Dias desses, vendo minhas fotos antigas, percebi a diferença dos sorrisos de antes e os sorrisos de agora. Lá num passado não muito distante, de quando eu era apenas uma ultra jovem que merecia respeito (entendedores entenderão), não tínhamos redes sociais e nem câmeras digitais, nos encontrávamos pra conversar ao vivo, e nos desencontrávamos mais um tanto, já que um erro de comunicação sobre o horário era crucial. Você tinha dito que era às 13 e ele entendeu que era às três, e lá vai você esperar duas horas a fio, já que não havia como se comunicar com seu amigo que estava na casa da avó que não tinha telefone. Telefone fixo né gente, nem sonhávamos em celulares nessa época.
Pois bem, nesse passado sem celulares e sem câmeras digitais nós registrávamos nossos momentos em filmes de 12, 24 e 36 poses, e o tanto que a gente economizava as fotos?! Gente, era caro isso, uma raridade ter um filme de 36, e ele durava meses e meses. Nada disso de tirar foto das pernas na praia, era uma foto de todo mundo junto pra registrar o momento e prontocabô. Saiu de olho fechado, azar o seu. E assim registrávamos economicamente cada momento importante das nossas vidas.
Mas o sorriso, que afinal comecei falando disso né, então, vendo fotos dessa época percebi que nossos sorrisos eram mais francos. Uns mais abertos, outros semi-cerrados, outros de cantos de boca, no entanto todos eles genuínos. Poderia não ser seu ângulo mais favorável, mas era um sorriso sincero. Um sorriso que sabia que ficaria registrado apenas nas lembranças daqueles que estavam participando do momento, que seria compartilhado com pessoas as quais eram importantes para você, e que curtiriam, estando bonita ou não, pois você era importante para elas. Nos dias de hoje percebo que os sorrisos são posados, aqueles que pegam seu melhor ângulo, mas não sua real alegria, aquele que é pensado, posado e repetido várias e várias vezes até que fique bom o suficiente para você compartilhar com um monte de gente que nem é importante para você (e você menos importante ainda para elas), para que elas curtam e te encham de elogios.
Não estou julgando quem faz isso, eu mesma coloco as fotinhas que me favorecem na rede, a questão é a sinceridade dessas imagens. Indiscutivelmente hoje em dia temos mais sorrisos bonitos, porém muito menos sinceros. E daí que saímos com a boca aberta numa gargalhada?! E daí que saiu um olho aberto e outro fechado enquanto abraçava um amigo?! Deveríamos nos preocupar mais em registrar momentos do que apenas imagens.
Olhando as fotos de 15 anos atrás vi um pessoal que definitivamente não estava em seu melhor ângulo, mas estava em um momento especial o bastante para ser registrado. Que um dia possamos voltar a desfrutar de mais imagens analógicas sinceras e menos imagens digitais perfeitas.
*Karol Dias é formada em jornalismo pela PUC-Campinas e fez curso de moda com Maria Prata.