
Organizações sociais, ambientais e culturais do sul de Minas e região da serra da Mantiqueira lançaram um apelo ao Governo Federal contra os riscos da mineração de terras raras no chamado Planalto Vulcânico de Minas Gerais. O documento, intitulado “Terras Raras e Zonas de Sacrifício – O Planalto Vulcânico pede socorro”, foi encaminhado à ministra de Direitos Humanos e Cidadania Macaé Evaristo. O objetivo é denunciar os impactos ambientais, sociais e geopolíticos da chegada de empresas mineradoras estrangeiras.
Segundo a carta, duas companhias australianas planejam instalar grandes operações de extração e beneficiamento de terras raras em municípios como Caldas, Poços de Caldas, Águas da Prata, Andradas e Ibitiúra de Minas. O faturamento estimado ultrapassaria US$ 12 bilhões por ano, enquanto os orçamentos municipais representam menos de 0,5% desse valor. O que, segundo os signatários, deixaria as comunidades em situação de extrema vulnerabilidade frente ao poder econômico das mineradoras.
Risco geopolítico e militar
O documento também aponta que parte da produção teria como destino indústrias bélicas dos Estados Unidos e da Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte), em acordo firmado entre a empresa australiana Meteoric e a Ucore, vinculada ao Departamento de Defesa norte-americano e ao governo do Canadá. Para as entidades locais, esse vínculo ameaça transformar a região em alvo de disputas internacionais, contrariando a tradição pacífica dos municípios.
Impactos ambientais e sanitários
Outro ponto crítico destacado é a área de exploração, que inclui trechos da antiga mina de urânio da Indústrias Nucleares do Brasil (INB). O transporte diário de milhões de toneladas de argila poderia interagir com rejeitos radioativos e metais pesados armazenados no local. Aumentando, assim, os riscos de contaminação da água, do solo e de acidentes ambientais de grande escala.
As entidades alertam ainda para possíveis licenciamentos ambientais fracionados, que poderiam pulverizar a exploração em dezenas de cavas, prejudicando atividades econômicas tradicionais da região. Como a agricultura familiar, a produção de café vulcânico, a vitivinicultura, o turismo e o uso terapêutico das águas medicinais.
Reivindicações apresentadas
Na carta, os movimentos pedem que o Governo Federal intervenha com medidas urgentes, incluindo:
Criação de uma mesa de diálogo entre sociedade civil, empresas, ministérios e órgãos reguladores, com mediação do governo.
Apoio financeiro a universidades e organizações locais para realização de estudos técnicos independentes.
Criação de uma Câmara Técnica no Conama para regulamentar o licenciamento ambiental da mineração de terras raras.
Relatório do Ibama, CNEN e ANM sobre os riscos sinérgicos envolvendo rejeitos radioativos da INB.
Decreto federal proibindo o uso das terras raras brasileiras para fins militares, destinando-as exclusivamente à transição energética e ecológica.
Mobilização social
Mais de 30 organizações assinam o documento, incluindo o Movimento pela Soberania Popular na Mineração (MAM), o MST Sul de Minas, a Associação Poços Sustentável (APS), a ONG Planeta Solidário, bem como coletivos culturais da região. Para os signatários, a luta não é apenas ambiental, mas também pela soberania nacional, pela paz e pela preservação da qualidade de vida dos municípios afetados.
Organizações signatárias
- Aliança em Prol da APA da Pedra Branca
- JUSCLIMA Coletivo Climático
- MAM – Movimento pela Soberania Popular na Mineração
- Centro de Referência em Direitos Humanos – CRDH SUL
- MST Sul de Minas
- Associação Ritmos de Pensamentos Educacionais, Ambientais, Artísticos e Culturais (ARP), Caldas
- Cia Benedita na Estrada, Caldas
- PT de Caldas
- ONG Planeta Solidário, Poços de Caldas
- Associação Poços Sustentável – APS, Poços de Caldas
- Núcleo de Assistentes Sociais de Poços de Caldas e região
- Associação Verde Carinho, Poços de Caldas
- Marcha Mundial das Mulheres, Poços de Caldas
- Coletivo Mulheres pela Democracia, Poços de Caldas
- Casa Laudelina de Campos Melo, Poços de Caldas
- Escola de Capoeira Angola Resistência, núcleo Poços de Caldas
- Centro Cultural Afro-brasileiro Chico Rei, Poços de Caldas
- Cia Balafuda, Poços de Caldas
- Grupo Rasgacêro, Poços de Caldas
- Grupo de Estudos Teatro de Máscaras, Poços de Caldas
- Coletivo Fanfarra, Poços de Caldas
- Cia Nós de Teatro, Poços de Caldas
- TMPC – Teatro Musical de Poços de Caldas
- A família bicho, Poços de Caldas
- Cia Teatral Mundano, Poços de Caldas
- Associação Guardiões da Rainha das Águas – ONG GUARÁ, Águas da Prata
- Associação Vereda Cultural, Águas da Prata
- SOS Serviço de Obras Sociais de Águas da Prata
- Coletivo Kintal da Dita, Águas da Prata
- Sociedade Comunitária Renovação e Progresso (SCORP), Águas da Prata
- Coletivo Embaúba, Águas da Prata
- Associação Nova Cambuquira
- Sociedade Amigos do Parque das Águas – AMPARA, Caxambu
- Núcleo Agroecológico Terra e Raiz (Natra), Unesp, Franca
- Grupo de Pesquisas sobre Meio ambiente, desenvolvimento e crise do capital (GCrise), do CNPq, Unesp, Franca
- APAN-FÉ – Associação de Produtores de Agricultura Natural de Maria da Fé
- Instituto Sapucaí
- Instituto Planeta Plantar, São João da Boa Vista
- Cooperativa EITA (Educação, Informação e Tecnologia para Autogestão), Caldas