Um acidente doméstico sofrido aos nove anos terminou com a visão do assistente legislativo Rodrigo Galhardi. Funcionário da Câmara Municipal de Poços de Caldas, ele aprendeu a lidar com a deficiência e superar as dificuldades. Hoje está nas redes sociais, responde mensagens no Whatsapp e tem perfil no Facebook. Apesar de se virar bem e tirar de letra muitas coisas, afirma encontrar obstáculos ao transitar sozinho pela cidade. “Quando se fala em acessibilidade, as pessoas pensam muito na acessibilidade arquitetônica. Em ter rampas, calçadas sem buraco, degraus com tamanho adequado, mas a gente esquece de falar da acessibilidade de comunicação. Por exemplo, não temos placas em braile informando o nome das ruas, não temos placas em braile nos estabelecimentos comerciais, não tem um sistema de orientação sonoro nos semáforos”, explica.
Por este motivo, Rodrigo evita andar sem companhia, especialmente por locais que não costuma frequentar. Quando o faz, precisa contar com a ajuda dos outros pedestres. “Apesar da gente se referir pela audição, num trânsito movimentado você tem dificuldade para saber de onde o carro está vindo e se ele vai parar ou não. Você precisa dessa referência sonora para saber como está o semáforo, se ele está aberto ou fechado para o pedestre. Algumas pessoas, quando veem que você está com uma bengala na mão, se aproximam para oferecer ajuda para atravessar a rua. Agora, se eu estou num cruzamento em que não tem tanto movimento de pedestre, mas tem movimento de carro, eu vou permanecer lá por um longo período de tempo, porque eu não sei como está o semáforo”, relata.
Anteprojeto
Problemas como esse motivaram o vereador Lucas Arruda (Rede) a criar um anteprojeto de lei para instalação de semáforos sonoros no município. O documento foi enviado ao Executivo após a sessão da Câmara desta semana. “Hoje, o deficiente visual não tem a liberdade de andar sozinho porque encontra muitas dificuldades. Então, a gente quer fazer uma série de propostas que vise melhorar essa percepção da cidade enquanto inclusiva”, pontua.
A ideia é que todo semáforo tenha uma espécie de poste ao lado, onde será instalado um botão que, ao ser pressionado, emite um sinal sonoro para indicar se o sinal está verde, vermelho ou amarelo. Num primeiro momento, seriam priorizados locais onde há maior fluxo de veículos e cruzamentos na área central.
De acordo com Lucas, esse tipo de projeto de inclusão já funciona em cidades como Curitiba (PR) e Belo Horizonte (MG), além de estar na Lei Brasileira de Inclusão. A proposta é que inicialmente seja feita a instalação experimental de semáforos sonoros pelo Centro e, caso dê certo, se expanda para outras localidades.
Os custos seriam arcados pelo próprio município, após estudo da possibilidade de implantação do projeto. Caso aprovado pelo Prefeito, o documento volta à Câmara, onde passa por votação.
Apesar de ainda não saber se vai dar certo, Rodrigo parabeniza a atitude do vereador. “Acessibilidade nada mais é do que oferecer a oportunidade para que as pessoas possam ir, vir e permanecer. Tem que oferecer para essas pessoas a garantia de que elas possam transitar pelas ruas sem nenhum tipo de problema. Implantar um dispositivo no semáforo que faça com que ele seja sonoro é uma ideia muito importante, porque vamos ter segurança ao transitar. Não vou ter medo de correr o risco de ser atropelado ou algo do tipo”, finaliza.