Parada desde dezembro do ano passado, a Orquestra Sinfônica de Poços de Caldas corre o risco de acabar. De acordo com o maestro Agenor Ribeiro Neto, os 75 músicos se apresentaram pela última vez durante os concertos de Natal promovidos pela antiga administração, mas não receberam o pagamento combinado até hoje. “Tivemos vários problemas com a administração passada, nossa maior esperança era um governo novo. Só que isso aconteceu e estamos parados há quatro meses”, relata.
Além da dívida, os músicos estavam com problemas para agendar ensaios, uma vez que não tinham um espaço definitivo para os encontros. Durante os anos, passaram pelo Espaço Cultural da Urca, Sesc, uma das salas do curso de Medicina da PUC Poços de Caldas e, por último, o barracão da escola de samba Saci Pô. “Se retomarmos a orquestra hoje, eu não sei o que vai acontecer. Se vamos dissolver essa orquestra e criar uma nova, um pouco menor, para depois arrumar um local de ensaio. A orquestra não quer aumento, não quer nada. O que queremos é restabelecer a dignidade que lhe foi tirada, ser tratara com respeito. A gente fez por merecer”, desabafa.
Sinfonia das Águas
Ainda não há previsão para serem realizadas novas edições da Sinfonia das Águas. Na tarde da última quarta-feira (10), o maestro Agenor se reuniu com o prefeito Sérgio Azevedo, o vice-prefeito Flávio Faria e os secretários de Turismo e Cultura, Ricardo Fonseca Oliveira e Hudson Luís Vilas Boas, para tratar do assunto. “Alternativas existem, precisa ter a vontade de fazer agora. Eu saí da reunião com um fio de esperança. Entendo que a Prefeitura está quebrada, assim como existem dificuldades financeiras por todo o país. Temos crise nos estados e nas prefeituras. Temos que nos ajustar numa situação dessas, mas temos que buscar soluções”, enfatiza.
Segundo Agenor, algumas das sugestões apresentadas por ele foram aceitas pela atual administração. Mas, caso consiga manter a orquestra, será necessário fazer uma adaptação no número de músicos. “Haverá uma redução muito grande nos valores aportados pela orquestra. Seria reduzida em mais ou menos uns 15 músicos, passando de 75 para 60. Nossa meta é sobreviver. Sobrevivendo, esperando que a situação econômica melhore, poderemos voltar aos patamares anteriores, sem perder a qualidade”.
Em 2016, o então prefeito Eloísio do Carmo Lourenço havia conseguido com que a Lorenzetti fizesse um investimento para cobrir parcialmente os custos de duas edições da Sinfonia das Águas, com valor total de R$ 200 mil. Pouco antes do final do ano, o representante da empresa entrou em contato com o maestro Agenor e informou que tinha mais R$ 161 mil a serem investidos no evento durante 2017. O valor atualmente encontra-se em uma conta bloqueada da orquestra e só pode ser retirado para a Sinfonia. Caso não aconteça, ele será devolvido e reutilizado em outro projeto cultural da cidade.
Agenor afirmou que entrou em contato com o vice-prefeito para informar que realizaria a devolução do dinheiro à Lorenzetti, mas foi orientado a esperar um pouco. “Claro que estamos todos chateados, esperávamos que a situação fosse resolvida quatro meses atrás, não agora. Mas não é uma retaliação. Eu só não podia ficar com um dinheiro que não é meu”, explica.
Apesar disso, ressalta que trabalha para mostrar à cidade e ao poder público a importância da orquestra sinfônica, que completou 25 anos em 2016. “Minha grande luta é mostrar que a orquestra é mais importante que a Sinfonia das Águas. Ela é um patrimônio cultural da cidade e se impôs muito antes da Sinfonia”, comenta.
Prestação de contas
Em entrevista coletiva realizada em seu gabinete no dia 12 de abril, o prefeito Sérgio Azevedo declarou que a Sinfonia das Águas estava impedida de acontecer devido a uma questão jurídica. “Houve um problema com a prestação de contas da Orquestra Sinfônica e, neste período, ela está impedida de receber verbas públicas. Se conseguirem viabilizar de realizar sem verbas [da Prefeitura], seria maravilhoso. Mas estamos impossibilitados nesse sentido. Precisamos ver a legalidade de tudo”, explicou.
De acordo com o maestro, os dados enviados na prestação de contas estão corretos. “O DME exige nota fiscal individual de cada músico. Nós não podemos fornecer isso porque somos uma cooperativa, mas temos todos os depósitos nominais, com CPF de cada músico, prestação de contas que informam para onde foi o dinheiro e recibos com firma reconhecida de cada um deles. Não recebemos desde novembro [do ano passado] e isso acabou virando um impasse, achei que seria resolvido, mas não foi. Queremos receber esse pagamento, com a devida correção monetária”.
O Poços Já também contatou o secretário de Cultura, Hudson Vilas Boas, que comunicou o motivo da reunião realizada entre membros do Executivo e o maestro. “Fizemos uma reunião para tratar de uma lei Rouanet que dá aporte para realizar cinco Sinfonia das Águas. Ele [maestro] já conseguiu captar uma parte do valor total. A conversa foi nesse sentido, queríamos saber em que pé está tudo isso”, disse.
Questionado quanto ao andamento da prestação de contas da Orquestra, informa que nada mudou. “O jurídico do DME continua tendo a mesma interpretação e estamos aguardando espaço deles, mas sobre isso nenhuma novidade. A sinfonia depende de duas coisas para acontecer: da captação da Lei Rouanet e dos músicos estarem atuando. Primeiramente, precisamos ter uma definição jurídica sobre a prestação de contas para dar prosseguimento”, finalizou.