Não é raro ver cães e gatos abandonados pelas ruas. Alguns até encontram abrigo no terreno baldio, no posto de combustíveis, no estacionamento e até no terminal rodoviário. Outros encontram pessoas que se compadecem e dão água e comida. Mas nem todos conseguem o que mais querem e precisam: um lar. Entregues à própria sorte, sobrevivem como podem, mas a realidade das ruas é dura. É aí que entram os protetores, pessoas que dedicam suas vidas à causa animal.
Em Poços de Caldas, vários grupos de proteção animal procuram dar uma vida melhor aos animais abandonados. A adoção e a posse responsável é sempre foco e isso inclui castração, cuidados veterinários, alimentação e, claro, muito amor. Infelizmente, não é isso que acontece sempre, portanto, o trabalho desses protetores é árduo.
A reportagem do Poços Já Cidade conversou com representantes de dois grupos de voluntários que amam a causa animal e se dedicam como podem (e muitas vezes como não podem) para melhorar a vida de centenas de bichinhos.
Conheça :
Movimento nas Patinhas
O Grupo Movimento nas Patinhas existe há sete anos e surgiu da necessidade de amenizar o sofrimento de animais abandonados e que sofrem maus tratos em Poços de Caldas. O Movimento nas Patinhas ainda não se estabeleceu como ONG, mas possui uma diretoria formada e CNPJ, além de contar com cerca de dez voluntários atuantes, que trabalham quase que diariamente na proteção animal, mesmo tendo suas profissões. Nas redes sociais, o grupo conta com quase oito mil seguidores.
De acordo com a voluntária e membro da diretoria, Ana Cristina Steigleder, ou Cris, como é mais conhecida, a maior atuação é feita através das redes sociais, já que o grupo não tem sede própria. Quando os animais são resgatados, os voluntários correm contra o tempo para conseguir lar temporário, por meio de pessoas dispostas a dar abrigo ao cão ou gato até que seja adotado definitivamente. “Nós realizamos tudo dentro do nosso possível e o impossível. Resgatamos, acolhemos, cuidamos, vacinamos, castramos e doamos. O que atrapalha e nos deixa muito insatisfeitas é o fato de não conseguirmos atender todos os casos, pois a demanda é muito grande e a cada dia aumenta mais”, comenta.
Cris conta que a maior dificuldade enfrentada hoje em relação à proteção animal é a falta de amparo legal nos casos de maus tratos. Além disso, o número de abandono na cidade é muito grande, o que dificulta conseguir novos lares. “Não temos adotantes para todos. As pessoas, infelizmente, dão preferência a animais pequenos, peludinhos, clarinhos, filhotes, ao passo que a grande maioria dos abandonados são animais de porte maior, adultos e pretinhos, isso no que tange aos gatinhos também. Sofremos também com o alto custo dos procedimentos veterinários, muitos cães são atropelados quando abandonados , a situação fica complicada e em termos financeiros é muito difícil darmos conta”, lamenta.
A protetora, que desde pequena cuida dos animais de rua, tem hoje 11 animais resgatados em sua casa. Mas já teve 37. No Grupo Movimento nas Patinhas há seis anos, ela revela um mundo ideal. “Queria que as pessoas tivessem mais consciência ao adotar um animal e que jamais os abandonassem. E outra coisa: um hospital público para animas carentes”, sonha.
União Movimento Animal
Outro grupo que reúne protetores de animais em Poços é o União Movimento Animal. Inicialmente criado como Ação Movimento Animal, o AMA, em 2012, alguns anos depois mudou de nome após a fundadora se desvincular do grupo.
Assim como o Movimento nas Patinhas, o trabalho do União é todo feito por voluntários, protetores que se dedicam como podem à causa. Na página do Facebook são quase 12 mil curtidas e cerca de 100 membros são protetores que atuam diretamente ajudando o grupo. Ali, diariamente, aparecem animais para adoção, abandonados, atropelados, vítimas de maus tratos, devolvidos e também pedidos de ajuda. Dessa forma, o grupo se organiza e auxilia nas adoções, doações de ração e medicamentos, divulga rifas para ajudar em tratamentos e cuidados de animais resgatados, e também animais achados e perdidos em Poços e em algumas cidades vizinhas.
Cristiane Benelli, advogada, é uma das voluntárias do grupo. Ela, na verdade, é coordenadora, mas prefere se colocar sem hierarquia, já que todos ali trabalham com o mesmo propósito. No grupo desde 2014, ela conta que o União já atuou muito com resgates e com voluntários oferecendo lar temporário. Com o tempo e a dificuldade em conseguir adotantes, isso foi diminuindo. “Nosso grupo é antigo e já foi extremamente atuante em resgates, mas nossos principais lares temporários acabaram. Quando entrei pro grupo eu tinha dois animais, hoje eu tenho dez, então hoje eu não posso colocar nenhum animal dentro da minha casa porque eu estourei a minha possibilidade. Isso aconteceu com a maioria dos lares temporários e fez com que o grupo tivesse menos acesso aos animais. Antes, como a gente era uma rede de lares temporários, todos os resgates que faziam a gente conseguia distribuir nas casas, hoje o que temos são bem poucos, exceção mesmo, porque o protetor faz tudo por amor e quando o animal fica muito tempo na casa ele acaba não conseguindo doar mais”, relata.
Cristiane conta ainda que denúncias de maus tratos em Poços são, infelizmente, bastante comuns e esse sempre foi o grande problema para o grupo. Há alguns anos, voluntários se dirigiam até o local onde supostamente ocorria maus tratos para averiguar a situação, mas sem respaldo e com a agressividade de alguns tutores, esse tipo de ação passou a ficar perigosa para os protetores. Atualmente, dois órgãos públicos podem atuar nesses casos, a Polícia Ambiental e a Polícia Militar, mas com a grande demanda nem todos os casos são atendidos.
Sobre as dificuldades de atuar na causa animal, Cristiane destaca que a objetificação dos animais é ainda um grande problema. Para ela, toda a população precisa se conscientizar a respeito da posse responsável e entender que na hora de adotar um animal é preciso estar ciente de que ele é um ser vivo, com necessidades e sentimentos.
“A população precisa entender que ao adotar precisa castrar, precisa vacinar, precisa ter posse responsável. O animal não tem condição de viver sozinho. Eu penso que quando você pega um animal, você tem que já planejar sua vida para uns 15 anos, que é o tempo médio que o animal vive. Nosso maior problema hoje ainda é o animal ser tratado como objeto, mas ele é um ser vivo, ele tem vontades, ele sente dor, se sente triste, se sente feliz, e as pessoas não costumam dar atenção pro sentimento do animal. No momento que ele vira um problema, as pessoas querem se desfazer. Enfim, hoje o que a gente tem é uma falta de responsabilidade geral de grande parte da população que precisa se conscientizar em relação ao animal em si”, finaliza.
Quem quiser conhecer ou ajudar os Grupos pode acessar as páginas Movimento nas Patinhas e União Movimento Animal no Facebook.