A Yellow Cap é uma banda alemã que toca música jamaicana. No Brasil. Os alemães estão fazendo uma turnê por aqui e participaram do Grito Rock, em Poços de Caldas, na terça-feira de Carnaval. Depois do show, conversamos com o vocalista Kay Natusch e o baterista Lars Friedrich.
Para eles o público daqui sabe se divertir. Aliás, os brasileiros em geral parecem ser bem mais agradáveis do que os “reclamões” da Alemanha, como os próprios músicos definem. É por isso que eles dizem parecer mais com os brasileiros. Os dois ainda falam da cena para música alternativa germânica e da origem da música Gabriela, feita depois de várias noites nas praias de Trindade (RJ).
Poços Já: Vocês já tocam no Brasil há alguns anos. Conseguem arriscar o português?
Kay: Sim, o Lars inclusive melhorou muito o português dele. Os outros não, mas ele é muito bom em português. Entende muito e pode dizer qualquer coisa.
Poços Já: Qual a diferença entre o público brasileiro e o alemão?
Kay: Eu posso dizer que os alemães assistem mais. Eles gostam de dançar, mas não como os brasileiros. Brasileiros tem fogo por dentro, sabem dançar, aproveitam o show. Por isso que nós voltamos ao Brasil, as pessoas são tão legais e amam música. Eu também acho que para os brasileiros nossa música é um pouco européia. Eles conhecem o reggae muito bem, mas não o rocksteady e o ska. É algo novo para eles e eles gostam.
Poços Já: Bandas famosas brasileiras, como Paralamas do Sucesso e Skank, têm influências do ska. Vocês conhecem essas bandas?
Kay: Claro. Skank, claro. Nós conhecemos muitas, mas ouvimos Sapo Banjo e OBMJ, Orquestra de Música Brasileira Jamaicana. (A partir de agora ele fala em português)Você conhece essas bandas?
Poços Já: Não.
Kay: É uma banda de São Paulo, de rocksteady, muito bom (agora volta ao inglês).
Poços Já: Aqui no Brasil é difícil conquistar espaço para a música autoral. Como é na Alemanha.
Lars: É o mesmo. A maior parte do dinheiro vai para a música cover. É muito triste, mas se você tem uma grande gravadora não toca a sua própria música porque as grandes gravadoras te dizem o que fazer. Se quiser tocar música autêntica tem que lutar por isso. É triste, mas verdade.
Kay: Na Alemanha nós temos uma cena para ska e rocksteady. Eu poderia dizer que é uma grande cena. Mas na Alemanha são promovidas sempre as mesmas bandas. Há muito mais bandas muito boas, mas o público ouve sempre a mesma coisa. É uma pena.
Lars: Eu acho que a cena alternativa é bem grande, tem bandas de punk e ska. Mas especialmente no ska o público está ficando mais velho e não tem muitos jovens ouvindo.
Kay: Mas nós tentamos nosso melhor para renovar o público.
Poços Já: Desde quando vocês tocam no Brasil?
Kay: Nós fizemos a primeira turnê em 2013. O primeiro show foi em Ouro Preto, para 20 mil pessoas. Maravilhoso.
Poços Já: E quais as suas impressões sobre o país?
Kay: Para mim é o paraíso. Nós amamos o Brasil e as pessoas daqui. Claro que algumas coisas não funcionam muito bem, há muitos pobres e os políticos não são muito bons. Mas eu acredito que as pessoas são abertas, têm a diversão dentro de si. Mesmo com coisas ruins, estão todos rindo e aproveitando suas vidas. A maioria dos alemães tem uma vida maravilhosa, mas eles sempre dizem que não está bom.
Lars: São reclamadores, tem essa grande diferença. As pessoas aqui não reclamam o tempo inteiro. Na Alemanha as pessoas tem mais coisas e ficam reclamando algo como “Sim, eu tenho dois carros mas preciso de uma garagem maior”. É muito irritante, nós odiamos isso. Eu me sinto mais próximo dos brasileiros do que da mentalidade dos alemães.
Poços Já: Vocês estão tocando em um evento de Carnaval. Tiveram a oportunidade de estar na festa das ruas?
Kay: Nós estivemos no Carnaval de São Paulo e no Rio e foi ótimo. É uma parte da cultura do país, as pessoas devem mantê-lo.
Poços Já: Quem é a Gabriela da música?
Kay:É uma bebida. Nós estivemos em Trindade por muito tempo. Quando estivemos no Brasil pela primeira vez trabalhamos para uma empresa que iria promover um show por dia na primeira semana, mas eles logo cancelaram. Como tínhamos uma semana livre, fomos para Trindade e tentamos tocar lá. E tocamos. Todo dia depois do show, na praia, nós tomamos Gabriela. Nós achamos que devíamos fazer uma música sobre ela. A letra não diz que Gabriela é uma bebida, se você ouvir vai achar que é sobre uma menina. Diz “eu te amo, você é tão doce”, mas é sobre a bebida.
Poços Já: Como começou a história da banda com o Brasil?
Kay: É uma longa história. Eu, por exemplo, pratico capoeira há anos. Na primeira vez no Brasil eu conheci um cara que mostrou alguns movimentos da arte da capoeira. Eu treino o tempo todo e conheci muitos brasileiros, inclusive Fred Furtado, de Belo Horizonte, que organiza shows e nos tornamos bons amigos. Uma vez ele convidou a banda para vir ao Brasil e nós viemos. Aí toda a banda se apaixonou pelo Brasil e estamos aqui pela quarta vez.