Instantes fotográficos. Especificidades de um momento subjetivo.
E quando a obra de arte é aberta, ou seja, impregnada com inúmeras possibilidades de leitura, o que a fotografia de obras tais pode realizar?
A exposição “O Que Trago De Arte Da Arte”, ainda aberta no Espaço Cultural Ziriguidum, responde a parte desta pergunta, embora o mote da exposição não seja responder a perguntas.
Composta quase inteiramente por fotos tiradas no Instituto Inhotim quando em excursão promovida pelo Atelier, a exposição traz um olhar fotográfico daqueles que para lá viajaram em busca da experiência artística das instalações do Instituto.
Para ser sincero, sou sempre muito reticente quanto a exposições fotográficas, temo pela abordagem artística do registro pela sorte de uma luz incidental adequada, um movimento inusitado de beleza não intencional ou um enquadramento minimamente eficiente de algo que por si já é pura estética.
Mas esta exposição de fotografias não tem essa pretensão. E por isso torna-se interessante!
Grande parte das fotos expostas é composta com pureza de intenções, e como foram tiradas por várias pessoas, ganham em riqueza de subjetividade. Os momentos artísticos capturados pelas lentes de cada um revelam exatamente uma variante de personalidades de “captura”. Como caçadores de uma poética especial que lhe seja característica, os fotógrafos realizam uma turnê de cliques para o registro de cores, espaços, obras elas mesmas, sensações e improvisos de emoções geradas em uma excursão em busca de momentos.
Mas pureza de intenções não redunda num olhar abobalhado. Alguns dos “caçadores” são fotógrafos profissionais, outros se profissionalizaram nos momentos fotografados… uma escultura que fotografo ainda é a escultura criada pelo artista, ou sou eu agora seu co-criador? Pessoas imersas em seus ambientes psíquicos de percepção, natureza e abstração para viveres variados e apreensões coloridas alimentadas por sombras objetivas! Em fotos, sempre presto muita atenção às sombras e reflexos… estes se tornam muitas vezes objetos em si.
Não há muito o que escrever sobre fotos. São para serem vistas, não?
Friso apenas o essencial, o exercício de apreender a arte em uma imagem parcial, pois a parcialidade do enquadramento neste caso é parte integrante da subjetividade do olhar de cada fotógrafo, a parcialidade como partição de componentes de um quebra-cabeças imagético de conjunto. Um conjunto de obras, um conjunto de fotógrafos, um conjunto de fotografias… a somatória de uma exposição! Como uma agenda repleta de memórias e sonhos em segundos de percepção capturada.
Talvez seja este um dos grandes méritos da fotografia. Uma memória imagética em si, onde luz, tempo, momento, enquadramento e mais, fazem do objeto câmera uma extensão do corpo pensante daquele que clica o instante. Arte instantânea. Minha, sua, e dos outros.
Mas há que se ver.
*Gustavo Santos é arquiteto (USP São Carlos)