Sem dar boa noite ou cumprimentar o público, o palestrante se dirige ao púlpito, toma um gole d’água e inicia um falatório sem fim. Quem o acompanha por alguns minutos, logo percebe que a falta de apresentação nada tem a ver com desprezo ou má educação, mas sim com o fato dele demonstrar ter uma mente acelerada.
A fala, ora pausada e mais calma, ora exaltada e quase que sem respirar, já é característica para quem o viu pela TV, rádio, assiste ou assistiu suas aulas nas universidades e até mesmo para aqueles procuraram seu nome no Youtube. Assim como a certeza absoluta de dar boas risadas e, claro, refletir bastante sobre assuntos que não costumam ser o centro das nossas atenções. Essa é uma boa descrição para entender um pouco da experiência de assistir uma palestra do professor Clóvis de Barros Filho.
Usando exemplos do cotidiano, o jornalista e advogado, em sua segunda participação no Festival Literário de Poços de Caldas (Flipoços), fala sobre a busca incessante pela felicidade. Passando por Platão, Sócrates e pensadores modernos, além de contar experiências vividas em seu cotidiano e citar nomes de famosos como Robin Williams, Michael Jackson e Amy Winehouse, Clóvis busca uma definição para aquilo que acreditamos que seja ser realmente feliz, relacionando o termo com o amor, chamado por Platão de Éros. “Se você pensar, nesse momento, aquilo que você deseja é também aquilo que você ama. Então, você aprende que a intensidade do amor é a intensidade do desejo, a duração do amor é a duração do desejo. […] O desejo é a falta, o desejo é por aquilo que faz falta, por aquilo que não temos e gostaríamos de ter, aquilo que não somos e gostaríamos de ser, é por aquilo que não fazemos e gostaríamos de fazer […]. Você ama o que deseja e deseja o que não tem”, declara.
O livro Felicidade ou Morte, escrito em parceria com o também filósofo Leandro Karnal, traz reflexões e pensamentos sobre o tema. Para Clóvis, a troca de experiências e pensamentos com outros profissionais enriquece a narrativa. “Na verdade, esses livros são diálogos e, é claro, em torno de temas, você tem algumas coisas que pensamos parecido, outras que pensamos diferente. Eu acho que isso só enriquece o livro e, como ninguém tem a pretensão de ser o detentor de alguma verdade, fica mais fácil, no espirito de tolerância e de amizade, produzir alguma coisa junto”, explica.
No palco, Clóvis não deixa por menos. Por diversas vezes provoca o público sobre o que seria o real sentido da felicidade, além de fazer com que todos reflitam sobre o tema com uso de humor e exemplos extremamente simples. Aplaudido inúmeras vezes durante a palestra, o professor se deixa descontrair junto ao público, onde é difícil encontrar cadeiras vazias. “A felicidade não tem a ver com isso, não? Gostar de estar aonde você está. Ou será que a felicidade tem a ver com querer estar em outro lugar que não aquele que você está?”, questiona quase no final.
Ovacionado por toda platéia, que aplaudiu de pé, o professor agradece inúmeras vezes e confessa esperar que, durante aquela hora e meia que esteve ali, alguém tenha desejado voltar a ouvi-lo, ler o livro que escreveu em parceria com Karnal ou qualquer outro, e até mesmo levar um conhecido da próxima vez. Em suma, que tenha proporcionado, de alguma forma, um momento da incessante felicidade pela qual buscam. Uma palestra para ver e rever. Boa para aqueles que conhecem e não conhecem Clóvis de Barros.