Uma pesquisa recente desenvolvida por pesquisadoras da área de Enfermagem da Unifal-MG investigou como a espiritualidade pode ajudar a reduzir o sofrimento emocional e psicológico em situações de doença grave, como o câncer. O resultado apontou que, quanto maior é o nível de espiritualidade, menor é a ausência de ânimo entre pacientes com câncer.
O estudo, publicado no periódico Supportive Care in Cancer em 2023, é parte da dissertação de mestrado da egressa Milena Schneiders, desenvolvida junto ao Programa de Pós-Graduação em Enfermagem, sob a orientação da professora Ana Cláudia Mesquita Garcia (Escola de Enfermagem). A proposta do trabalho foi sintetizar achados na literatura científica sobre desmoralização [desânimo, desencorajamento] e espiritualidade no contexto oncológico.
Conforme explica a professora Ana Cláudia, a desmoralização acomete, principalmente, pessoas com doenças graves, como o câncer. No artigo, a pesquisadora esclarece que desmoralização é uma forma de sofrimento existencial, caracterizada por sentimentos de abandono, desesperança, incompetência e baixa autoestima.
Espiritualidade como força protetora
Ana Cláudia Garcia destaca que, apesar de não haver um consenso sobre a definição de espiritualidade na literatura científica, as definições propostas apresentam aspectos em comum. “A espiritualidade pode ser descrita como uma necessidade inata do ser humano, referente à busca por significado, por sentido da vida, por propósito e por transcendência”, salienta.
A professora acrescenta que a espiritualidade vai além da religião, uma vez que está ligada à necessidade que o ser humano tem de conexão. “A espiritualidade pode ter manifestação de diversas formas. Uma delas é a religião, mas existem diversas outras formas de se manifestar a espiritualidade. Por exemplo, muitas pessoas encontram a vivência de sua espiritualidade estando em contato com a natureza, estando em contato com pessoas que amam, apreciando algo que é belo e outras pessoas manifestam a espiritualidade por meio de crenças religiosas. Então, a religião é apenas uma das formas de se manifestar a espiritualidade”, observa.
O artigo enfatiza a relação inversa entre desmoralização e bem-estar espiritual, avaliando as dimensões de sensação de paz interior, significado da vida e esperança. Conforme os resultados observados, a perda da integridade corporal e da saúde aumentam o risco de desmoralização. No entanto, maiores níveis de bem-estar espiritual parecem funcionar como um fator protetor contra a desmoralização.
Entre os cuidadores de pacientes com câncer, a desmoralização também se mostrou relevante e esteve associada, sobretudo, ao sofrimento espiritual e psicológico.
Como a pesquisa foi feita
A pesquisa consistiu em uma revisão sistemática integrativa. A qual foi desenvolvida mediante buscas abrangentes nas bases de dados Medline via PubMed, Scopus, Web of Science, APA PsycNet, CINAHL, Cochrane Library, Embase e Lilacs, sem que houvesse limitações quanto ao idioma ou ao ano de publicação.
A análise dos pesquisadores incluiu apenas estudos primários, ou seja, experimentais ou observacionais, quantitativos ou qualitativos, presentes em literatura científica revisada por pares. De acordo com os critérios de elegibilidade, de um total de 1.587 artigos em avaliação, dez estudos foram incluídos nesta revisão. À exceção de um dos artigos, veiculado em 2006, os demais tiveram publicação entre 2019 e 2023. Ao todo, 2.439 pacientes oncológicos fizeram parte, além de 142 cuidadores familiares de pessoas com câncer no fim da vida. Com a finalidade de mensurar a desmoralização e avaliar a espiritualidade, foram utilizados instrumentos específicos.
Para os pesquisadores, em países nos quais a espiritualidade já está amplamente presente no âmbito sociocultural, intervenções baseadas no bem-estar espiritual para o controle da desmoralização podem apresentar grande relevância.
Em conclusão, os autores constataram que, em pacientes oncológicos, a desmoralização tende a aumentar à medida que a morte se aproxima. E estabelece uma relação inversa com o nível de espiritualidade, tanto nesses pacientes quanto em seus cuidadores.
A partir dos resultados, a expectativa é que sejam desenvolvidos estudos experimentais sobre a associação de causa e efeito entre intervenções espirituais e o manejo da desmoralização.
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(Fonte: Unifal-MG, texto de Vitoria Gabriele Souza Geraldine)