Textura, largura, altura, segurança sanitária e o mais importante: sabor. Com características específicas, o Queijo Minas Artesanal (QMA) do Caraça agora é Patrimônio Imaterial Cultural da Humanidade. Esta é uma das dez regiões mineiras responsáveis por este produto famoso internacionalmente.
O Poços Já está publicando uma série de reportagens sobre o Queijo Minas Artesanal, que obteve reconhecimento, na quarta-feira (4), da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco).
A convite do Governo de Minas Gerais, o jornalista Juliano Borges percorre diversas áreas produtoras do queijo e, além de saber mais sobre esta iguaria, também passa a conhecer a cultura de cada lugar.
Confira outras reportagens da série:
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Características próprias
A jornada pela Rota do Queijo começa na região do Entre Serras ao Caraça. Esta área produtora compreende seis municípios: Catas Altas, Barão de Cocais, Santa Bárbara, Rio Piracicaba, Bom Jesus do Amparo e Caeté.
Hospedado do Santuário do Caraça, um centro de peregrinação e turismo localizado a 120 km de Belo Horizonte, o jornalista Juliano Borges participou de uma degustação de produtos locais: cachaça, vinho de jabuticaba, creme de mel e, com destaque, o queijo.
O repórter conversou com Edson Custódio da Silva, engenheiro agrônomo e extensionista agropecuário da Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural do Estado de Minas Gerais (Emater-MG). Edson explica que o queijo de cada região produtora tem características específicas.
O QMA do Caraça, por exemplo, possui largura de 20 cm, 10 cm de altura, com maturação de 22 dias e coloração amarelo palha, sem contar a textura e maciez inconfundíveis. Para chegar a este resultado, diversas ações são necessárias.
“Precisa usar o leite cru, produzido na própria propriedade. Entre o período de retirar o leite do animal e fazer o queijo no máximo uma hora, porque tem que aproveitar a temperatura que o leite saiu do úbere do animal. O leite não pode ser aquecido e tem que usar uma cultura láctea produzida pela própria propriedade”, detalha.
O tempo de maturação do queijo, segundo o engenheiro agrônomo, é importante para que as “bactérias boas” superem aquelas que podem ser nocivas à saúde humana. Ele ainda afirma que essas medidas garantem a segurança dos produtos, além de levar maior rentabilidade aos produtores.
Produtores colhendo frutos
O processo de padronização do Queijo Minas Artesanal do Caraça começou em 2012 e terminou em 2019. Portanto, para chegar ao nível de Patrimônio da Humanidade foi necessário um trabalho complexo de padronização e capacitação.
De acordo com Pedro Caldeira, presidente da Associação Queijo Minas Artesanal do Entre Serras da Piedade ao Caraça, no início houve resistência dos produtores. Isso porque o queijo fresco, feito no dia, tinha maior alcance no mercado. Além disso, não havia uma padronização nos procedimentos e a conquista do selo sanitário parecia impossível.
“Fomos desbravando, desbravando, e conseguimos o selo. Hoje, a gente vê que o selo sanitário está mais acessível”, comenta o presidente.
Apesar disso, Pedro afirma que ainda é necessário haver políticas públicas para facilitar o acesso ao selo, principalmente no âmbito financeiro, para que os produtores possam implantar as medidas necessárias.
Atualmente, sete marcas da região produzem o Queijo Minas Artesanal e, em breve, serão nove. Mesmo assim, ainda são poucos os produtores que aderiram. “A produção de queijos na região é muito alta, muitas fazendas produzem queijo, seja massa cozida, frescal, padrão, mas poucos fazem o artesanal”, relata Pedro.
Além do valor agregado ao produto, agora a divulgação decorrente do reconhecimento pela Unesco traz ainda mais benefícios para os produtores do QMA. “Quem está nesse início já está colhendo muitos frutos. Ver o desenvolvimento dos produtores é algo que deixa a gente muito feliz”, comenta o presidente.