
Com o aumento da frequência e intensidade de temporais, as cidades brasileiras estão adotando novas estratégias para prevenir enchentes e alagamentos. Uma solução que tem ganhado destaque são os jardins de chuva, áreas projetadas para receber e infiltrar a água da chuva no solo. São Paulo, com mais de 400 jardins de chuva em funcionamento, e Belo Horizonte, com mais de 60 projetos executados, são exemplos de cidades que instituíram políticas públicas para expandir esses espaços. Incluindo incentivos para a participação da população na manutenção dos jardins.
Mudança
Cecilia Herzog, membro da Rede de Especialistas em Conservação da Natureza (RECN) e consultora de projetos que utilizam Soluções Baseadas na Natureza (SBN) para enfrentar desafios urbanos, acredita que o crescente interesse dos gestores públicos e da população pelos jardins de chuva é um primeiro passo para mudar o paradigma da urbanização no Brasil. Segundo ela, atualmente há projetos-piloto inspirados em infraestrutura verde em várias regiões do país e outras partes do mundo. “Bem planejados, os jardins de chuva podem minimizar os impactos das chuvas. É uma solução inteligente e relativamente barata que tem, sobretudo, um papel educativo, ajudando a população a entender a necessidade de tornar nossas cidades mais permeáveis”, afirma Herzog.
Jardim de chuva
Embora pareça um jardim comum, essa Solução Baseada na Natureza (SBN) inclui camadas subterrâneas com terra, areia e pedras de diferentes tamanhos para facilitar a infiltração da água no solo. Herzog, que é especialista em paisagismo urbano, ressalta que os jardins de chuva devem ser integrados a outras soluções que permitam o retorno da natureza aos espaços urbanos. “Está claro que não podemos lutar contra a natureza impermeabilizando o solo, canalizando rios e suprimindo áreas verdes. A única alternativa para se adaptar ao novo cenário climático, cada vez mais desafiador, é considerar a natureza como solução, e não como inimiga”, defende a pesquisadora.
Além da expansão dos jardins de chuva, especialistas sugerem combinar medidas estruturais tradicionais com as SBN, como a renaturalização de rios, biovaletas, parques lineares, parques alagáveis, telhados verdes, hortas comunitárias e cisternas para captação e reutilização da água da chuva. “Essas iniciativas combinadas podem tornar as cidades mais resilientes e adaptadas, reduzindo os problemas e prejuízos cotidianos causados pelas tempestades”, pontua Juliana Baladelli Ribeiro, gerente de Projetos da Fundação Grupo Boticário de Proteção à Natureza.
Infraestrutura verde
Juliana acrescenta que fortalecer a infraestrutura verde em áreas urbanas também oferece benefícios ambientais, como regulação do microclima local, conservação da biodiversidade e melhoria geral das condições ambientais. “Além de mitigar os riscos de alagamentos e inundações, essas soluções trazem benefícios adicionais, incluindo maior contato da população com a natureza, o que é crucial para nossa saúde e bem-estar”, destaca Juliana.
As especialistas salientam que os jardins de chuva já são uma realidade bem-sucedida em diversos países do mundo há mais de uma década. Em Nova Iorque (EUA), por exemplo, milhares desses espaços integram o programa local de infraestrutura verde para enfrentar as mudanças climáticas e melhorar a gestão das águas pluviais. No Brasil, um dos maiores jardins de chuva está localizado em São Paulo (SP), na Rua Major Natanael, no bairro do Pacaembu. O complexo possui 11 jardins de chuva instalados, com 2,3 mil metros quadrados de área, conectados ao sistema de drenagem.
Em Belo Horizonte (MG), a prefeitura criou uma política de incentivos para que a população participe da manutenção dos jardins de chuva. Proprietários de imóveis que adotarem esses jardins podem obter até 10% de desconto no valor anual do IPTU, limitado a R$ 2 mil. Em Curitiba (PR), a Câmara Municipal recebeu em janeiro de 2025 um projeto de lei que propõe tornar os jardins de chuva uma chuva uma política pública municipal para combater os alagamentos.