A escritora Camila Panizzi Luz associou a literatura marginal à prisão durante um dos debates do Festival Literário Internacional de Poços de Caldas (Flipoços). O comentário fez com que a organização a retirasse das atividades do evento e recolhesse seu livro. Além disso, a Divisão de Políticas de Promoção da Igualdade Racial e Étnica e da Rede da Igualdade Racial de Poços de Caldas repudiou a situação.
A fala da escritora se deu na mesa “Raízes e Asas: Literatura e Artes Sem Fronteiras – O Encontro de Mãe e Filha na Terra Natal”, quando chamou o autor Wesley Barbosa, que tinha acabado de conhecer, para que participasse do painel e apresentasse seu livro.
Wesley é integrante do Coletivo Neomarginais e participa da feira divulgando a obra Viela Ensanguentada. Durante a conversa com a escritora ela o questionou sobre como fazer para ser neomarginal e se o coletivo teria interesse em ser sua editora ou gráfica. Ao que Wesley respondeu dizendo para que ela fosse ela mesma e que conversariam sobre o assunto.
Infelizmente, Camila encerrou esse bate-papo dizendo: Eu quero ser uma neomarginal, gente. Olha que tudo! Camila Luz neomarginal. Nunca fui presa, mas agora sou da sociedade, né?
Com essa fala ela teria expressado seu preconceito e racismo, associando a literatura marinal a prisão, desconhecendo a cultura da década de 70 que caracterizaa produção independente e que, frequentemente, aborda temas e experiências de grupos sociais marginalizados. Como a população das periferias urbanas, minorias étnicas e culturais, e outros grupos que se sentem excluídos da sociedade.
Wesley ainda tentou ponderar, lembrando que escritores e artistas são marginalizados pela sociedade, e depois passou a comentar sobre a sinopse de seu livro. Ainda assim, após o debate ele usou sua conta no instagem para postar o vídeo do conteúdo com a legenda “Também nunca fui preso”, clique aqui para assistir.
Rapidamente a questão se espalhou para além do público do festival. A organização emitiu nota e inclusive um comentário no post para dizer que não não compactua com atitudes ou falas como aquela. “Essa opinião é pessoal e não representa o festival”.
Em sua nota de repúdio, o Flipoços apoiou o escritor, que manifestou ter se sentido ofendido, além de ter reafirmado seu compromisso de ser um festival com espaço de liberdade, respeito e celebração da cultura em todas as suas formas.
O caso também foi abordado pela Divisão de Políticas de Promoção da Igualdade Racial e Étnica e da Rede da Igualdade Racial de Poços de Caldas. Em nota, a Divisão diz que não concorda, não compactua e não admite qualquer tipo de discriminação e preconceito. Especialmente neste momento quando Poços de Caldas tem avançado significativamente na luta antirracista.
Por fim, a própria escritora reconheceu a fala infeliz em nota emitida por sua produção, pediu desculpas, embora tenha afirmado que as alegações se basearam em recortes de mensagens privadas e fora do contexto.
Camila Luz – “É doloroso ver a luta por justiça ser usada como palco para autopromoção”
“Nos últimos dias, surgiram acusações públicas contra Camila, alegando condutas racistas com base em recortes de mensagens privadas e fora de contexto. Reconhecemos que houve uma fala infeliz, que pode ter sido mal interpretada, e por isso lamentamos profundamente se alguém se sentiu ofendido.
Entretanto, é importante ressaltar que Camila tem plena consciência de seus privilégios e já demonstrou inúmeras vezes sua disposição em abrir espaço para outras vozes – inclusive, cedendo seu próprio protagonismo em eventos, feiras e espaços profissionais, em respeito e reconhecimento à desigualdade histórica que permeia nossa sociedade.
Camila seguirá refletindo, aprendendo e se posicionando sempre ao lado da inclusão e do respeito.”
Flipoços – “Nota de Apoio ao escritor Wesley Barbosa e ao Coletivo Neomarginais”
O Flipoços 2025 repudia veementemente qualquer ato de racismo, discriminação ou preconceito. Nosso evento tem como pilares a diversidade, a inclusão e a valorização de todas as vozes — especialmente aquelas que historicamente foram silenciadas.
