Trabalhar com produtos artístico-culturais é lidar com o efêmero, obras intangíveis que existem enquanto relação com o público. É construir eventos pontuais que encontram seu propósito máximo quando consumidas. Propostas que, tal qual o enigma da esfinge, devoram o interagente enquanto este tenta decifrá-la. Nesse sentido, o que mais importa na arte é a subjetividade do expectador que será produzida do seu contato com a cultura.
Mas, não estaria eu enganado em afirmar que o potencial artístico-cultural está em sua efemeridade? E as exposições permanentes que frequento ou as obras plásticas que vejo, toco, sinto e que, claro, existem fisicamente. Eis a pegadinha, na minha opinião. Qualquer obra de arte, material ou simbólica, online ou off-line, só encontra significado enquanto brecha que fornece para a produção de algum significado humano. E não há nenhuma interpretação possível sem algum contato com a obra, feito por pessoas e através delas.
Ora, de que serve um livro publicado que ninguém lê, um filme produzido que ninguém vê, uma escultura com a qual ninguém interage. Sem a relação com as pessoas, tem-se apenas objetos impassíveis de gerar a fruição, o questionamento, o incomodo, a apreciação e tudo o que uma obra de arte pode proporcionar. Público importa, pois sem ele tudo isso que caracteriza a produção artística não completa o seu ciclo, ficando apenas no campo virtual: obras com alto potencial de impacto, mas que nunca o concretizam em prol do desenvolvimento cultural.
Entendo que a argumentação até aqui possa sugerir que a relação entre arte e público deva ocorrer em grandes espaços, para uma massa pronta para sua ovação. Que nada, o compromisso da arte também reside no micro, perante indivíduos e pequenos grupos. Essa é a maior semente que pode ser plantada nesse solo fértil que é a cultura: aquela que guarda o potencial educacional. Educar para e pela arte é, no mínimo, formar gente para enxergar além do potencial do efêmero.
Logo, educação é a ferramenta que garante que um show não seja apenas mais um, por exemplo. Ela é quem garante as conexões que irão pautar conversas, relações, trabalhos, tudo com significados, pois pessoas educadas artisticamente sabem valorizar não apenas a dimensão da estética, que tem sua importância, mas aprendem a olhar adiante e encontrar a ética, a qual protege os valores positivos da sociedade e se configura na realização daquilo que guarda a obra de arte, respondendo para que serve a cultura.
*Guilherme Garcia (gui.com.soc@gmail.com) acredita no potencial da Cultura e da Comunicação em prol da Educação para um mundo melhor.