A “Operação Canaã – A colheita final”, desencadeada pela Polícia Federal nesta terça-feira (6) terminou com uma pessoa presa em Poços de Caldas e um restaurante fechado. A ação teve como foco uma seita religiosa, “Traduzindo o Verbo – A verdade que Marca”, acusada de induzir fieis a doar seus bens e trabalhar como escravos.
Com o apoio do Ministério do Trabalho, a operação foi desencadeada em três estados. Em Minas houve operação em Contagem, Betim, Andrelândia, Minduri, Madre de Deus, São Vicente de Minas, Pouso Alegre e Poços de Caldas. No sul de Minas 13 pessoas foram presas, uma delas em Poços de Caldas. Segundo o delegado, Cláudio Flores, a terceira fase da operação foi necessária após as equipes de Varginha terem identificado que a seita não tinha parado suas atividades após as ações de 2015 e ainda estava estendendo suas atividades no Sul de Minas e na região metropolitana de Belo Horizonte, com a aquisição de grandes fazendas na Bahia e ainda que estavam de olho em grandes terrenos no estado de Tocantins.
A pessoa presa em Poços não teve o nome divulgado, mas é gerente de um restaurante local de alto padrão, o Poços Grill. Ela seria a líder da seita. O estabelecimento não remunerava os funcionários, segundo a investigação, por isso o trabalho é considerado ‘escravo’.
O restaurante foi pré-interditado, e caberá à prefeitura concluir o processo de interdição.
Com a prisão da líder local e o fechamento do estabelecimento os fieis permanecem na cidade, vivendo nas chamadas casas comunitárias. A situação deles será analisada pelo Ministério do Trabalho, que vai visitar esses imóveis. “O procedimento do Ministério do Trabalho é primeiramente identificar, conversar com os fieis, o que já aconteceu nesta terça-feira, e o afastamento dos líderes, que vinham exercendo o papel de dominância. O Ministério do Trabalho vai voltar, até sexta-feira, para uma segunda conversa e dizer pra eles que os estabelecimentos estão fechados e que eles não têm mais onde trabalhar, que a comida não vai chegar, além de fazer a rescisão do contrato de trabalho e dar entrada no processo de seguro desemprego, que garante um meio de sustento para esses trabalhadores por alguns meses para que possam voltar para às suas origens e procurar um meio de subsistência”, esclareceu o delegado, durante coletiva.
Não foram divulgadas quantas pessoas estariam nesta situação em Poços de Caldas, mas as investigações apontam a existência de mil fieis, sendo que 600 deles estavam em Minas e os demais na Bahia e em São Paulo.
O trabalho para devolver às vítimas as suas vidas antes da seita será cauteloso. “Dá muita pena dessas pessoas porque elas acreditam que se saírem dali o governo vai colocar um chip na cabeça delas e que todos serão perseguidos”, esclarece Flores.
A operação já tem 13 pessoas presas, oito no Sul de Minas, em Poços, Pouso Alegre, Minduri e São Vicente de Minas, além disso 17 estabelecimentos foram pré-interditados. Nove pessoas estão foragidas, entre elas o Pastor Cícero, que seria o chefe da organização criminosa.
Investigação
As investigações apontam que dirigentes da seita religiosa teriam aliciado pessoas em uma igreja em São Paulo, capital, convencendo-as a doar todos os seus bens para as associações controladas pela organização criminosa. Para tanto, teriam se utilizado de ardis e doutrina psicológica, sob o argumento de convivência em comunidades, onde todos os bens móveis e imóveis seriam compartilhados. Depois de devidamente doutrinados, os fiéis teriam sido levados para zonas rurais e urbanas em Minas Gerais, Bahia e São Paulo, onde teriam sido submetidos a extensas jornadas de trabalho – sem nenhuma remuneração – em lavouras e estabelecimentos comerciais dos mais variados tipos, como oficinas mecânicas, postos de gasolina, pastelarias, confecções e restaurantes, entre outros.
O esquema vem sendo investigado há anos, mas mesmo com operações realizadas em 2013 e 2015, os líderes da seita continuaram a cometer crimes de exploração.
A promessa do grupo, conforme a PF, é que a “besta” estaria vindo e, dentro das comunidades, todos estariam protegidos no dia do apocalipse. Além de manter trabalhadores em condições de escravos, os líderes da seita religiosa são investigados por tráfico de pessoas, estelionato, organização criminosa, falsidade ideológica e lavagem de dinheiro.