Se tem uma doença canina que causa pavor quando se ouve o nome, é a cinomose. Viral e altamente contagiosa, ela pode, inclusive, levar o animal à morte, ou então deixar pesadas sequelas. Lidar com a doença não é fácil, mas com paciência, amor e profissionais capacitados dando suporte, é possível enfrentá-la e permitir que o animal consiga ter qualidade de vida.
Dito, o mascote do Poços Já, enfrentou a cinomose. Encontrado perambulando pela Praça Pedro Sanches em uma noite fria de junho, ele chegou com alguns sintomas de que algo não estava bem. Além da tosse e do cansaço, havia também secreções nos olhos e no focinho. Já na primeira consulta, na clínica Núcleo Veterinário, havia a desconfiança de que pudesse ser cinomose, o que foi confirmado com o exame de sangue.
A partir daí as idas ao veterinário tornaram-se constantes. Dito passou por todas as fases da doença, com sintomas respiratórios, gastrointestinais e neurológicos. Esse último trouxe convulsões em meio à redação do portal, uso de remédios fortes, tremores, falta de coordenação, vocalização e, por fim, paralisia dos movimentos.
Fisioterapia e acupuntura
Com isso, toda a equipe do Poços Já começou a buscar alternativas, tratamentos que pudessem dar mais qualidade de vida ao Dito. Aí entra a Gatino Fitness, clínica pioneira em reabilitação animal que oferece serviços de fisioterapia e acupuntura.
Com o sistema nervoso central atingido e sem o movimento dos membros inferiores e superiores, Dito passa pela primeira avaliação em setembro de 2018, após o término da fase de transmissibilidade da doença, e logo começa a reabilitação com a equipe da Gatino Fitness. Ali, duas vezes por semana, Dito é atendido com tratamento multidisciplinar, que inclui eletroterapia, massoterapia, hidroterapia e acupuntura. Tudo visa reduzir qualquer possível dor e proporcionar melhores condições para recuperar o movimento, força e massa muscular.
“A contratura muscular, o fato dele não andar, causa dor, então a fisioterapia engloba todos esses tratamentos e, aliada à acupuntura, foi fazendo com que diminuíssem a contratura e os espasmos. Eu precisava de quatro pessoas para segurar o Dito, eram oito mãos ali e agora ver ele andando é ótimo. É claro que ele ainda precisa de tratamento porque a coordenação motora fina ele ainda não tem, mas isso é resultado de muito empenho, não só da equipe de trabalho, mas de vocês, tutores, que tiveram muita paciência e empatia e não mandaram eutanasiar, o que acontece, e a gente não critica quem faz isso, acontece por falta de conhecimento e também por falta de empenho financeiro, porque um tratamento desses é muito caro. Além da fisioterapia e da acupuntura, tem o acompanhamento com clínico geral, com as medicações, então são vários fatores”, explica a médica veterinária Maura Dias Adriano.
Dra. Maura afirma ainda que amor e paciência são a chave para atravessar os piores momentos. “A cinomose é uma doença muito difícil, com alta taxa de mortalidade e morbidade e o animal se torna totalmente dependente, as sequelas não permitem que ele ande, que se alimente sozinho. Ele fica um animal totalmente dependente do seu tutor. Então as pessoas que estão com ele são muito importantes, porque o animal vai vocalizar muito, como Dito vocalizava, e isso é muito difícil, não é todo mundo que aguenta essa fase”.
Com toda essa atenção, carinho e tratamento, Dito vem apresentando evolução no quadro. Os profissionais alertam que sempre pode haver recaídas, como problemas gastrointestinais que geram perda de peso e consequentemente de massa muscular. Além disso, é um tratamento a longo prazo, sem previsão para alta, já que, como alguns neurônios foram destruídos pela doença, o animal precisa aprender a usar outros para desempenhar as mesmas funções. Como explica dra. Maura, o tempo de tratamento é relativo e também depende da resposta do cão. “Tem paciente que não evolui, mas o Dito é um cachorro que quer fazer. Nas sessões a gente coloca pacientes juntos, porque um vê o outro e isso incentiva, a fisioterapia não pode ser sem graça. Mas tudo é assim, ele melhora, estaciona, melhora de novo e depois estaciona mais, mas o organismo é assim. A gente tem técnicas muito específicas pra fazer, ele tem que andar em superfícies irregulares para treinar e aprender a levantar menos as patas, porque a noção de espaço dele é diferente agora. Então, os treinamentos pra isso são mais difíceis, a reprogramação é mais complicada, mas ele ainda tem muito a melhorar, a evoluir” diz.
