Com o objetivo de promover diálogos entre diferentes obras dos cinemas negros brasileiros, o Instituto Moreira Salles e a plataforma Indeterminações estreiam uma programação em parceria: a Sessão Indeterminações. A programação inicia neste mês nas salas de cinema do IMS em São Paulo e Poços de Caldas, com os filmes Pequena África (2002), de Zózimo Bulbul, e Uma nega chamada Tereza (1973), de Fernando Coni Campos. Os títulos serão exibidos dia 17 de agosto, às 16h, no IMS Poços.
A sessão é gratuita e também contará com um bate-papo com Gabriel Araújo, Lorenna Rocha e a pesquisadora Kariny Martins. Para a programação deste mês, intitulada Pretitudes em atrito, os curadores selecionaram dois filmes feitos em diferentes tempos históricos e territórios, com formas distintas de representar e lidar com as criações estéticas e memórias africanas e afro-brasileiras.
Lançado em 1973, Uma nega chamada Tereza é centrado num casal africano (Dr. Silvanius e Makeba), que vem conhecer o Brasil por ocasião do Festival Internacional da Canção, no qual o cantor Jorge Ben é o favorito. O filme, que conta com atuação do próprio músico, mescla gêneros distintos e traz discussões sobre temas como nacionalismo, raça e economia, em curso durante a ditadura brasileira. Após seu lançamento, o longa-metragem passou décadas sem ser exibido, retornando ao debate público em 2023, quando foi projetado na 18a CineOP – Mostra de Cinema de Ouro Preto.
Já o curta-metragem Pequena África (2002), de Zózimo Bulbul, obra consagrada da cinematografia brasileira, traça um fio de continuidade entre passado e presente, resgatando a história negra do Rio de Janeiro, a partir da região da Pequena África, local habitado pelas pessoas negras da cidade.
Em texto publicado na revista de cinema do IMS, Lorenna Rocha e Gabriel Araújo escrevem sobre o recorte da programação, centrada na ideia do desencontro e do conflito como potencialidade. “Num país tão complexo e contraditório como o Brasil, a busca por uma noção pura ou autossuficiente da “negrura” não só nos parece contraproducente como tem balizado um apagamento sistemático de uma história que foi realizada e trançada em plena assimetria. É desse ponto de partida que se delineia esta faixa de programação, projeto que materializa nosso horizonte de acender debates em torno da cinematografia nacional, conectando tempos aparentemente fora de sincronia e estabelecendo contato entre repertórios criativos de diversos profissionais audiovisuais negros e negras que pavimentam, reelaboram, ampliam e questionam o fazer cinematográfico brasileiro.”
Além do artigo de Lorenna e Gabriel, a revista deste mês traz os ensaios “A polifonia ganha volume”, do jornalista e pesquisador musical GG Albuquerque, e “Negritudes imaginadas no cinema brasileiro: dessemelhanças, aparições e apagamentos”, da curadora e pesquisadora Izabel de Fátima Cruz Melo, com análises dos filmes apresentados nas sessões.
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