O cidadão brasileiro tem que trabalhar cinco meses por ano unicamente para pagar impostos. Se Leonel Brizola estivesse vivo diria que o povo está sendo espoliado. E realmente está. São pais tirando seus filhos de escolas particulares para reduzir despesas. São famílias deixando os planos de saúde e se submetendo às parcas possibilidades dos postos de saúde e esperando meses para a realização de algum exame mais sofisticado. São crianças deixando de saborear seus iogurtes para reduzir os gastos familiares. São casais se privando de algumas benesses conquistadas ao longo dos anos deixando de dar aquela escapulida de fim de semana num restaurante um pouco mais requintado. São pessoas que acreditaram no Minha Casa Minha Vida e que, agora, deixam de pagar suas mínimas prestações em troca da compra de alimentos para a própria sobrevivência. Dentro de mim gostaria que tudo aqui dito fosse uma grande mentira. Mas não é.
No setor empresarial o fato se repete. Dezenas de empresas guinadas para a recuperação judicial quando se sabe que poucas conseguem sobreviver sendo obrigadas a dispensar funcionários – alguns com mais de 20 anos de casa – e vivendo na incerteza de um futuro mais promissor. O comércio, apreensivo, tenta encontrar caminhos para evitar prejuízo deixando de pensar no lucro, mola primordial do sistema capitalista.
Estamos todos regredindo. E a revolta se amplifica quando nos noticiários vem a descoberta das grandes falcatruas capitaneadas por políticos que estão no comando das grandes decisões e que, até recentemente, eram vistos como paladinos da integridade e da honradez.
Bilhões foram surrupiados por esses mesmos políticos que – até ultima instância – vão se declarar inocentes apesar de tantas provas já disponibilizadas e comprovadas. Tudo bem que as evidências começaram com a delação premida por Alberto Youssef que, condenado a mais de 100 anos vai ficar, depois de três anos preso, somente 3 meses com a tornozeleira e depois livre com a manutenção de alguns bens e vivendo, pra sempre, na boa vida tão desejada.
Uma coisa que se torna evidente é que os corruptores – leiam-se grandes empresários e gestores públicos – estão sendo levados às barras dos Tribunais enquanto os corrompidos – principalmente políticos – permanecem livres e alegando, sempre, a presunção da inocência. Até quando isso vai perdurar? Parece que com a detenção dos governadores Garotinho e Sergio Cabral, o cenário deverá mudar. Adriana de Lourdes é a mulher do peemedebista Sergio Cabral que ganhou de presente de um empreiteiro, em Paris, um anel no valor de 800 mil reais também está sendo indiciada.
Quebraram o Estado do Rio de Janeiro levando o povo a assumir os custos de uma administração falida e de difícil recuperação. Minas vive o mesmo problema. Milhares de prefeituras passam pelas mesmas dificuldades sem dinheiro para pagar o funcionalismo e deixando enormes dívidas para os sucessores que assumem em janeiro próximo.
Cabe ao povo refletir e tentar entender o que ocorre no nosso sistema político, em quem votar, em 2018, e as mensagens que serão lançadas ao eleitor como propostas viáveis. Pena que nas escolas não mostram nem ensinam o verdadeiro espírito da Revolução Francesa onde a solução final era a guilhotina.
A moralidade deve começar pelas eleições municipais. É preciso dignidade nas prestações das contas dos candidatos que são, via de regra, subdimensionadas, irreais e mentirosas porque o caixa dois permanece e é aí o início de um processo corrupto e de compromissos escusos. Alguém duvida ?
*O autor estudou Ciências Políticas na Europa em 1965. Formado em Direito, foi conselheiro para o comércio exterior da Bélgica por mais de dez anos, cidadão honorário de Poços de Caldas e ex-Secretário de Turismo. Escritor e editorialista.