Pensar a cidade é pensar em um cenário local e próximo, mas nem por isso pouco complexo, já que a estrutura política e social de Poços de Caldas engloba aspectos múltiplos sob qualquer ponto de vista. No entanto, apesar das particularidades, acredito que qualquer gestão que considere verdadeiramente o povo durante o governo, também precisa desse mesmo povo atuante nos diversos papeis democráticos. Mas não é correto afirmar que isto basta, já que voltar o olhar para a população e os movimentos sociais implica em abrir mão de acordos e formas administrativas e financeiras já emparedadas em nossas prefeituras.
Quanto mais de povo tivermos inserido nos espaços, formais ou informais de administração, menor a chance de uma prefeitura que governe para poucos. Se me perguntarem se creio que elegeremos uma equipe verdadeiramente inclinada a governar de forma popular, considerando o cenário nacional inclusive, eu responderia que, mesmo em âmbito municipal, muito dificilmente, o que me remete a crer que a força do povo será ainda mais importante nesse processo que se iniciou dentro dos diversos movimentos, o de tentar dar voz a todos.
Qual tem sido o lugar das discussões de gênero e verdadeira consideração dessas vertentes de debate no âmbito da administração pública, por exemplo, se pensarmos em uma cidade em que morreram em um mesmo mês do ano passado, cinco mulheres assassinadas violentamente no município? Qual papel tem exercido a educação formal neste processo? Que passos temos andado para que as comunidades gay e lésbica da cidade tenham seus espaços garantidos, começando com uma escola pública que não lhes exclua?
Como lidar com uma cidade linda, mas que na prática exila a população negra e pobre para uma periferia verdadeiramente fora das vistas do centro da cidade? E por que estas discussões não chegam a âmbito político e social real, em um sentido de enfoque para o que ainda nos falta construir, quando tratamos de humanidade? Diversos conselhos e conferências não bastam, é necessária a consideração da diversidade humana na política administrativa e legislativa do município.
Não basta possuir dois Conselhos Tutelares e dezenas de centros de educação infantil, é preciso que as famílias deixem de ser tuteladas em prazos médios. Poços de Caldas não pode admitir famílias inteiras sendo acompanhadas por políticas sociais há dez, quinze anos, mas que não estão inseridas em programas sérios de habitação, trabalho e renda, porque as políticas de assistência social devem ser temporárias e verdadeiramente promover as pessoas de forma a lhes garantir o mínimo de autonomia. A intervenção do Estado não pode ser eterna nas famílias pobres, a invasão à intimidade dessas famílias precisa ser evitada ao máximo, em respeito a estas pessoas. Nossa cidade precisa de atenção nos bolsões de pobreza da Zona Leste e Zona Sul!
Dessa forma, sonho com o dia em que a realidade social da cidade será trazida à luz, sem que pese em nossa grande fama de cidade turística sem problemas aparentes! Que o cuidado com as praças e jardins do centro da cidade seja tão importante quanto os espaços de lazer na periferia. Que os profissionais da educação sejam valorizados à altura de uma educação emancipatória e de cunho social. Que a mulher ocupe seu espaço, que o povo negro da mesma forma e que a diversidade que nos constitui também passe a fazer parte de uma nova visão de cidade, menos fantasiosa em sua imagem luxuosa dos antigos cassinos e mais consciente dos processos marginais de construção social!
*Andréa Benetti é pedagoga, formada pela Puc Minas pelo ProUni, e conselheira tutelar em Pocos de Caldas, regiões sul/oeste.