
O papa Francisco colocou o cuidado com o meio ambiente e com os mais pobres no centro do seu pontificado. A avaliação é do arcebispo de Brasília, cardeal Paulo Cezar Costa, que vai participar da escolha do novo papa. O pontífice argentino faleceu nesta segunda-feira (21), aos 88 anos.
Ecologia
“Deixa esse grande legado para o mundo, principalmente a questão ecológica, o próprio nome, quando escolheu Francisco [em referência a São Francisco de Assis, conhecido como protetor dos animais e da natureza]. Ele foi alguém que amou a ecologia, que percebeu que temos uma casa comum e, por isso, chamava todos de irmãos e de irmãs”, disse dom Paulo em coletiva de imprensa, nesta segunda-feira, em Brasília.
De acordo com dom Paulo, quando o papa Francisco propõe a Laudato Si ele alerta que a industrialização – a razão moderna – não conseguiu conciliar desenvolvimento com sustentabilidade. “É preciso buscar, então, a razão contemplativa. É preciso olhar a realidade e perceber que tudo é dom do amor misericordioso de Deus, que precisa ser conservado, precisa ser preservado”, afirmou.
A Laudato Si (em português, Louvado Seja) é o título da encíclica do papa Francisco sobre o cuidado com o meio ambiente. Escrita em 2015, é uma reflexão sobre a crise ecológica e um apelo à ação para proteger o planeta. Em resumo, uma encíclica é a forma mais elevada de escrita papal.
Outras causas
Para o arcebispo de Brasília, Francisco também deixa um legado de simplicidade, de uma igreja evangelizadora e missionária.
“Uma igreja que vai para as periferias humanas, para as periferias existenciais, é um legado de acolhida”, destacou, dizendo que o Papa era “profundamente antenado” com as questões atuais, como a migração e as guerras.
De acordo com dom Paulo, Francisco dizia que o Mar Mediterrâneo não poderia ser um “cemitério de pessoas”. Isso porque, no local, muitos barcos com refugiados naufragam tentando chegar à Europa.
Conforme o cardeal, o papa defendia que o diálogo é o caminho para a resolução das guerras em curso no mundo. “Um papa que percebia o horror da guerra, que o horror da guerra não é solução para nada, é só falência da humanidade”, disse.
Ao olhar para a própria Igreja, o religioso trabalhou pelo combate à pedofilia dentro da instituição, pedindo tolerância zero com os abusos. Em 2013, Francisco criou a Comissão de Proteção à Criança do Vaticano, a primeira do gênero. “Não tem que ter tolerância nenhuma”, reforçou o arcebispo de Brasília. “Um papa que deixa sua marca na vida e caminhada da igreja.”
Convite para vir ao Brasil
Dom Paulo Cezar Costa foi feito cardeal pelo papa Francisco em 2022 e chegou a convidar o pontífice para vir a Brasília em julho deste ano, na celebração dos 65 anos da Arquidiocese da capital e na preparação para a 30ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (COP30), que será em novembro, em Belém, no Pará. “Se tivesse condições, tenho certeza de que ele viria”, disse.

(foto: Fabio Rodrigues-Pozzebom/ Agência Brasil)
“Parece que perdemos um pai”, afirmou dom Paulo, lembrando de sua proximidade com Francisco e do espírito brincalhão do pontífice, que assumiu a liderança da Igreja Católica em fevereiro 2013, após a renúncia do papa Bento XVI, que faleceu em janeiro de 2023.
Francisco, nome escolhido por ele para seu pontificado, nasceu Jorge Mario Bergoglio, em Buenos Aires, na Argentina, filho de imigrantes italianos. Foi o primeiro papa das Américas, que, para o cardeal, “serviu a igreja com alegria”.
“Um homem que, eu diria, foi um pai para o mundo, porque apontou para o mundo suas alegrias, mas também seus problemas”, disse Dom Paulo.
*Fonte: Agência Brasil