
A perda de Bruna, uma golden retriever de 12 anos, deixou um vazio na vida da professora Ana Lúcia Mendes, que não conseguia explicar para colegas de trabalho a profundidade de sua tristeza. “As pessoas diziam ‘era só um cachorro, arruma outro’. Mas ela era minha companheira diária, testemunha de uma década da minha vida”, relata. Como ela, milhares de brasileiros enfrentam um luto socialmente invisibilizado quando perdem seus animais de estimação.
Para uma pequena conversa sobre o assunto, o Poços Já procurou Flávia Pettarin, especialista em Terapia Sistêmica Familiar e especialista em Processos de Luto e Psicopatologia.
“Pesquisas recentes têm comprovado o que muitos tutores já sabiam na prática. O vínculo com pets pode gerar um processo de luto tão intenso quanto o vivenciado na perda de humanos”, pontua ela. Estudo da Universidade de Harvard indica que 60 a 70% dos tutores desenvolvem sintomas significativos de luto após a morte do animal. No Brasil, pesquisa do Instituto de Psicologia e Bem-Estar Animal (IPB) revelou que 80% dos entrevistados sentiram necessidade de apoio emocional, mas apenas 15% buscaram ajuda especializada.
A ciência do luto animal
“O animal ocupa um lugar único na família moderna – é confidente, fonte de amor incondicional e elemento de rotina. Sua ausência desestabiliza o emocional e praticamente a vida do tutor”, explica Flávia. Segundo ela, os sintomas mais comuns incluem tristeza profunda, culpa (“poderia ter feito mais?”), insônia e dificuldade de concentração. O problema se agrava pelo que chamam de “luto não permitido”. “A sociedade ainda minimiza essa dor com frases como ‘era só um animal’. Impedindo a elaboração saudável do luto”, complementa ela.
O caminho para a cura
Para quem enfrenta essa perda, Flavia recomenda validar a dor sem julgamentos, criar rituais de despedida (cartas, álbuns de fotos), buscar grupos de apoio, considerar terapia especializada.
“À medida que os pets se consolidam como membros das famílias contemporâneas, a sociedade começa a reconhecer que o luto por eles é legítimo e digno de atenção. Um passo importante para oferecer suporte a milhões de tutores enlutados”, finaliza a especialista.








