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A valorização dos servidores e a responsabilidade da gestão fiscal

O debate sobre a valorização dos servidores públicos municipais não pode ser reduzido a um impasse financeiro. A recente coletiva de imprensa do prefeito apresentou uma narrativa que ignora elementos fundamentais da situação fiscal do município e as consequências da má gestão. Os servidores municipais reivindicam um reajuste justo, embasado em um estudo do Dieese, que utilizou dados públicos disponíveis na Secretaria do Tesouro Nacional. No entanto, a resposta da prefeitura se limita a apontar os limites impostos pela Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF), sem discutir soluções estruturais para os problemas financeiros do município.

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Os números apresentados pelo Secretário de Fazenda no relatório do terceiro quadrimestre de 2024 revelam um cenário preocupante. A dívida consolidada líquida mais que dobrou ao longo do ano, saltando de R$ 208 milhões para R$ 409 milhões. O resultado nominal, que inclui os juros da dívida, foi negativo em R$ 141,6 milhões, evidenciando que a prefeitura está gastando mais do que arrecada. Além disso, a arrecadação ficou muito aquém da meta, com um déficit de R$ 439 milhões.

Apesar desse quadro, a margem para um reajuste de 5% nos salários dos servidores existe, sem que isso ultrapasse o limite prudencial da LRF. Atualmente, a relação entre despesas com pessoal e a receita corrente líquida é de 48,26%, abaixo do limite prudencial de 51,3%. Isso significa que a concessão do aumento não comprometeria a saúde financeira da cidade, ao contrário do que sugere a gestão municipal.

O argumento do prefeito se baseia em alertas emitidos pelo Tribunal de Contas do Estado (TCE), mas omite informações importantes. O alerta mais recente foi publicado em agosto de 2024, com base em dados de agosto de 2023. Desde então, o que foi feito para corrigir a rota? Muitos municípios ultrapassam temporariamente o limite prudencial e têm até dois quadrimestres para ajustar suas contas. O problema real não está no reajuste dos servidores, mas na ausência de um planejamento eficiente que evite o aumento da dívida e o déficit fiscal.

Enquanto isso, os servidores públicos enfrentam condições precárias de trabalho, assédio moral e a desvalorização de suas carreiras. A prefeitura tenta minimizar a greve, alegando impacto reduzido nos serviços, mas ao mesmo tempo convoca coletivas para justificar sua posição. A contradição é evidente: se a greve não causa impacto, por que tanto esforço para desmobilizá-la?

Defendemos uma solução equilibrada, que garanta a valorização dos servidores sem comprometer a saúde financeira do município. A responsabilidade fiscal não pode ser utilizada como justificativa para penalizar os trabalhadores. A prefeitura precisa assumir sua responsabilidade, corrigir erros de gestão e garantir um reajuste justo. O diálogo deve ser retomado com respeito e compromisso, reconhecendo que os servidores são essenciais para o funcionamento da cidade.

A greve é um instrumento legítimo de luta, e cabe à administração municipal tratá-la com seriedade. O apelo é claro: que a prefeitura reconheça a importância dos servidores, retome as negociações e construa uma solução justa para todos. A população não pode pagar pela má gestão, e os servidores não podem ser os únicos a arcar com o peso dos erros da administração.