![Pesquisa constata que escolas particulares vendem 50% mais ultraprocessados do que alimentos saudáveis](https://pocosja.com.br/wp-content/uploads/2025/02/cantinas-escolares.webp)
Alimentos ultraprocessados e preparações culinárias baseadas nestes alimentos são aproximadamente 50% mais comercializados do que os in natura, minimamente processados, processados e preparações culinárias baseadas nestes alimentos nas cantinas de escolas particulares no Brasil. No comércio ambulante, essa diferença é ainda mais acentuada, chegando a 117%. É o que revela o estudo pioneiro Comercialização de Alimentos em Escolas Brasileiras (Caeb), coordenado por um grupo de pesquisadores vinculados a seis universidades públicas brasileiras, entre elas a UFMG. Avaliaram-se aspectos relacionados à comercialização de alimentos e bebidas em 2.241 cantinas escolares e de 699 ambulantes no entorno de escolas privadas de ensino fundamental e médio nas 26 capitais brasileiras e no Distrito Federal.
Preocupante
Os resultados chamam atenção para a preocupante oferta desses alimentos no ambiente escolar, voltada para crianças e adolescentes. Dentro das cantinas escolares, o refrigerante também foi o mais consumido, com expressivos 61,80%; na sequência, estão o salgado assado com recheio ultraprocessado (47,88%), bombom ou chocolate (37,97%) e salgadinhos de pacote (37,48%). No comércio de ambulantes, os alimentos mais consumidos que se destacaram foram refrigerante (46,2%), guloseimas (29,6%), salgadinho de pacote (21,5%) e pipoca de pacote (19%).
No grupo de alimentos in natura, minimamente processados ou processados e preparações culinárias baseadas nestes alimentos, entre os mais consumidos nas cantinas estão a água (79,70%); sucos naturais de fruta (70,54%), bolos de preparação culinária (59,43%), salgado assado sem recheio ultraprocessado (53,27%) e os sucos 100% integrais em caixinha, lata ou garrafa (37,57%). A água também foi a mais comercializada por ambulantes no entorno de escolas particulares, seguida do café (12,2%), do bolo de preparação culinária (11,6%) e do suco natural de fruta (11,3%).
Para a coleta de informações com ambulantes e gestores de cantinas, foi realizado um questionário que contemplou questões distribuídas em três seções: informações da cantina ou do ambulante (identificação e caracterização); comercialização, variedade, tamanho, valor do menor preço e estratégia de venda (promoção/combo) dos alimentos, bebidas e preparações culinárias e presença de publicidade dos alimentos e bebidas.
Instituições
Além da Escola de Enfermagem da UFMG, 23 instituições de ensino superior públicas brasileiras participam do levantamento. Uma das coordenadoras do estudo, a professora da UFMG Larissa Mendes Loures, enfatiza que o ambiente alimentar escolar no Brasil desempenha um papel crucial na formação de hábitos e preferências alimentares entre crianças e adolescentes e que a qualidade dos alimentos disponíveis nas escolas influencia diretamente a saúde e o bem-estar dos estudantes. Ela destaca que há um contraste no ambiente alimentar entre as escolas públicas e privadas.
“As escolas públicas têm um papel destacado nesse contexto, pois a maioria apresenta um ambiente que promove a alimentação adequada e saudável por meio do Programa Nacional de Alimentação Escolar, que oferta refeições alinhadas com as recomendações das versões atuais dos guias alimentares brasileiros. Esse programa visa garantir a segurança alimentar e nutricional, promovendo uma alimentação adequada e saudável, além de ser um importante instrumento para o desenvolvimento biopsicossocial dos alunos. Já as escolas privadas, frequentemente, apresentam um ambiente alimentar mais obesogênico, com maior disponibilidade de produtos ultraprocessados e menos opções saudáveis”, ressalta Larissa Loures.
Publicidade dos alimentos
No estudo, foi constatado também que 36,09% das cantinas apresentam pelo menos uma estratégia de publicidade de alimentos in natura ou minimamente processados comercializados e 37,38% de publicidade de alimentos ultraprocessados.
Já no comércio ambulante no entorno de escolas particulares, a exposição de publicidade (banner/cartaz do fornecedor, banner/cartaz do ambulante, vestimenta, réplica do produto, cardápio, embalagem, painel/televisão, folder, displays e brindes) vinculada a alimentos minimamente processados, processados e preparações culinárias baseadas nestes alimentos e alimentos ultraprocessados e preparações culinárias baseadas nestes alimentos foi de 86,8% e 72,7%, respectivamente.