
Mesmo depois de décadas de especulações e reportagens, a história da chamada “Princesa Tamara Gagarin” ainda intriga moradores e visitantes de Poços de Caldas. O túmulo, localizado no tradicional Cemitério da Saudade, é um dos mais visitados da cidade e continua sendo tema de curiosidade e debate, reforçando uma lenda que, apesar de amplamente divulgada, não sai de moda no imaginário local.
Princesa e condessa
O túmulo traz a inscrição “Princesa Tamara Gagarin” e “Condessa Alexandra Tatichev”. As duas teriam chegado juntas a Poços de Caldas, mas a condessa faleceu primeiro. Segundo o historiador Clisthenis Betti, que estudou e pesquisou essa narrativa popular, Thamara seria, na verdade, Anastásia Nikolaevna Romanov, a quarta filha do czar Nicolau II da Rússia, oficialmente executada com a família imperial em 1918.
Em seu Trabalho de Conclusão de Curso (TCC), Betti cita a reportagem da revista O Cruzeiro, em que Thamara revela que conseguiu fugir da Rússia levada pela condessa Alexandra Tatichief (diferente da inscrição do túmulo, Alexandra tem uma variação no sobrenome), que se transformou em sua mãe de criação. “Em 1938, depois de terem morado em São Paulo e tantos outros lugares, fixaram residência em Poços de Caldas, onde Thamara lecionou várias línguas. De acordo com relatos difundidos e recontados por moradores, a suposta princesa teria vivido sob identidade falsa em Poços de Caldas por cerca de 20 anos. E morreu em 1965”, diz Betti.
Lenda
O historiador acrescenta que, apesar da aura de mistério, não há comprovação histórica ou documental que confirme a ligação entre a mulher enterrada e a família Romanov. Os restos mortais do czar Nicolau II, da czarina e de parte das filhas foram identificados por exames de DNA em 1993 e sepultados oficialmente na Rússia. “A ausência de dois corpos, de Anastásia e de um irmão, no entanto, alimentou diversas lendas mundo afora, incluindo a de Poços de Caldas”.
Entretanto, mesmo sem confirmação, a história resiste ao tempo. O túmulo da “princesa russa” é enfeitado com flores e visitado por curiosos, especialmente no Dia de Finados. Para muitos, tornou-se um ponto de cultura e memória afetiva, símbolo de uma cidade que conserva suas histórias, entre o mito e a tradição.
Clisthenis, porém, observa que se trata de uma narrativa de caráter folclórico, sem base documental reconhecida. “Ainda assim, a lenda da princesa que teria trocado os palácios de São Petersburgo pelas montanhas de Minas segue viva.
Visitas
Poços-caldenses e turistas continuam indo ao cemitério todos os anos e mantêm o hábito de rezar diante do túmulo. “Eu venho aqui desde criança, acompanhava minha avó e agora venho sozinha. A gente acendia uma vela e fazia um pedido. Dizem que ela ajuda quem sofre de tristeza ou solidão. É uma presença boa”, diz Vânia Nicolau.
“Não sei se foi princesa mesmo, mas acredito que ela encontrou paz aqui. A gente sente uma energia diferente nesse canto do cemitério”, pontua Leila Fonseca.
Há também quem vá movido apenas pela curiosidade, como o turista Laércio Silva. “Eu sempre ouvi falar dessa história e vim conhecer pessoalmente. É impressionante ver como as pessoas acreditam, deixam flores, velas, bilhetes. Mesmo sem saber se é verdade, dá pra sentir que o lugar tem algo especial”.











