Que tal pegar um violão e, com um bom grupo de amigos, cantar pela noite e jogar fora as angústias e saudades em forma de canção? Como ninguém nasce sabendo tocar e cantar é preciso ter uma iniciação desde tenra idade para que seja embutido esse sentimento de musicalidade. Isso também é exercício de cidadania.
Volto ao passado quando reverencio Villa-Lobos, que foi um desbravador e grande incentivador do canto orfeônico nas escolas públicas do Rio de Janeiro. Convidado pelo governo Vargas (1930-45) a colaborar na política cultural do Estado, Villa-Lobos incentivou a implementação de aulas de música nas escolas. O sucesso se materializou no dia 7 de setembro de 1940 quando comandou 40.000 vozes de estudantes no campo do Vasco da Gama, no Rio de Janeiro. Nesse dia o maestro chega ao estádio com sua cabeleira, sobe no pódio de madeira armado no meio do campo e, a um sinal dele, o estádio inteiro começa a cantar.
No meu tempo de ginásio, por volta de 1958, tinha aulas regulares de música e, num domingo memorável, cheguei a participar de uma apresentação no Teatro Municipal do Rio de Janeiro cantando Villa-Lobos sob a regência do maestro Eleazar de Carvalho, dentro do programa Concertos para a Juventude. Todo domingo de manhã aquele maravilhoso teatro era invadido por centenas de estudantes para uma convivência com a boa música erudita. Jovens de todas as camadas sociais tinham assento e não era uma prerrogativa de jovens da alta elite carioca. O menino da favela sentava ao lado do menino de pais ricos. Todos estavam ávidos de aprender com os ensinamentos de Eleazar de Carvalho.
Toda essa introdução para dizer o que seria possível fazer aqui em Poços de Caldas.
O presidente Lula sancionou no dia 18 de agosto de 2008, a Lei Nº 11.769, que estabelece a obrigatoriedade do ensino de música nas escolas de educação básica. A aprovação da Lei foi sem dúvida uma grande conquista para a área de educação musical no País. Todavia, existem também grandes desafios que precisam ser enfrentados para que possamos, de fato, ter propostas consistentes de ensino de música nas escolas de educação básica.
Em nossa cidade temos o Conservatório Musical Antônio Ferrucio Viviani vinculado à Secretaria Municipal de Educação com excelentes profissionais. Se em cada escola pública tivéssemos um grupo de canto orfeônico estaríamos formando um seleto grupo que no fim do ano poderia oferecer à nossa população um belíssimo espetáculo nas comemorações natalinas com a participação da nossa orquestra sinfônica e outros músicos da nossa cidade.
Certamente existirão sentimentos contrários dizendo que para isso será preciso recursos e a Prefeitura está quebrada e sem dinheiro. Apenas para esclarecimento é importante dizer que nesses últimos sete anos o DME dispende mais de 12 milhões de reais em projetos culturais e muito pouca gente sabe disso. Que tal o DME abraçar essa ideia?
Fica aqui uma sugestão ao nosso futuro prefeito Sérgio Azevedo, para que já possa planejar o seu primeiro Natal. Com isso estaríamos incentivando a atividade musical nas escolas públicas – obrigatório pela Lei 11.769 – implantando o sentimento de cidadania, oferecendo emprego e renda aos professores de música e com recursos providos pelo DME de forma mais digna e com resultados que possibilitariam uma maior e melhor difusão do conhecimento musical. Fica a ideia, sob a inspiração de Vila Lobos, para o surgimento de novos conceitos de formação dos nossos jovens.
FRASE DA SEMANA:
“Os inimigos nem sempre são maus, pois suas críticas negativas nos animam e nos desafiam a provar o quanto somos capazes”.― Paulo Coelho
Nota de esclarecimento
Por ocasião do último artigo (A RAINHA E OS URUBUS) foi feita uma postagem rebatendo a fábula apresentada com uma outra suposta fábula que poderia até ser considerada como verdadeira se quem a redigiu tivesse se apresentado com a sua própria identidade e não como fake demonstrando assim seu verdadeiro caráter e, portanto, sem o devido crédito. Essa pessoa já foi devidamente identificada. Quem sabe, um dia, eu tenha a vontade de escrever outra fábula… “AS LARANJAS PODRES NO REINO DA FANTASIA SOB A LUZ DO LUAR”. Fica para Janeiro próximo caso alguém queira ter essa curiosidade.
*O autor é advogado, ex-secretário de turismo, cidadão-honorário de Poços de Caldas, escritor e articulista do Poços Já.