Andrea, Alana, Aline, Camila, Tammy e Tuani. Essas mulheres têm algo em comum: morreram pelas mãos de um homem. Todas elas foram vítimas de violência extrema, em casos que chocaram os moradores de Poços de Caldas nos últimos anos. Mas nem sempre as agressões chegam à morte e, na maioria das vezes, não são divulgadas na imprensa.
A Delegacia de Atendimento Especializado à Mulher (DEAM) recebe mensalmente cerca de 100 boletins de ocorrências de violência contra mulheres. Em fevereiro foram 99, o que gera uma média de quase quatro casos por dia. Houve flagrante em 16 casos, com acionamento policial e condução dos autores à delegacia.
A reportagem do Poços Já fez uma entrevista exclusiva com a delegada Gisnéia Mirella Ramirez, titular da Delegacia da Mulher em Poços. É ela quem apresenta os números alarmantes. “Infelizmente ainda é crescente o número de vítimas de violência doméstica, seja por agressões físicas, ameaças ou ofensas”, pontua.
Por mês são relatados e enviados ao Ministério Público cerca de 60 inquéritos, de casos que foram investigados e remetidos à justiça para os demais procedimentos. A delegacia pede ainda de 25 a 30 medidas protetivas por mês. Em alguns casos essa ação é suficiente para por fim às agressões, sem a necessidade de inquérito e processo criminal, desde que não sejam casos de lesão corporal.
Esclarecer as mulheres é importante nesse processo, pois não é necessário levar o primeiro tapa para procurar a polícia. Ameaças, ofensas e quaisquer outros tipos de violência psicológica podem ser levados à justiça. Esse tipo de agressão, inclusive, representa a maioria dos casos recebidos pela Polícia Civil.
A delegada afirma que hoje as mulheres estão mais conscientes de seus direitos, já que diminuíram os casos de retratação por parte das vítimas. “Elas queriam em um dia e no outro não mais, era algo recorrente. Elas não sabiam exatamente o que desejavam para resolver o problema. Agora elas são melhor orientadas e a psicóloga, trabalhando de forma associada, vai proporcionar o esclarecimento e fortalecimento dessa vítima”.
Psicóloga de plantão
A delegacia de Poços de Caldas já contava com o auxílio de uma psicóloga para atender às vítimas, mas a partir desta semana o serviço será intensificado. A profissional vai estar disponível na unidade para atender as mulheres individualmente e em grupo.
“O atendimento ocorria duas vezes por semana e agora essa psicóloga será vinculada à DEAM. Ela vai atender de segunda a sexta-feira, inclusive com formação de grupos de trabalho. Isso vai dar mais suporte ao inquérito, já que a profissional pode nos fornecer um relatório do atendimento e da adesão dessa vítima ao trabalho de empoderamento e de fortalecimento, nos mostrando de que modo essa violência afetou essa mulher”, explica a delegada.
Casos que chocaram Poços de Caldas
A servidora pública Andrea Araújo de Almeida, de 34 anos, foi morta em janeiro de 2014 a mando do ex-companheiro, João Batista dos Reis, conhecido como João do Papelão, segundo as investigações. Ele teria pago R$50 mil pelo assassinato. A vítima desapareceu no dia 15 de janeiro quando saia do trabalho e falava com uma irmã ao telefone, que ouviu quando os criminosos disseram que a estavam sequestrando. Como não houve o pedido de resgate, os policiais focaram na segunda linha de investigação. João Batista estava insatisfeito com o processo de
separação. Uma ação judicial, movida pelo advogado da vítima, determinava o pagamento de pensão alimentícia e a partilha dos bens. Isso não estaria agradando ao homem.
Ossos da servidora pública foram encontrados em uma lavoura na estrada que liga Poços de Caldas a Andradas. A Polícia Civil prendeu, na época, não só o suposto mandante do crime, mas também Ednilson Martins de Sousa, conhecido como Paulista, que teria iniciado a contratação dos matadores, e a mulher dele, Liliane Gonçalves da Silva, que seguiu com o plano após o marido ser preso, além de Luciano Monteiro Santos, o Galego, e Márcio da Silva Santos, o Negão, executores do crime.
O processo ainda segue na justiça. João do Papelão recebeu liberdade provisória, embora todos já tenham sido pronunciados a júri popular em 2014. A data do júri ainda não foi marcada.
Alana Silva Santos, de 25 anos, foi esfaqueada e queimada dentro da própria casa pelo companheiro em julho de 2015. Paulo Henrique de Lima, de 28 anos, chegou a fugir, mas foi preso ao sofrer um acidente.
Segundo as investigações, o casal teria se desentendido e Alana pediu a separação. Inconformado, Paulo comprou um galão de álcool e, após esfaquear a vítima, ateou fogo. O autor ainda abriu o botijão de gás antes de fugir. A filha do casal, de um ano, também estava na casa, mas foi socorrida por uma vizinha.
A PM chegou a apagar as chamas e tentou socorrer a vítima. Durante a fuga, Paulo bateu na praça do pedágio de Águas da Prata e foi preso após ter recebido atendimento médico. Ele permanece detido e já foi pronunciado a júri.
Não bastasse a violência contra a mulher, Marcos Francisco Pedrilho, de 22 anos, também não poupou a filha. Ele matou Aline Rosa da Silva, de 30 anos, e a filha deles, Tammy Caroline da Silva, de três anos, no dia 24 de junho de 2015.
As vítimas foram encontradas mortas dentro de casa após o autor procurar a Polícia Militar e dizer que havia matado as duas por asfixia. A Polícia Civil acredita que as mortes envolveram rituais de magia negra e que o padrasto da vítima, Carlos Henrique Ramos, de 36 anos, seria co-participante do assassinato e, por isso, também foi preso. Segundo as investigações, os autores teriam um caso e Marcos teria praticado os crimes para poder ficar com Carlos.
Marcos segue preso e se uniu em matrimônio no primeiro casamento homossexual de dois presidiários em Poços de Caldas, no ano passado. Marcos e Carlos também foram indiciados e serão julgados por júri popular, mas ainda não há data prevista.
Camila
Camila Carvalho do Rosário, de 21 anos, foi morta no dia 11 de março de 2010 pelo ex-companheiro Alessandro Franco. O autor a estrangulou e escondeu o corpo da jovem debaixo de um sofá na casa onde eles moravam, no Jardim São Paulo.
Franco foi preso no dia seguinte ao encontro do corpo e já foi condenado a 23 anos de prisão em um júri popular ocorrido em outubro de 2011. O casal tinha duas filhas, que ficaram com a avó materna.
O último caso foi o de Tuani Pereira Castilho, no dia 23 de fevereiro deste ano. O corpo foi encontrado pelos filhos, após ela ter sido morta pelo ex-companheiro, Osmair Pereira Brasil, de 28 anos, durante a noite.
Após se desentenderem a vítima foi golpeada com um espeto. Osmair alega ter sido acidente e diz que, quando deixou a casa, Tuani estava viva. Pela manhã um dos filhos da vítima procurou uma vizinha informando que a mãe estava deitada no chão, com sangue e gelada. Osmair foi preso horas depois, no trabalho.
Fotos
As fotos que ilustram esta série são fruto de um ensaio feito pelo Poços Já em parceria com o Grupo Andara de Artes e a Escola de Beleza Bardot.
Ficha técnica
Fotógrafo: Juliano Borges
Direção artística: Nando Gonçalves
Maquiagem: Franciele Tarabolle (Bardot)
Apoio: Secretaria Municipal de Cultura