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Durante todo este mês foi possível ver campanhas com o laço amarelo, chamando a atenção para um tema bastante sério: suicídio. Além do assunto estar em alta nas redes sociais, em algumas cidades houve monumentos iluminados com a cor amarela, além de ações nas ruas, palestras e abordagens.

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O Setembro Amarelo, mês de prevenção do suicídio, foi criado em 2015 no Brasil pelo Centro de Valorização à Vida (CVV), juntamente com o Conselho Federal de Medicina (CFM) e a Associação Internacional para Prevenção do Suicídio (IASP), que busca estimular a causa.

O CVV é um dos principais mobilizadores do Setembro Amarelo. A instituição sem fins lucrativos atua gratuitamente na prevenção do suicídio desde 1962. O Centro realiza apoio emocional e prevenção ao suicídio, com atendimento voluntário e gratuito para todos que quiserem ou precisarem conversar. As conversas são sigilosas e podem ser feitas por telefone, e-mail e chat 24 horas.

 

Para psicólogo Anderson Loro, é importante analisar os contextos histórico, social e cultural do indivíduo (foto: Juliano Borges/Poços Já)

Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), nove em cada 10 casos poderiam ser prevenidos. O psicólogo Anderson Loro, que é colunista do Poços Já, afirma que para compreender melhor o assunto é fundamental analisar o contexto social, histórico e cultural no qual o individuo está. A partir daí, é possível identificar alguns fatores de risco, para então se pensar em prevenção em larga escala. “É um tema muito amplo, muito vasto. É preciso que estejamos mais atentos a alguns sinais que levam determinada pessoa a ter uma ideação suicida. Penso que se nos interessarmos e conversarmos sobre o tema já é um ótimo começo. Precisamos cuidar mais da nossa sociedade, não é de hoje. E repito, quando falo de sociedade, falo de nós mesmos”, comenta.

Posvenção

Alguns profissionais da área de psicologia não são adeptos ao Setembro Amarelo da forma como ele é habitualmente conhecido. A alegação é que não se pode prevenir algo que não se tem conhecimento prévio de como realmente funciona, age, e não é possível percorrer todo o histórico, como é o caso de doenças orgânicas. A psicóloga e psicanalista Roberta Ecleide de Oliveira Gomes Kelly defende que o ser humano, por ser muito singular, escapa de categorizações, sendo cada pessoa um individuo único.

“Quando a gente chega em doenças psíquicas a gente não sabe a história natural dela, porque nessa seara é o seu psiquismo que determina a forma da doença. Aí vão se criando catálogos, para tentar categorizar, mas o ser humano escapa, a singularidade escapa disso. Eu não sei qual é a historia natural dos suicidas, como eu vou fazer uma estratégia de prevenção? Prevenir suicídio sem saber o que é, é  quase uma leviandade. A gente começa a etiquetar e reduzir pra tentar lidar, mas no trato humano quanto menos a gente complexifica, quanto menos a gente se vira com a densidade humana, mais a gente erra. Porque aí a gente começa a criar uma série de estratégias que não favorecem justamente cada um descobrir quem é”, comenta.

Segundo Roberta, oferecer ajuda para quem se encontra em um momento difícil, não deveria ser feito somente em um mês específico. Ela entende que conversas e o apoio devem sempre valorizar a vida, o estar junto, o compartilhar. “Acho que a gente poderia  fazer uma discussão não do suicídio, do Setembro Amarelo, vamos discutir a vida, porque da vida a gente pode falar, da morte a gente não tem o que dizer. A gente não fica falando sobre suicídio porque isso levanta o véu, e tem pessoas que são frágeis e se elas acham que a vida delas não está boa, nessa hora bate o vento e elas acham que isso é a solução”.

Roberta Ecleide defende a posvenção (foto: Tatiana Espósito/ Poços Já)

Roberta defende o conceito de posvenção.  Ele é definido como qualquer forma de ajuda que aconteça após a tentativa de suicídio, com o objetivo de auxiliar os sobreviventes a viver mais, com mais produtividade e menos estresse que eles viveriam se não houvesse esse auxílio. Seriam ações de suporte e assistência para aqueles que são impactados pelo suicídio, que seriam os sobreviventes.

“Vamos falar da vida? Vamos falar de estar junto, porque o grande sentido da vida é estar com o  outro e cuidar  do outro,  só que  estar com o outro hoje em dia é difícil.  Ficar junto implica em tolerância. Tem tanta coisa pra discutir sobre a vida… Alguém morreu, vamos trabalhar com as famílias, como vão recosturar a vida, como que a gente vai reconstruir o nosso cotidiano, a nossa comunidade diante da falta dessa pessoa, elaborar o luto, elaborar perda, prantear a perda é fundamental. É preciso saber lidar com a morte e isso significa suportar a angústia que ela suscita. Claro que eu não sei por que as pessoas se matam, eu não tenho uma resposta, não existe um padrão, somos todos diferentes,  em nossa singularidade absoluta. Mas a posvenção é fundamental porque vamos voltar no ponto de partida, é um trabalho de vida”, finaliza.