
Um documento técnico formal, elaborado pelo engenheiro Juraci Luz e encaminhado ao vereador Álvaro Cagnani (PSDB), acendeu um alerta sobre a vulnerabilidade hídrica de Poços de Caldas. O relatório faz críticas ao Plano Diretor de Drenagem e Proteção dos Recursos Hídricos do município e questiona a atuação do Departamento Municipal de Água e Esgoto (DMAE). Especialmente diante da possibilidade de expansão de atividades minerárias no Planalto de Poços de Caldas.
O apêndice técnico tem como foco a Microbacia das Vargens, uma das principais fontes de abastecimento da Estação de Tratamento de Água 3 (ETA-3 São José). Região considerada estratégica para a segurança hídrica do município.
Uso da água para mineração gera preocupação
O ponto central do documento é a solicitação de esclarecimentos sobre o possível fornecimento de 21,6 mil litros de água por hora a uma mineradora privada. Segundo o engenheiro, esse volume corresponde a aproximadamente um terço da capacidade da microbacia. E outro terço das nascentes já estaria comprometido por impactos ambientais previstos com a operação minerária.
Isso significa que até dois terços da Microbacia das Vargens podem deixar de atender ao abastecimento público. Colocando em risco direto a segurança hídrica de mais de 60 mil moradores da região.
O documento pede que o DMAE apresente a justificativa técnica e legal para a concessão de recursos hídricos a um empreendimento privado, em detrimento do abastecimento da população, considerado prioritário por lei.
Nascentes sob ameaça
O estudo revela que a instalação da mineradora implicaria na extinção direta de três nascentes da microbacia. O que comprometeria a recarga hídrica local e a conectividade com outros mananciais que sustentam o sistema de captação.
A Microbacia das Vargens já enfrenta:
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Redução da cobertura vegetal nativa;
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Erosão acelerada;
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Assoreamento do leito dos rios;
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Alagamentos recorrentes;
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Perda da capacidade de infiltração do solo.
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Risco de contaminação de mananciais
Outro ponto considerado grave envolve a Represa do Cipó (Lindolpho Pio da Silva Dias), manancial estratégico para o abastecimento da cidade. O relatório destaca a possibilidade de contaminação caso, em períodos de estiagem, ocorra o rebaixamento do nível da represa. Permitindo a mistura de águas do ribeirão das Antas, que recebe resíduos da área da Indústrias Nucleares do Brasil (INB), conhecida por seu passivo ambiental.
A drenagem ácida de mina da INB contém metais pesados e lantanídeos, substâncias potencialmente tóxicas que podem comprometer a qualidade da água destinada ao consumo humano.
Conclusão: região vive vulnerabilidade hídrica crítica
Na conclusão, o documento afirma que o Planalto de Poços de Caldas enfrenta uma “condição crítica de vulnerabilidade hídrica”, agravada por fatores como:
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Compactação das argilas e impermeabilização do solo;
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Supressão da vegetação ciliar;
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Rebaixamento do lençol freático;
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Interrupção de fluxos hídricos subterrâneos;
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Risco às águas sulfurosas, símbolo turístico e terapêutico do município.
O que o documento solicita ao DMAE
Entre as solicitações feitas ao Departamento Municipal de Água e Esgoto estão:
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A capacidade real de abastecimento da represa do Cipó;
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Estudos atualizados da Microbacia da Ponte Alta e da represa Saturnino de Brito;
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Justificativas técnicas para o uso de água pública por empreendimentos privados;
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Plano de proteção das nascentes ameaçadas.








