
A Escola Municipal Professora Carmélia de Castro, na zona rural de Poços de Caldas, foi palco de uma demonstração de força comunitária na noite de quarta-feira (19). Mais de 50 moradores do bairro Souza Lima e adjacências lotaram as dependências da escola para repudiar a proposta da Secretaria Municipal de Educação de implementar turmas multisseriadas na unidade. O ato, que contou com a presença de vereadores e da imprensa local, marcou a rejeição formal da comunidade a um projeto que consideram um retrocesso educacional.
A mobilização, que ganhou força através de um manifesto viral em grupos de WhatsApp sob o título “Indignação! A educação da nossa zona rural não pode andar para trás!”, critica a ideia de reunir crianças de séries diferentes em uma mesma sala. No texto, as lideranças comunitárias apontam prejuízos ao aprendizado, sobrecarga para os professores e violação do direito a uma educação de qualidade equivalente à ofertada na área urbana.
Recuo
Pressionada pela repercussão negativa, a Secretaria Municipal de Educação emitiu uma nota pública defendendo a multisseriação como prática reconhecida internacionalmente para contextos de baixa densidade demográfica. Justificando-a pelo baixo número de alunos em algumas turmas da escola. No entanto, anunciou que a mudança estava “temporariamente suspensa” para um debate ampliado em 2026.
O recuo, porém, não acalmou os ânimos. Moradores relatam que houve tentativas de desmobilizar a reunião, o que só fortaleceu a determinação em realizar o encontro. Insatisfeitos com a suspensão temporária, a comunidade decidiu lançar um abaixo-assinado exigindo da Secretaria um compromisso formal, por escrito, pelo descarte definitivo da proposta. “Não aceitamos um ‘pause’. Queremos o fim dessa ideia”, resumiu uma das moradoras durante a assembleia.
Cenário político dividido
Os vereadores Lucas Arruda (Rede, líder do governo), Kléber Silva (Novo) e Neno Gouveia (PRD) adotaram um tom conciliador. Eles prometeram interceder junto ao prefeito Paulo Ney, isentando-o de responsabilidade direta pela decisão e criticando moderadamente a Secretaria de Educação.
O presidente da Câmara, Douglas Dofu (União), juntou-se ao coro das críticas, focando sua fala na “falta de diálogo prévio” da administração com a comunidade.
O vereador Tiago Mafra (PT), professor e ex-diretor escolar, foi mais contundente contra os argumentos técnicos da Secretaria, classificando a multisseriação como “anacrônica”. Ele vinculou a proposta diretamente à crise financeira da prefeitura, afirmando que se tratava de uma medida para “reduzir gastos às custas da educação das crianças do campo”.
Compromisso com a luta
Ao final do encontro, ficou clara a disposição da comunidade em manter-se organizada. O abaixo-assinado será encaminhado às autoridades nos próximos dias, carregando a exigência de um documento formal que “enterre” a proposta das salas multisseriadas.
Os moradores deixaram claro que qualquer discussão futura sobre a Escola Carmélia de Castro deve passar por uma tríade. Transparência, participação efetiva da comunidade e a garantia inegociável de que o direito à educação de qualidade na zona rural não será sacrificado em nome de ajustes orçamentários. A reunião terminou, mas o movimento, segundo prometem, só está começando.











