Continuando a nossa série de artigos sobre o Conjunto Arquitetônico da Av. Francisco Salles, construído durante o mandato do prefeito Francisco Escobar, vamos hoje falar de uma bela construção que infelizmente ficou apenas na memória de nossa cidade: o Cine Teatro Polytheama.
Sim, por incrível que pareça, este era o local em que estava esta belíssima construção. A sua inauguração foi em 1911, pelo arquiteto José Piffer. A obra tinha vários detalhes artísticos impressionantes, chegando até mesmo a ter rostos esculpidos de grandes artistas do teatro e da música, como Carlos Gomes, Giuseppe Verdi, Sheakespeare e entre outros. A sua arquitetura interna seguia os mesmos padrões luxuosos da franquia de polytheamas no Brasil, tendo um amplo espaço para a plateia, frisas e uma série de camarotes especiais para a elite.
Na inauguração do teatro, teve a presença da companhia de ópera Gatini Angelini, com a Geisha, que apresentou as operetas “Viúva Alegre”, “Sonho de Valsa”, “O vendedor de Pássaros”, “Sangue Vienense” e “Sinos de Corneville”. Mais tarde, houve também atrações internacionais como os consagrados italianos Ermete Zacconi e Gustavo Salvini, este último considerado para a época um grande intérprete dos textos de Shakespeare e Ibsen. A sua vinda foi tão importante para a cidade que a Prefeitura Municipal de 1915 providenciou uma placa de bronze para homenageá-lo. Essa peça pode ser encontrada hoje em dia no Museu Histórico e Geográfico de Poços de Caldas.
Além de teatro e cinema, o Polytheama também tinha seu próprio cassino, proporcionando diversas atrações e eventos sociais. Mas por causa da proibição dos cassinos em 1946 no Brasil, o local acabou fechando as suas portas. A partir de 1949, o espaço foi transformado em uma grande loja de móveis.
A estrutura do Polytheama foi preservada por uns 80 anos até os anos 90, que foi quando o crime contra o patrimônio foi cometido pelo simples motivo de quererem tirar uma construção que estava “velha demais na cidade”. Como não havia leis que proibissem que esta atitude fosse tomada, nada foi feito para que a ação fosse negada e assim o famoso Polytheama foi levado ao chão junto com as lágrimas de todas as pessoas que tinham saudosas memórias do antigo teatro. E o pior é que nem mesmo havia planos para construir algo no lugar, deixando apenas um espaço vazio para que mais tarde fosse usado como um estacionamento.
Depois de crimes patrimoniais como este, começaram haver na cidade leis para proteger os patrimônios históricos, surgindo também o CONDEPHACT (Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico, Artístico, Cultural e Turístico) para manter as construções históricas no município. Mas até hoje ainda é uma incansável luta pois, com o crescente avanço da urbanização e da população, mais construções históricas correm o risco de se extinguirem no surgimento de novos prédios, principalmente quando ainda não estão tombadas (proibidas de serem demolidas) ou inventariadas.
Por isso que este é um pedido que eu faço para toda população. Se você é dono de um local histórico, preserve, não deixe que a história da cidade se apague, se você quer construir um prédio no lugar de uma casa antiga, estude a possibilidade de construir um prédio usando a casa antiga como salão de festa ou entrada do prédio, pois existem diversas formas para contornar a situação sem que haja a necessidade de demoli-la. A nova geração irá agradecer muito atitudes como esta, pois eu acho uma grande tristeza saber de lugares que apenas nossos antepassados puderam presenciar e nós não podemos ver com nossos próprios olhos, sendo que muitas vezes temos que ver outras coisas construídas no lugar ou ver o espaço ter se tornado apenas um estacionamento ou algo parecido.
Agora, para refletir, imagine que se o Polytheama em Poços de Caldas tivesse sido preservado, reformado e utilizado da forma que merecia. Hoje poderíamos ter um teatro como temos na cidade de Jundiaí:
Bom, se você se interessou em saber mais informações e ver mais fotos sobre o Polytheama, acesse este link para ir ao meu blog, onde coloco todas as fotos que encontro sobre o antigo teatro.
E se você quer saber quais lugares na cidade que estão hoje sobre as leis de preservação, acesse este link para ir ao serviço da prefeitura que mostra em um mapa os locais que hoje estão tombados e inventariados.
*Rafael E. Henrique é formado em Ciências da Computação em São José dos Campos e também tem uma paixão por história e fotografia, o que o levou a criar o site Resgatando Cidades e o Resgatando Poços de Caldas para mostrar comparações e pesquisas sobre o passado da cidade com a intenção de incentivar a sua preservação.