Um bebê de seis meses recebeu um antibiótico vencido no Hospital Margarita Morales, mas o fato só foi descoberto seis doses depois. Para saber quais são as consequências da entrega e uso do medicamento vencido, o Poços Já Cidade conversou com o gerente executivo do Conselho Regional de Farmácia de Minas Gerais e farmacêutico, José Alves Torres Junior.
O caso
Luan Araújo Guerra apresentou febre no dia 22 de março e a mãe dele procurou o Hospital Margarita Morales. O menino foi diagnosticado com uma infecção de garganta. “Após o diagnóstico minha nora foi até a sala de medicação, já que a farmácia estava fechada em razão da hora, lá eles deram o remédio pra ela e ela foi embora e começou a administrar a medicação. O susto só veio dois dias depois, ao dar banho nele minha nora viu que ele estava com uma alergia e entrou em contato com uma amiga enfermeira”, explica a avó da criança, Claudia Aparecida Novaes Góes.
A mãe então procurou uma amiga enfermeira, que pediu uma foto do remédio. Ao fotografar o frasco, a atenção da mãe foi chamada para a data de vencimento: julho de 2016. “Na mesma hora ela pegou o menino e voltou para o hospital. Lá, outro pediatra atendeu ele e explicou que o remédio só não estava fazendo efeito e passou outro antibiótico”, pontua Claudia.
Em entrevista à TV Plan, o secretário municipal de Saúde, Carlos Mosconi, disse que, apesar da falha, as datas de vencimento dos remédios são verificadas periodicamente.”A última vez foi no final do ano passado. Os remédios vencidos são inutilizados, então é estranho que esse remédio tenha passado por essa checagem. Ele não estava na farmácia, estava em uma prateleira na enfermaria e foi utilizado fora do padrão de uso desse medicamento”.
Mosconi ainda afirmou que a aplicação do remédio não teria problema. “Ele não passa a ser um veneno, como muitas vezes se imagina. Só que o efeito dele passa a ser nenhum”.
Conselho de Farmácia
O Conselho Regional de Farmácia de Minas Gerais foi procurado pela reportagem. Segundo o gerente executivo, algumas questões precisam ser levadas em consideração pelo município: quem fez a liberação do frasco, onde ele estava armazenado, como e quem faz esse controle.
“Cada medicamento possui substâncias específicas, a partir do vencimento eles não estão aptos para serem usados e as consequências variam de acordo com as composições químicas. A partir da data determinada para o uso não se tem mais garantia da qualidade do produto e nem de sua eficácia”, explica.
Além disso, a alergia também precisa ser analisada. “Ele pode ter apresentado reação alérgica a algum componente, isso poderia acontecer mesmo com o medicamento dentro da validade. É preciso ver um histórico clínico, se ele já havia feito o uso dessa medicação antes. Existem muitos casos de alergia a antibióticos”.
Questionado sobre a fala do secretário de Saúde, o farmacêutico pondera que “a diferença entre remédio e veneno está na dose, mas não se pode mascarar o caso com essa justificativa”.
Sobre a disposição dos medicamentos, Torres explica que precisam estar dentro da farmácia, e não em áreas anexas ao ambiente hospitalar. As fiscalizações nesta questão são de responsabilidade da vigilância sanitária, mas caso a administração pública apure que foi um farmacêutico que cometeu o engano, pode ser feita uma denúncia ao conselho. O gerente ainda pontua que todos os estabelecimentos de farmácia são fiscalizados anualmente para garantir a atuação dos profissionais de forma correta.