
Em Campanha, no sul de Minas, um inimigo de poucos milímetros ameaça os pomares de tangerina ponkan, uma das principais fontes de renda dos produtores rurais. Trata-se do psilídeo, inseto vetor do greening, doença que transmite uma bactéria capaz de comprometer folhas, raízes e frutos. O resultado é devastador: árvores que definham, frutas que não crescem e perdas irreversíveis.
“Ele é um inseto sugador, que adquire a bactéria em uma planta e a transmite para outra, como o Aedes aegypti faz com o vírus da dengue. Praticamente o processo é o mesmo: tem a doença e tem o vetor”, explica o engenheiro agrônomo José Maria.
Muitas vezes, a única solução é erradicar os pés contaminados. “Entre seis meses e um ano após a infecção, começam a aparecer os primeiros sintomas. A planta amarela, os frutos se deformam, principalmente na variedade ponkan. Os vasos ficam entupidos, como se fosse colesterol, e a planta entra em falência”, detalha.
Perda de safra
Relatórios do Instituto Mineiro de Agropecuária (IMA) apontam que, se nada for feito, Campanha pode perder 70% da safra já em 2025 e até 90% nas colheitas seguintes. A estimativa deste ano, de 34,5 mil toneladas de tangerina ponkan e outras variedades, corre o risco de ser a última a registrar crescimento.
De acordo com a Emater, o município tem 2 mil hectares de ponkan. Desses, 150 precisam ser erradicados imediatamente, número que pode aumentar com a confirmação de novas áreas contaminadas. Para enfrentar a crise, a prefeitura decretou emergência fitossanitária.
“Esse decreto teve como base relatórios técnicos do IMA, da Emater e da Defesa Civil, que classificou o caso como desastre biológico. O objetivo é garantir suporte jurídico para ações de erradicação e também melhores condições de renegociação de dívidas com os bancos, além de incentivar a diversificação da produção”, afirma o secretário de Governo, Nicolas Dinamarco.
Sem alternativas, produtores já começam a substituir a ponkan por outras culturas. Rafael, agricultor da região, planeja plantar 13 hectares de café e 10 hectares de abacate. Mas lamenta o futuro da fruta: “Infelizmente, se não surgir uma cura ou algum controle eficaz, acabou mesmo. Aqui na região, já era.”
A doença
O HLB/greening pode permanecer assintomático por até dois anos, dificultando a detecção. Quando se manifesta, os ramos apresentam mosaico de tons de verde, e os frutos ficam deformados, com sementes abortadas. O inseto vetor prefere folhas jovens, o que torna o período de chuvas o mais propício à contaminação.
A disseminação ocorre pelo chamado “efeito raio”: a partir de um foco, o psilídeo se espalha para áreas vizinhas. O trânsito de mudas contaminadas entre estados é outra grande preocupação do IMA.
Produtores que identificarem suspeita da doença devem procurar um engenheiro agrônomo para vistoria. Confirmada a contaminação, é obrigatória a erradicação. Já em regiões sem histórico do HLB, o IMA deve ter acionamento imediato para que toda a cadeia produtiva adote as medidas sanitárias necessárias.