estes adolescentes e essas talvez sejam as maiores dores e revoltas da sociedade quanto às ocupações: eles fizeram melhor que nós.

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Fizeram melhor movimento social do que nossas articulações e conchavos políticos sujos e ocuparam o espaço que é deles. Organizaram as aulas de forma a protagonizar o aprendizado e contextualizar o ensino em relação à atualidade do país e de suas vivências como jamais conseguimos no espaço escolar tradicional. Organizaram seus espaços e os cuidados sobre si que tanto lhes exigimos no dia a dia, muitas vezes sem sucesso. Mostraram a responsabilidade que exigimos deles em relação à construção de uma sociedade melhor e de uma educação de qualidade. E nossa cara está no chão. Nossa cara de educador, nossas caras de pais e mães, nossas caras de políticos. Nossas caras de pau de quem exige protagonismo sem permitir que os meninos abram a boca em sala de aula. Nós que exigimos respeito, mas que nunca lhes respeitamos enquanto seres humanos e principalmente, como parte ativa do processo de educação. Nós que sabemos que jamais convenceríamos os adolescentes a perderem seus finais de semana para ficar dentro da escola, deixar seus namorados do lado de fora e cozinhar, lavar, organizar e ter aulas, sofrendo ameaças e pressões de toda parte.

Se é muito provável que o atual governo esteja pouco ou nada disposto ao diálogo e por isto mesmo e pelos conchavos dos jantares oferecidos, a PEC deva ser aprovada e a MP engolida, por outro lado há algo gigantesco saltando aos olhos da sociedade brasileira. Mesmo quem está incomodado com as ocupações sabe que o Brasil passa por uma amostra viva, um laboratório natural de vivências nas ocupações em contraste absoluto com o sistema educacional atual, falido, e essa talvez seja a maior riqueza que as ocupações trazem ao país.

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De nada adianta aclamar o fim da educação bancária, que “deposita” conteúdo goela abaixo dos alunos, berrar por uma sociedade mais justa e fingir acreditar na juventude se o sistema educacional é feito exatamente para manter a sociedade como está. As ocupações, nesse sentido, têm feito por nós o que somos incapazes de fazer por simples engessamento: quebrar o sistema. A questão é que daqui por diante nossas desculpas se esgotaram e se sabemos da nossa incompetência em fazer do ensino um sucesso, da nossa incapacidade em lidar com a adolescência simplesmente porque somos sim, autoritários, e nossos discursos de protagonismo nunca saem do papel, eles nos mostraram exatamente o contrário.

Lidemos agora, sociedade, educadores, pais, com uma geração de autogestão, de movimento autônomo, de organização pedagógica alternativa e façamos de nossas falas diárias sobre educação um movimento verdadeiro de construção ao lado deles, com a presença deles, de uma escola mais justa. É isso, ou o sistema seguirá se decompondo e nos decompondo junto com ele.

*A autora é pedagoga, formada na Puc Minas pelo ProUni, e conselheira tutelar em Pocos de Caldas, regiões sul/oeste.

 

 

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