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Poços de Caldas

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Um patrimônio chamado Banca de Jornal

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*Cacá D’Arcádia

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A compreensão da cultura e do patrimônio frequentemente requer um mergulho na História, especialmente em períodos nos quais indivíduos alheios a esses conceitos assumem posições de decisão. A trajetória da imprensa no Brasil inicia-se no começo do século XIX, quando a transferência da Corte portuguesa para o país evidenciou a necessidade de um veículo de comunicação oficial. Em 1808, foi estabelecida a Impressão Régia, responsável pela publicação da “Gazeta do Rio de Janeiro”, o primeiro jornal impresso em território nacional. Diferentemente do “Correio Braziliense”, fundado no mesmo ano por Hipólito da Costa e impresso em Londres, a “Gazeta” era produzida no Brasil e atendia aos interesses da monarquia.

Ao longo do século XIX, o comércio de jornais e periódicos consolidou-se, acompanhando o crescimento urbano do país. Acredita-se que a primeira banca de jornal tenha surgido no Rio de Janeiro, idealizada por um imigrante italiano chamado Carmine Labanca, cujo sobrenome teria originado o termo “banca”. Inicialmente, essas estruturas eram compostas por tábuas e caixotes improvisados, evoluindo posteriormente para barracas de madeira e, mais tarde, para as estruturas metálicas que conhecemos hoje.

Em São Paulo, o pioneirismo das bancas de jornal é atribuído ao imigrante português Salvador Neves, responsável pela tradicional Banca Estadão, que operou por mais de 50 anos, tornando-se um ponto de referência na cidade. Esses locais não eram apenas pontos de venda de impressos, mas verdadeiros centros de encontro e disseminação de informações.

Embora a escassez de material dificulte uma narrativa precisa sobre as bancas de jornal em Poços de Caldas, é inegável que, assim como em outras cidades, elas sempre integraram o cotidiano urbano, desempenhando um papel fundamental na vida dos cidadãos e no patrimônio histórico material.

As bancas de jornal transcendem a função de meros pontos comerciais. São espaços de sociabilidade, onde leitores se encontram, formam amizades, compartilham ideias e cultivam o hábito da leitura. Para muitas crianças, as bancas representam o primeiro contato com gibis, essenciais para o processo de alfabetização e estímulo à imaginação. Além disso, oferecem acesso a livros, artigos de interesse geral e servem como refúgio para aqueles que ainda valorizam o jornalismo impresso.

No início dos anos 2000, com a popularização da internet, os jornais impressos começaram a perder força, impactando diretamente a sobrevivência das bancas. Para se manterem ativas, muitas passaram a diversificar seus produtos, vendendo desde doces e brinquedos até itens eletrônicos. Com a pandemia de 2020, essa necessidade de adaptação intensificou-se ainda mais, forçando os jornaleiros a reinventar seus negócios para enfrentar a crise econômica.

Atualmente, os proprietários de bancas afirmam que já não é viável depender exclusivamente da venda de jornais e revistas, sendo necessário complementar a renda com outros produtos. No entanto, a importância histórica e cultural das bancas de jornal permanece inquestionável. Elas continuam a ser símbolos de resistência em um cenário de mudanças tecnológicas e sociais, representando não apenas um ponto comercial, mas um verdadeiro patrimônio cultural das cidades.

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Além dos valores históricos, as bancas de jornais possuem um valor educacional imensurável que muitos ignoram, por não fazer parte de sua realidade econômica. A comercialização de livros com preços acessíveis, gibis e periódicos científicos nutre uma parcela significativa da população, tanto pelo valor quanto pela facilidade de acesso.

É inegável que os gibis facilitam a alfabetização de milhares de crianças pelo país. Tanto é verdade que compõem listas de materiais de escolas para reforço pedagógico. A professora Liliani Aparecida da Rosa, do Colégio Positivo, afirma: “A leitura contribui com habilidades socioemocionais que o ser humano precisa aprimorar ao longo da vida, como empatia, senso crítico e noção de pertencimento a partir da identificação com os personagens da história. O apelo visual, a dinâmica ágil da narrativa em quadrinhos e o humor presente no enredo fazem com que o momento da leitura seja prazeroso e descontraído, despertando ainda mais interesse pelos textos”.

As bancas de jornais e revistas contribuem para o acesso à diversificação de literatura, pois disponibilizam, ao alcance da população, outros gêneros narrativos que apresentam, gradativamente, desafios de leitura. As bancas contribuem para o desenvolvimento do hábito da leitura, de acordo com pesquisas de mestrado. E só não reconhece isso quem nega o acesso à educação. 

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Em Poços de Caldas, as bancas de jornais são padronizadas desde 2003, não rompendo com o processo arquitetônico da cidade, ao contrário de fachadas de lojas que escondem a história dos imóveis, poluindo visualmente a rua principal. 

Romper com a cultura das bancas de jornais é impedir o acesso a produtos literários com valores acessíveis, suprimindo espaços de convivência. Mais que isso, é privar dezenas de famílias que se sustentam há décadas deste setor. O impacto é educacional, social e econômico. 

Espera-se que apreço pela história, pelas pessoas, pelas famílias e pelo diálogo derrote a aversão à coletividade e à história.

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