Roteirista, cronista e colunista, Tati Bernardi tem trabalhos na literatura, teatro, cinema e televisão. Com um talento que parece não ter limites, seu público também é difícil de medir. Ela é uma das presenças confirmadas no Flipoços 2017, que acontece entre os dias 29 de abril a 7 de maio, onde vai falar do seu último livro “Depois a Louca Sou Eu”, lançado pela Companhia das Letras em fevereiro do ano passado.
Em entrevista exclusiva ao Poços Já, Tati falou sobre a vontade de conhecer a cidade, que considera “uma graça”. Ela ainda comentou temas como a adaptação dos autores à recente popularização da internet, além de outros assuntos como direitos autorais e a própria rotina. A data da palestra no Flipoços ainda não foi divulgada.
Poços Já: Como surgiu o convite para sua participação no Flipoços? Já tem algum tema específico sobre o qual você vai falar?
Tati: A Companhia das Letras e a curadora Gisele Ferreira me comunicaram na semana passada. Fiquei muito feliz com o convite. Vou aproveitar pra conhecer a cidade, que sempre achei uma graça, e conviver alguns dias com leitores interessantes e ótimos autores. Pretendo falar do meu último livro, “Depois a louca sou eu” e do meu estilo “primeiro pessoa” de escrever, com tudo o que ele tem de “lavar a alma” mas também de “estar exposta e sofrer as consequências psíquicas disso”.
Poços Já: Como está no ramo há algum tempo, creio que tenha acompanhado pessoalmente a ascensão da internet em relação aos outros meios de comunicação. Como vê isso? Acredita que o papel (livros e publicações impressas) possa estar perdendo espaço?
Tati: Eu acredito que o livro nunca vai acabar. Não tem como! O prazer de ir a uma livraria, o cheiro do livro, grifar a página, ter vários livros em uma biblioteca e poder olhar e quantificar fisicamente os seus preferidos…mas tenho primos mais jovens e filhos de amigos que usam o Ipad pra tudo e não compram mais o livro impresso…ainda assim acredito que o livro no Ipad não deixa de ser livro, não é? Já a Internet, mais especificamente o Youtube, é uma preocupação gigantesca das emissoras. Os jovens não assistem mais TV! Essa sim perdeu um imenso público. O livro, no Brasil, nunca teve um imenso público. A editora que souber equilibrar livros mais comerciais com livros mais autorais vai sempre se manter no mercado. É também o que eu faço pra me manter! Sempre misturo trabalhos mais autorais com outros mais comerciais. Críticas boas são sempre muito bem vindas, mas se elas não pagarem minhas contas e ninguém me ler, de que adiantam?
Poços Já: Com vários textos publicados em diversos locais diferentes da internet, é possível que os créditos ao autor se percam nesse processo. Isso já aconteceu com você? Como lidar com esta situação?
Tati: Hoje, mais da metade do que tem na Internet, assinado com meu nome, não é meu! São frases bregas, de auto-ajuda, fofinhas, tolas, isso é péssimo pra minha carreira como escritora. Já tive que derrubar algumas “fanpages” que usavam indevidamente meu nome e foto e publicavam textos que jamais escrevi. Acredito que isso seja pior do que simplesmente pegar um texto meu e publicar sem dar o devido crédito. Agora, obviamente, se alguém usar um trabalho meu para fins lucrativos sem dar crédito ou me consultar, eu vou ficar bem chateada.
Poços Já: Sua literatura é bastante apreciada por jovens, você acredita que esteja contribuindo para a formação de novos leitores?
Tati: Recebo muitos emails de jovens dizendo que eu os inspiro a escrever e a ler. Nunca gostei de autor muito rebuscado, lento, que fica dez páginas narrando a cor do piso da sala do protagonista. Eu quero saber o que o protagonista pensa, sente, qual a neurose dele, o que faz seu estômago doer…e quero saber logo! Acho que esse estilo ágil e ansioso fala muito com os jovens multitasking de hoje, acostumados com as facilidades da internet.
Poços Já: Por último, como conciliar os trabalhos como roteirista, cronista, colunista e outros?
Tati: Esse ano pretendo fazer, com muita calma e dedicação, uma coisa de cada vez. Quando pego muitos projetos (ao mesmo tempo) acabo cheia de dores nas costas, completamente doida da cabeça e, pior de tudo, o trabalho não fica tão bom quanto poderia e deveria. A crônica é semanal, não tem como correr dela. Mas na hora H a inspiração sempre vem! Já roteiro pra cinema, infelizmente vou ter que dizer não para alguns convites. Eu tenho uma dificuldade enorme em dizer não para projetos legais.