Início do século XX. A Primeira Grande Guerra se avizinhava e os alemães se preparavam para usar o zircônio de Poços de Caldas para fabricar canhões. Na linha de montagem estava o carro popular modelo T da Ford. Santos Dumont fazia o voo do 14-bis em Paris. O mundo mudava. Naqueles anos, Poços de Caldas era uma pacata vila mineira, com 3 mil habitantes, muito conhecida por suas águas termais, consideradas milagrosas. Porém, ainda não possuía água encanada nem rede de esgotos. A luz elétrica, graças ao coronel Otaviano de Brito, fazendeiro de Alfenas, iluminava a estância usando a força gerada pela Cascata das Antas.
Em 1905, aconteceu a criação da prefeitura, a princípio governada por um intendente (até 1946) e mais tarde por prefeitos eleitos. Três praças sem vegetação quebravam um pouco a monotonia das ruas: Largo Senador Godoy (praça Pedro Sanches), Independência (praça Francisco Escobar) e Colômbia (praça D. Pedro II – Macacos).
Rua Assis
Nossa principal rua era a Marquês de Paraná (Assis), cortada pelos ribeirões da Serra e de Caldas. Nela estavam situadas as casas de comércio mais importantes e algumas residências particulares. Na esquina da Marquês com rua da Vala (atual Francisco Salles), funcionava o velho mercado, local rústico e sem condições, que em 1909 foi substituído pelo prédio com cúpula que conhecemos e onde funciona a atual Casa Carneiro.
Turistas
Os turistas, em sua maioria, chegavam à estância pelo trem da Mogyana, inaugurada em 1886, em busca de tratamento com as águas sulfurosas e encontravam cerca de doze hotéis à disposição, sendo o melhor deles o Hotel da Empresa. Ele tinha um passadiço que o ligava ao balneário Pedro Botelho, onde os banhistas podiam desfrutar de duchas e banhos sulfurosos. Havia também o balneário dos Macacos, inaugurado em 1896.
As diversões eram poucas. Tínhamos os passeios de trole ou a cavalo até a Cascatinha ou pelas matas da redondeza. À noite podia-se apreciar uma boa comida portuguesa com vinho verde no restaurante do Fernando Lopes ou passar a madrugada nas casas de jogos. Para os poços-caldense existia o Foot-ball Club, fundado em 1904 pela mocidade local.
Cana Verde
A única igreja existente no início do século XX em Poços era a do Bom Jesus da Cana Verde (atual Santo Antônio, na rua São Paulo). Havia também a capela de Santa Cruz, no morro de mesmo nome. Existiam quatro escolas públicas estaduais e os colégios Rosa, Sant’Ana, Externato Mineiro e o de dona Clarinha Vieira. Por volta de 1903, começou a funcionar o Externato Ítalo-Brasileiro, dirigido pelo professor Carlos Cascella.
(Fontes: Memórias Históricas de Poços de Caldas, de Nilza Botelho Megale – Memorial da Companhia Geral de Minas)