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Poços de Caldas

Flor do Maracujá

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flor do maracujáA primeira vez que vi uma flor de maracujá eu me assustei. Não sei quanto tempo faz, eu era criança. Pensei que a flor estava viva. Imaginei que fosse um bicho, um inseto gigante ou coisa assim. Fiquei com medo dela. Era cheia de tentáculos e tinha cores vivas. Azul, amarelo, vermelho. O vento balançava os tentáculos, como se ela estivesse tentando pegar algo no ar. Mas logo vi que estava grudada na planta que a sustentava.

Já tinha ouvido falar em plantas carnívoras. Acreditei que, talvez, tivesse encontrado uma delas, cujas bocas eram as flores. Eram lindas e perigosas. Seu cheiro e a sua beleza, na minha imaginação, atraíam os insetos que elas capturavam e comiam.

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Flor traiçoeira, eu pensei. Maravilhosa e ameaçadora flor comedora de insetos. Deixava a todos encantados com suas cores inebriantes, sua simetria perfeita, seu perfume. Quando se aproximavam, concluí, ela mostrava sua sanha predadora e os devorava. Eu também estava inebriado.
Queria tocá-la, mas certamente ela comeria meu dedo. Ou a mão inteira, quem sabe? Achei melhor só observar. De longe. Sabe-se lá se ela não conseguiria estender aqueles tentáculos para puxar-me para perto dela? Sabe-se lá se ela não estaria a armar-me uma emboscada, de olho nos meus dedinhos?

Apesar de que eram uns dedinhos morenos e magricelas, sem nenhum atrativo. Se pelo menos fossem uns dedinhos gordinhos e apetitosos… Resolvi não arriscar! Eram dedinhos morenos e magricelas, mas eram os únicos que eu tinha na época… E eu os estimava muito!

Havia acabado de entrar na escola, começava a aprender a escrever. E precisava muito deles! Não podia arriscar… Estava gostando muito desse negócio de escrever e ler. Era uma novidade muito boa. E os dedos faziam parte do aprendizado. Eles desenhavam as letras, formando as palavras, e depois as seguiam pelas linhas, na hora de ler. Sem eles, eu pensava, nada de ler e escrever!

É claro que a flor de maracujá não comeu os meus dedos. Caso isso tivesse ocorrido, eu não estaria aqui a contar essa historinha, exaltando a beleza e o exotismo dela. É claro que talvez fosse melhor para todos, principalmente para o leitor. Se eu não tivesse aprendido a ler e escrever, não estaria aqui a tentar traduzir em palavras a beleza intraduzível da flor do maracujá, não é verdade?

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