
Poços de Caldas, Andradas e Caldas estão no centro do que pode ser uma mudança significativa no mercado de terras raras, que possuem minerais importantes para diversos setores da economia mundial, da transição energética à indústria bélica. Por outro lado, os impactos de mais mineradoras na região trazem desconfiança nas áreas de meio ambiente e até de saúde pública.
O Poços Já procurou a multinacional australiana Meteoric Resources, que comanda o Projeto Caldeira, para entender a mineração de terras raras em Caldas. A extração da argila deve começar em dois anos e por enquanto a multinacional trabalha para conseguir a licença ambiental prévia.
Caldeira vulcânica e terras raras
As terras que formam a caldeira vulcânica de Poços de Caldas, Caldas e Andradas não são somente raras, mas raríssimas. Isso porque o material que as mineradoras procuram está na argila e não nas rochas. Assim, o processo de extração é muito mais simples em comparação com outras jazidas: sem explosões, sem britagem, sem moagem e com baixo impacto ambiental.
Ainda tem mais vantagens: a menor quantidade de produtos químicos necessários para a separação dos minerais e a riqueza em concentração e quantidade. Tudo isso coloca a região em destaque no cenário mundial da mineração de terras raras, que hoje tem liderança da China.

Quando a produção começar, os minerais da caldeira vulcânica podem representar até 20% da produção mundial. A expectativa é de extração de 5 milhões de toneladas de argila e de 16 mil toneladas de carbonato de terras raras por ano, somente em Caldas. O outro lado desta produção, em Poços de Caldas, ocorre por meio de mais uma empresa australiana, a Viridis (saiba mais aqui e aqui). Somados, os dois projetos têm alta relevância no mercado internacional.
“Temos condições de suprir entre 10 e 20% do mercado mundial de carbonato de terras raras”, informa Éder Santos, diretor de sustentabilidade da Meteoric
Ainda de acordo com Santos, agências de avaliação definem a caldeira vulcânica como um “unicórnio”. Em resumo, isso quer dizer que as condições por aqui são inigualáveis para o mercado de terras raras. Além disso, a guerra comercial entre Estados Unidos e China cria condições ainda melhores.
Pesquisa e licenciamento
As multinacionais chegaram depois que as mineradoras locais Togni S/A e Mineração Varginha fizeram as primeiras pesquisas na região. A partir daí, os direitos de exploração foram negociados com as empresas australianas. A Meteoric chegou em dezembro de 2022, após um grupo japonês declinar das negociações.
Atualmente, a Meteoric emprega 60 profissionais. Há um escritório em Poços de Caldas, uma equipe de pesquisa na área de exploração em Caldas e um galpão, próximo da Polícia Rodoviária Federal, onde geólogos separam as amostras e enviam para análise.
Para solicitar a licença ambiental prévia foi necessário contratar duas empresas de consultoria que ficaram responsáveis por elaborar o Estudo de Impacto Ambiental (EIA).
O estudo ocorre a partir de uma análise do ambiente antes da mineração, incluindo qualidade do ar, qualidade da água (superficial e subterrânea), avaliação de ruídos e diagnóstico social e de infraestrutura. O relatório é elaborado por uma equipe de aproximadamente 30 profissionais, que inclui geólogos, sociólogos, geógrafos, biólogos, gestores ambientais e engenheiro ambientais.

De acordo com o diretor de sustentabilidade, esta fase “permite que a empresa apresente em detalhes o que é o projeto e quais são todos os planos e programas socioambientais que serão desenvolvidos”.
O documento, com cerca de 2.700 páginas, está em análise na Fundação Estadual de Meio Ambiente (Feam). Assim que houver a licença prévia, o próximo passo será o licenciamento para construção e, em seguida, de operação. A expectativa é que a mineração comece efetivamente em 2027.
Impacto ambiental
O diretor de sustentabilidade explica como funciona o processo de recuperação das áreas mineradas. O projeto prevê que a maior parte da argila retorne para a área original.
“Depois da recuperação, essa área vai estar muito similar ao que era antes da mineração”, informa Santos.
Em resumo, a argila retirada da terra entra em um processo químico para separação do carbonato de terras raras. Esta substância será enviada para clientes estrangeiros, que vão retirar os elementos utilizados na fabricação de eletrônicos e motores elétricos.
Ainda segundo Santos, o consumo de água considera 14 pontos de captação e não vai afetar os consumidores da região. Isso porque cerca de 75% da água será tratada e reutilizada. Mesmo assim, o restante representa uma quantidade significativa: cerca de 320 metros cúbicos de água por hora.
“Esse uso da água vai para o processo de beneficiamento em si, para o controle de poeira. Então, todas as vias são umectadas com caminhão pipa para reduzir a emissão de poeira”, explica o diretor
Atualmente, o pedido de autorização para uso da água está em análise no Instituto Mineiro de Gestão das Águas (Igam).
Quanto aos resíduos, a argila que sai no processo final vai passar por uma prensa para retirar o excesso de água. Em seguida, volta às cavas e preenche o local de extração. A escavação de cada área deve durar cerca de 12 meses, mas o Projeto Caldeira estima duas décadas de funcionamento em Caldas.
Mão de obra e projetos sociais

A fase de construção deve empregar cerca de 1.200 trabalhadores durante o pico da obra. Em média, serão 600 empregos diretos nos dois anos de construção. Segundo a Meteoric, haverá exigência de que a construtora empregue prioritariamente mão de obra local.
Agora já acontece um programa de capacitação de profissionais para a fase de operação. É o Desenvolve Caldas, em parceria com o Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (Senai). As inscrições começam nesta segunda-feira (7). Veja os detalhes neste link.
De acordo com Caroline Marci, responsável pela área de relacionamento com comunidades e comunicação, a expectativa é que cerca de 50% sejam funcionários locais. Entre os fatores que permitem este índice está a cultura de transporte diário para trabalho nos municípios próximos, o que já acontece.
O projeto estima o pagamento anual de cerca de R$ 50 milhões em salários e benefícios. Além disso, haverá o incentivo a projetos sociais, ambientais e culturais.
Mesmo antes da operação, a Meteoric abriu um edital para investir R$ 200 mil em iniciativas locais.
“Isso é algo muito diferente. Empresas na fase de pesquisa e licenciamento ambiental não fazem isso, é inovador no setor. Estamos em fase de licenciamento, aguardando as licenças, mas mesmo assim já fazendo investimentos sociais”, comenta Marci
Em breve, a Meteoric também deve ter um escritório na cidade de Caldas. Em termos de arrecadação municipal, a empresa promete pagar R$ 15 milhões por ano somente de Compensação Financeira pela Exploração de Recursos Minerais (Cfem).
A partir de 2027, o objetivo é aderir às leis de incentivo fiscal para esporte e cultura. O valor total pode passar de R$ 1 milhão, mas ainda não há uma estimativa oficial.