Durante uma das mesas do Festival, um dos integrantes do Coletivo Neomarginais foi alvo de um episódio lamentável de cunho racista.
Na mesa “Raízes e Asas: literatura e artes sem fronteiras, o encontro de mãe e filha na terra Natal”, a escritora Camila Panizzi Luz decidiu convidar o escritor Wesley Barbosa, integrante do Coletivo Neomarginais, que estava na plateia, para subir ao palco e participar da conversa, no entanto, ela assumiu uma postura inaceitável, com falas ofensivas ao autor do Coletivo.
Diante disso, o festival decidiu por romper vínculos entre a autora e a programação, retirar os seus livros da Feira e cancelar todas as demais atividades em que a autora estaria vinculada nesta e em outras realizações do Festival.
Visando preservar o respeito e a escuta mútua nas próximas edições, o Festival se compromete à abertura de uma convocatória de escuta para fortalecer a curadoria, que sempre esteve aberta a todos as formas de pensamentos enaltecendo a diversidade, representatividade e a pluralidade de vozes.
A presença do Neomarginais no Flipoços, com um estande vibrante e potente, é motivo de orgulho para todos nós. Suas obras são urgentes e essenciais para a construção de uma sociedade mais justa e consciente.
Reforçamos que o Flipoços, ao longo de seus 20 anos, sempre foi — e continuará sendo — um espaço de liberdade, respeito e celebração da cultura em todas as suas formas.
Importante destacar que, em um espaço de fala livre e democrática como o Flipoços, não é possível prever o que cada pessoa dirá ao microfone. Ainda assim, reafirmamos que não compactuamos com nenhum tipo de discurso discriminatório ou ofensivo, e seguiremos atentos para preservar o respeito e a escuta mútua em todas as atividades do evento.
Seguimos juntos, lutando por um mundo onde todas as histórias possam ser contadas e ouvidas.”
Nota Divisão de Igualdade Racial e Étnica
A Divisão de Políticas de Promoção da Igualdade Racial e Étnica e a Rede da Igualdade Racial de Poços de Caldas receberam com indignação e tristeza as falas de cunho racista proferidas pela escritora Camila Panizzi Luz ao também escritor Wesley Barbosa, durante a mesa “Raízes e Asas: literatura e artes sem fronteiras, o encontro de mãe e filha na terra Natal”, dentro da programação do Flipoços 2025.
Frente aos fatos, manifestamos nosso veemente repúdio e nos juntamos a Wesley Barbosa em sua jornada de luta e dedicação à literatura. É inaceitável que episódios de discriminação racial persistam em nossa sociedade, especialmente em um ambiente tão importante para o desenvolvimento da cidade, como é o Festival Literário Internacional.
Sabemos que a literatura, a cultura e a arte podem ser ferramentas poderosas para transmitir valores como respeito e equidade, na construção de uma sociedade justa onde todos se sintam pertencentes. Por isso, esperamos de todos os envolvidos no universo cultural uma postura ética e responsável.
Neste sentido, cabe destacar que a organização do evento decidiu romper vínculos entre a autora e a programação, retirar seus livros da feira e cancelar todas as demais atividades em que a autora estaria vinculada nesta e em outras edições, além de se comprometer a abrir convocatória de escuta para fortalecer a curadoria, garantindo a representatividade e pluralidade.
A Divisão de Políticas de Promoção da Igualdade Racial e Étnica e a Rede da Igualdade Racial não concordam, não compactuam e não admitem qualquer tipo de discriminação, e preconceito, especialmente neste momento quando Poços de Caldas tem avançado significativamente na luta antirracista, com iniciativas de letramento racial e combate ao racismo estrutural, com a recente criação da Divisão e da Rede e adesão ao Sinapir – Sistema Nacional de Promoção da Igualdade Racial.
Por fim, expressamos nossa solidariedade ao escritor Wesley Barbosa, afetado por este lamentável episódio em nossa cidade, e reforçamos nosso compromisso em trabalhar incansavelmente para erradicar o racismo e todas as formas de discriminação da sociedade. Não pouparemos esforços nessa luta.