Cair na festa, ser público e expectar o mundo de enredos das grandes manifestações culturais do século, “pops” ou “cults”, é o roteiro perfeito para quem folga nesse Carnaval e sai em busca de um descanso mais que merecido no merejar da arte, em gotas de confete e suor de avenida. Neste artigo, reconheço minha condição de plateia do Carnaval, mas ofereço um outro eu: o que produz os confetes e tenta emanar a calorosa cultura do cuidar para que teu suor seja de alegria. Falarei do produtor de festival no Carnaval. Falarei de mim.
Fazer, realizar, contorcer a veia cultural nas suas três dimensões: simbólica, econômica e cidadã. Produzir como quem faz pamonha e produz o milho. Esta quitanda chamada Carnaval, obra da matéria-prima chamada genericamente de festival. Festa na qual eu, você, teu primo e tua filha podem experimentar nuances quase utópicas, valendo-se da licença poética carnavalesca: experimentar. Afinal, pular carnaval ou fazer festival?
Há oito anos me inseri na produção cultural de um evento dentro do Carnaval. Um festival experimental, com bandas independentes e uma programação sempre flertando com uma coisa meio “vanguarda”. A motivação é um misto de protagonismo e de se fazer uma alternativa e partilhar com os outros. Inventar e oferecer.
Um evento que nunca fiz sozinho ou por vaidade. A organização deste festival em coletivo me trouxe a permanência nesse “modus operandis” de várias mãos e opiniões para muitos afazeres – tratarei dessa experiência em outro artigo, para não afugentar nenhum leitor folião. Aprendiz, me inseri na produção cultural a partir do Carnaval de 2010 e dessa morada nunca mais saí. Nunca mais saímos, é bem verdade.
A condição de produtor me traz também uma ideia de reconhecer quem são os outros, e deles cuidar. Quem dá uma festa é o bom anfitrião e amigo, sabe que no outro moram expectativas e inspiração. O Carnaval é um bom lugar para cuidar de alegrias além da sua ambição; local perfeito para experimentar uma produção – cultural, marginal, experimental, com sal, não ao teu gosto, mas ao gosto do folião.
Fazer um festival em meio ao Carnaval, me deu a consciência de que podemos criar o tempo todo a partir de uma demanda. Coexistir com outras festas, recebendo um público carente por algo diferente, foi o combustível destes anos todos. O sentimento é de colaborar para uma festa popular chamada Carnaval, ser ingrediente desta quitanda, um sabor a mais, para transformar o agradável em autêntico.
Do mesmo modo nunca deixei de curtir o Carnaval, porque foliando aprendi a fazer a folia. Fazer, realizar, contorcer aquela veia cultural citada acima; aprender a fazer o Carnaval. Em 2017, continuo no mesmo caminho, pois “Ninguém caminha sem aprender a caminhar, sem aprender a fazer o caminho” (Paulo Freire).
*Renan Moreira (renan.mgouvea@gmail.com) é produtor no Coletivo Corrente Cultural, onde se desenvolveu nas áreas de produção cultural, mídias digitais e políticas públicas. Atualmente dedica tudo que aprendeu desenvolvendo projetos na Secretaria de Educação e Cultura de Pouso Alegre e escrevendo ao Toró Cultural.