Nos últimos dez anos o Brasil presenciou a chegada de inúmeros artistas internacionais para todos os bolsos e culturas(!). Os shows de jazz e new jazz tiveram preços exorbitantes e, por isso mesmo, direcionados a um público especifico. Porém, como se especifica esse público? Cultura se mede pelo bolso?
Diana Krall não é uma artista mais cara do que um grupo como o Keane ou Evanescence, no entanto seus shows tinham os ingressos com valores no mínimo duas vezes mais caros do que os da banda inglesa. É preciso ter ensino superior, ser um profissional bem sucedido ou mais culto para ‘poder’ assistir Diana Krall e não ter nem um dos quesitos acima mencionados para ser fã de Keane ou Evanescence?
Provavelmente isso seja resultado de uma sempre citada sociedade capitalista, mas também pseudoelitista, separatista e preconceituosa. Por que quem mora em periferias não pode gostar de jazz e música clássica e quem mora em condomínios hermeticamente fechados não pode gostar de sertanejo e funk carioca?
Música nem sempre precisa ser assimilada de acordo com o meio em que se vive. A educação e formação de um ser humano se dá em casa, na escola, trabalho e no convívio com outras pessoas. Com a formação musical é a mesma coisa. Debaixo de um teto onde vive uma família de quatro pessoas é possível encontrar quem goste de estilos musicais díspares como rock’n roll e sertanejo. Ou funk carioca e bossa nova.
Gosto musical é igual a qualquer outra escolha na vida e, antes de mais nada, é uma reação orgânica! Quem gosta de amarelo não tem preconceito com quem gosta de azul. Por que o preconceito em relação a estilos musicais? Quem mora na periferia vive uma dura realidade de sobrevivência diária em que muitas vezes não cabem ‘cabecismos’ de Jobim’s e Caetano’s. E ainda assim é possível encontrar amantes das obras desses artistas nessa sociedade esquecida ou ignorada.
Antes de julgar o que os outros estão ouvindo devemos tentar entender ou conhecer a realidade em que eles vivem. Passando por esse processo haverá uma possível aproximação dessas sociedades e será possível adaptar valores financeiros/culturais para todos.
*Rodrigo Lee é filho de Deus; músico há 31 anos, vocal da banda VIVA LA VIDA!, atua também em duo, como DJ e na direção/organização de eventos musicais (contato pelo telefone 9-9987-5620)