Para muitas pessoas, falar de sexo ainda pode ser um tabu. No caso das mulheres, em uma sociedade onde culturalmente elas não têm muito contato com a própria sexualidade, tocar no assunto pode ser o primeiro passo para desvendar os mistérios e prazeres desse universo tão complexo.
A reportagem do Poços Já Mulher conversou com a sexóloga Lêda Chaves Sampaio sobre vários temas que envolvem a sexualidade feminina ,e para começar, ela aborda como o assunto é visto de forma diferente entre homens e mulheres e como isso afeta o comportamento nos relacionamentos.
A sexóloga explica que diferentemente dos homens, a mulher não é estimulada a entrar em contato com sua própria sexualidade, pelo contrário. A sociedade, de um modo geral, não a vê como um ser sexual, que tem vontades e anseios, mas geralmente ela é criada para ser mais recatada, para não demonstrar o que sente, para se resguardar. Sendo assim, a menina cresce achando que não precisa se conhecer, conhecer próprio corpo. Por mais moderna que a sociedade esteja hoje e por mais que alguns tabus tenham sido quebrados, com o feminismo e tudo mais, a profissional entende que ainda existem muitos bloqueios a serem quebrados.
“A mulher não se toca, ela não conhece o próprio corpo. O homem não, ele conhece, desde muito cedo ele entra em contato com o próprio pênis. Muitas mulheres não conhecem a própria vagina. O ginecologista conhece, ela não. E a maneira como ela encara o órgão sexual também é diferente, muitas vezes é com vergonha, como algo pejorativo, sujo. Ainda existe uma construção cultural que impede que a mulher reivindique mais uma vida sexual saudável, prazerosa, e faz com que ela espere que o homem que ela vai escolher proporcione isso, mas a responsabilidade é dela”.
Lêda observa que é importante, para uma vida sexual saudável, que a mulher conheça o próprio corpo e encare isso como responsabilidade dela própria e não do parceiro. Ela explica que conhecer as zonas erógenas, o que gosta e o que não gosta, é o que dá as mulheres o poder sobre a sua sexualidade. “As mulheres precisam dessa liberdade. Antigamente o sexo para mulher era somente para reprodução, não precisava ter prazer, só dar prazer. Culturalmente, isso perpassa nosso inconsciente coletivo e chega até hoje, 2018, que a mulher tem que dar prazer para o homem. Mas e ela? Percebe como ela é negada? É necessário romper isso”.
Para a sexóloga, parceria é a palavra-chave para uma vida sexual saudável. A profissional enfatiza que o diálogo e a autenticidade devem estar presentes em qualquer relação, seja ela heterossexual ou homossexual. Lêda comenta ainda que o medo, o receio e até mesmo a vergonha de dizer ao parceiro o que prefere, impedem que o casal tenha uma vida sexual prazerosa. É preciso se sentir seguro e à vontade para se expressar, por isso, a cumplicidade do casal é essencial em todos os aspectos da vida a dois.
“A vida sexual prazerosa tem uma verdade, o casal precisa se descobrir sexualmente, buscar se conhecer. A vida sexual é prazerosa quando existe essa conversa, essa abertura, essa verdade, essa autenticidade de poder dizer o que sente e o que quer um pro outro sem medo de retaliação. A vida sexual começa na cumplicidade. Para mim a vida sexual é apenas um resultado de uma vida a dois prazerosa, mesmo com seus conflitos, suas dificuldades, mas com honestidade, autenticidade, de parceria, parceria para mim é a palavra mestre” finaliza.
*Lêda Chaves Sampaio é psicóloga e sexóloga e atende no Instituto Mineiro de Sexualidade (IMSEX) e na Delegacia da Mulher de Poços de Caldas. O telefone para contato é (35) 3721-4955.
Powered by WPeMatico