Cerca de 30 pessoas de Poços de Caldas participaram das manifestações em Brasília na última quarta-feira (24). O protesto, contra os avanços das reformas Previdenciária e Trabalhista e o atual presidente da República, Michel Temer, pediu eleições diretas.
O grupo, formado por trabalhadores e representantes sindicais, saiu de Poços de Caldas na terça-feira (23), às 15h, em um ônibus fretado pelo Sindicato dos Servidores Públicos Municipais (Sindserv) e Sindicato Único dos Trabalhadores em Educação de Minas Gerais (Sind-UTE/MG). Marieta Carneiro, presidente do Sindserv, foi antes. Ainda na terça-feira, ela entregou ao deputado Alessandro Molon (Rede) um abaixo assinado com cerca de três mil adesões, pedindo o fim das reformas.
O ônibus chegou em Brasília às 5h de quarta-feira e foi direto para a concentração, no Estádio Nacional de Brasília Mané Garricha. Os manifestantes receberam instruções sobre como deveriam ser as ações, sempre com foco para que não houvesse violências e agressões. “Todos ali estavam realmente empenhados em lutar contra toda a podridão política atual”, conta a historiadora Lilian Venceslau.
Às 11h os manifestantes saíram em caminhada até a Esplanada dos Ministérios. “Entidades sindicais e movimentos sociais ecoavam nas ruas gritos sobre o que manifestávamos: Fora Temer e Diretas Já, todos viramos uma voz só, uma voz convicta e uma voz que não se calou um só momento”, relata a historiadora.
O primeiro embate entre as forças policiais e os manifestantes ocorreu entre 13h e 13h30, segundo o professor Tiago Mafra. “Foi a primeira barreira que enfrentamos, a polícia exigia a retirada dos mastros e das bandeiras, objetos que representavam as entidades sindicais e levavam palavras de ordem. Entramos em um fogo cruzado, já que o pessoal de Poços estava na linha de frente. Por sorte ninguém se feriu, só sofremos com irritação nos olhos por conta das inúmeras bombas de gás lacrimogêneo”, explica.
O militante conta ainda que os cerca de 200 mil manifestantes estavam orientados a não agir de forma violenta, mas a polícia não parecia ter os mesmos objetivos. “Eles apareceram com um aparato grande para coibir a aproximação de quem estava ali. Aquilo virou uma ‘Praça de Guerra’ em razão da ação desproporcional e desnecessária da polícia”, avalia.
A historiadora lembra dos momentos de maior dificuldade. Apesar da violência policial, ela relata que os manifestantes resistiram. “Nós resistimos e mesmo com todas as investidas da polícia, mesmo passando mal por conta dos gases que eram lançados contra nós e que nós deixavam com dificuldade de respirar e faziam arder nossos olhos, não nos calamos, resistimos, pois a nossa resistência era o que nos dava força total. A polícia então passou por trás dos ministérios e começou a atirar balas de borracha nos manifestantes, que aí começaram a revidar atirando pedras e paus. Revidamos porque estávamos sendo massacrados pela polícia, revidamos porque a nossa manifestação era pacífica e fomos recebidos com o pior que o Estado pode nos proporcionar. Helicópteros sobrevoavam o jardim do Palácio e jogavam bombas do alto, várias pessoas se machucaram, várias pessoas desmaiaram por conta do gás e pela extrema dificuldade em respirar com tanto spray de pimenta no ar”, explica Lilian.
Os poços-caldenses estão acostumados com manifestações bastantes pacíficas na cidade. Tiago lembra que o último confronto ocorrido aqui foi em 15 de dezembro de 2005, quando a população pedia a redução da tarifa de transporte público e a polícia teria jogado bombas, atirado com bala de borracha e utilizado a cavalaria. “Quem levou uma bala de borracha não esquece, até porque ninguém sai às ruas para causar desordem. Em Brasília, mesmo com todos os problemas, com certeza, valeu a pena ter participado. Conseguimos chamar a atenção para o avanço das reformas, que precisam ser paralisadas urgentemente, e pedimos pelas eleições diretas. Lamentamos apenas pela pela força desproporcional, pela ação contra os trabalhadores e contra deputados, como é o caso da deputada Luiza Erundina (PSOL) e do deputado Padre João (PT), que foram atingidos por bombas e gases, assim como outros lideres políticos”, avalia Tiago.
A presidente do Sindserv informou à reportagem do Poços Já que, além do grupo que ocupou o ônibus, outros sindicatos locais estavam presentes, como o dos metalúrgicos e dos bancários. “Poços se fez representar contra as reformas e o atual governo. Nós não participamos das ações de vandalismo, fomos bem orientados a não nos aproximar de determinados pontos para não nos ferirmos. Fizemos nosso papel, enquanto entidade sindical e população”, destaca.
Lilian conta que, no retorno para Poços, o grupo refletiu sobre a manifestação, já que a “adrenalina” do momento apenas teria dado força para mantar o protesto. “Estávamos no meio de uma guerra desproporcional, uma guerra que nos massacrou, uma guerra que feriu muitos de nós, foi então que nós demos conta da covardia do Temer de chamar o Exército, de que policiais atiraram com arma letal e observamos chocados tantos outros absurdos que ocorreram. Na reflexão final sobre o ato percebemos que a nossa luta foi uma vitória. Apesar de todo o massacre do Estado, muitas pessoas de toda a sociedade brasileira estavam engajadas por um objetivo valioso: o resgate da democracia, por uma política que realmente se importe com o bem público, contra a corrupção, contra todos os desmontes trabalhistas do Temer, por educação e saúde de qualidade, por uma vida digna. Lutamos por nós, por todos nós, e não vamos parar até conseguirmos conquistar novamente tudo o que nos foi retirado através desse golpe maligno da elite brasileira. Nosso recado foi dado: nada acima de nós sem nós”, finaliza.
Repercussão negativa
As manifestações, chamadas de Ocupa Brasília, também ficaram marcadas por conta do fogo ateado nos ministérios da Agricultura, da Cultura e da Fazenda, além da depredação de mais dois prédios e do confronto entre os manifestantes e a polícia.