Células-tronco
Desde o seu resgate, Dito é acompanhado pela equipe da Núcleo Veterinário, onde passa por consultas regulares e recebe todas as receitas medicamentosas necessárias para conter as convulsões e outras necessidades que surgem no decorrer das fases da doença. Hoje não toma mais anticonvulsivo, mas é monitorado de perto, já que ainda podem haver outros episódios de convulsão.
Ali, sob a supervisão do médico veterinário Thiago Maijer de Biazi, uma opção revolucionária e bastante eficaz foi sugerida: tratamento com células-tronco. O veterinário explica que a célula-tronco nada mais é do que um potente anti-inflamatório. A regeneração celular acaba até sendo um potencial secundário, já que o maior poder das células-tronco é realmente o de agir de forma bem mais eficaz do que qualquer outro medicamento conhecido. Além disso, a célula tronco é quimio-taxiada, ou seja, é como um anti-inflamatório inteligente, já que quando aplicada ela procura o local da lesão e lá age diretamente.
Em casos de sequelas de cinomose, a terapia com células-tronco traz resultados bastante positivos. Dr. Thiago enfatiza que o tratamento é personalizado e a forma de aplicação e a quantidade de células depende do quadro do animal. “Tudo tem que ser levado em consideração quando a gente vai fazer um tratamento, porque se a gente tem um animal com inflamações em diversas partes do corpo, a gente vai ter que usar mais células-tronco, mas isso é uma questão do laboratório, o nosso papel é identificar, passar o caso clínico, e aí eles enviam as células já preparadas para aquele animal, então é bem especifico.”
O veterinário ressalta que esse tipo de terapia só é usada quando a doença já foi tratada, tendo restado somente as sequelas. A forma de aplicação depende do tipo de sequela e, no caso do Dito, foi utilizada a epidural. A indicação média para casos de cinomose é de três aplicações, mas a grande dificuldade do momento são os custos. “Sempre tem essa indicação pra gente ver até onde a célula vai conseguir trazer melhoras, no caso do Dito com uma aplicação a gente conseguiu fazer ele melhorar tanto, às vezes a coordenação dele pode melhorar com outras aplicações, mas a gente sabe que o que limita muito é o valor. Ainda é um produto caro, vai ter média de aplicação de R$ 1300, a R$ 1500, esse é o valor normal de uma aplicação. Em alguns casos a gente consegue um pouco de ajuda pelos laboratórios, mas a maioria dos casos é mais ou menos isso. A gente sabe que o problema da cinomose é que ela causa uma inflamação e são poucos remédios que chegam ao sistema nervoso, aí não tem muita opção, a gente tem que dar remédios fortes e assim vai indo. Agora com a célula-tronco a gente tem mais uma opção, é um pouco cara, mas eu tenho certeza que mais pra frente deve cair esse valor e ficar um pouco mais viável,” comenta.
Vitórias
A primeira vez que Dito caminhou na esteira durante a fisioterapia foi uma alegria só, tanto da parte da equipe da Gatino, quanto da família dele no Poços Já. O guerreiro estava lutando e, com muita dedicação, vencendo aquilo que a doença havia deixado. Depois da primeira aplicação das células-tronco, mais um momento de êxtase. Cerca de um mês após o procedimento, Dito deu seus primeiros passos sozinho. Cambaleando, caindo, mas levantando. E a cada dia vem evoluindo.
Hoje Dito tem mais autonomia, apesar de a coordenação motora ainda não funcionar muito bem. Quem olha pra ele vê um cachorro feliz, sapeca, que ama passear e até bem bravo com pessoas estranhas. A esperança de todos do Poços Já e dos amigos que acompanham sua jornada é que ele evolua cada vez mais, para ter uma vida que todo cachorro merece: saudável, feliz e rodeada de amor.
“Ele considera normal a vida dele, quem não considera normal é o ser humano que sempre acha que falta alguma coisa, mas pra ele a vida é normal, a vida dele está melhor do que era. Sabe por que a fisioterapia funciona muito nos animais? Porque eles não sentem pena de si mesmos, eles não têm essa capacidade. A situação que ele estava, de não andar, incomodava, porque ele é um cachorro muito ativo, mas agora, na cabeça dele, a vida está normal, está ótima”, finaliza dra. Maura.
Rifas
Como o tratamento do Dito é bastante caro, a equipe do Poços Já tem feito rifas para ajudar com os custos. Uma rifa está em aberto e custa R$ 5 cada número. O vencedor leva 100 brigadeiros da Brigadeiro na Magrela e uma cesta de chocolates da Gostosuras da Edna. Quem quiser contribuir é só entrar em contato.