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História ou lenda? O 7 de setembro por Rui Barbosa e Machado de Assis

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História ou lenda? O 7 de setembro por Rui Barbosa e Machado de Assis
Para Rui Barbosa, o Dia da Independência era mito; para Machado de Assis, lenda que merecia ser evocada. (Arte Migalhas)

Há datas que sobrevivem ao calendário. Não se limitam à passagem dos anos, mas se tornam espécie de espelho da nação. Nelas o país volta a olhar para si, a recordar feitos, a reelaborar memórias. O 7 de setembro é uma dessas efemérides.

Dois séculos após o célebre episódio às margens do Ipiranga, o Brasil ainda debate se aquele instante foi um gesto heroico ou uma encenação burocrática. Se se deve à lenda a grandeza da Independência ou se a verdade histórica lhe rouba o brilho.

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Entre os que desconstruíram a versão oficial e os que nela enxergaram a potência de um mito, dois nomes se destacam: Rui Barbosa e Machado de Assis. Ambos refletiram sobre a data, mas por caminhos distintos: o primeiro, pela crítica implacável. O segundo, pela ironia que escolhe a lenda em detrimento da história nua e crua.

A crítica de Rui Barbosa

Para Rui, o brado às margens do Ipiranga não passou de encenação palaciana. Em suas palavras, “o divórcio entre a colônia americana e a metrópole ultramarina estava já consumado; e a interferência do príncipe regente não teve outro merecimento mais do que o de registrar um grande fato irremediável”. A emancipação, portanto, foi conquista popular, à qual D. Pedro I resistira, cedendo apenas quando forçado pelas circunstâncias.

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O jurista enxergava na Independência não uma dádiva da coroa, mas resultado da pressão acumulada por revoltas, como a Inconfidência Mineira, a Revolução Pernambucana e outros movimentos que antecederam 1822. Para ele, a celebração ufanista servia antes à exaltação imperial do que à memória da luta do povo brasileiro.

Veja a íntegra do texto em que Rui Barbosa critica Dom Pedro I.

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A ironia de Machado de Assis

Em 1876, Machado de Assis dedicou uma de suas crônicas às festas do 7 de setembro. O cronista começou observando que os aniversários também “envelhecem ou adoecem, até que se desvanecem ou perecem”, mas que, naquele ano, a data parecia rejuvenescida. O tom aparentemente leve, porém, era, como de costume, irônico. Machado comentava um artigo publicado dias antes na Gazeta de Notícias por Joaquim Antônio Pinto Júnior.

O autor contestava a narrativa oficial, segundo a qual D. Pedro teria proclamado a Independência às margens do Ipiranga, em um brado histórico. Para Pinto Júnior, “não houve nem grito nem Ipiranga”: houve, sim, a decisão política do príncipe, mas pronunciada em outro lugar, longe do ribeiro que a tradição consagrou.

Diante da provocação, Machado reagiu. Comparou o caso brasileiro aos debates sobre a história romana, cujos personagens, desbastados pela crítica moderna, talvez nunca tenham existido. Mas, dizia, isso pouco importava: o valor de uma tradição está menos na exatidão dos fatos do que na força simbólica que carrega. Foi nesse espírito que cunhou uma de suas frases mais célebres:

“Minha opinião é que a lenda é melhor do que a história autêntica. A lenda resumia todo o fato da independência nacional, ao passo que a versão exata o reduz a uma coisa vaga e anônima.”

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Assim, Machado reconhecia que o “grito do Ipiranga” podia nunca ter acontecido tal como os livros registravam. Mas, para ele, a lenda condensava em uma imagem única todo o sentido da Independência, e por isso merecia sobreviver.

Dois olhares, um país

Entre a lucidez crítica de Rui e o apego simbólico de Machado, constrói-se a identidade nacional. A Independência é, ao mesmo tempo, fato histórico e mito fundador, documento político e narrativa poética. Ao nos aproximarmos do 7 de setembro de 2025, a reflexão ganha atualidade. Seguimos a celebrar um gesto que talvez não tenha acontecido como reza a lenda, mas cuja força reside exatamente em sua permanência.

Afinal, entre a versão oficial e a memória popular, o Brasil continua a viver, e a se reinventar, na tensão entre a história e a lenda.

(Fonte: https://www.migalhas.com.br)

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