A Unifal-MG acaba de depositar uma patente no Instituto Nacional da Propriedade Industrial (INPI) referente à descoberta de duas substâncias ativas que mostram grande eficácia contra o Sars-Cov-2. Iniciada em 2020, a pesquisa que resultou na descoberta fez parte de um esforço global para reavaliar moléculas existentes em bancos de substâncias em busca de novos tratamentos para a covid-19.
O trabalho foi liderado pelo professor e pesquisador Cláudio Viegas Júnior, do Instituto de Química (IQ) da Universidade. “Esta pesquisa foi iniciada como uma ideia de reinvestigar substâncias já existentes em nossa quimioteca”, conta.
Pesquisa de doutorado
Conforme o pesquisador, as duas moléculas descobertas e protegidas são frutos do projeto de pesquisa do doutorado da acadêmica Graziella dos Reis Rosa Franco, desenvolvido pelo Programa de Pós-Graduação em Química (PPGQ), cuja tese será defendida em julho. “As moléculas da pesquisa dela eram para outra finalidade e acabaram resultando nessa descoberta”, acrescenta o professor Cláudio Viegas.
Entre cerca de 120 moléculas da quimioteca do Laboratório de Pesquisa em Química Medicinal (PeQuiM) selecionadas para a investigação, duas substâncias com estrutura química análoga ao canabidiol se destacaram. Essas substâncias foram capazes de inibir o receptor da ECA-2, responsável pela entrada do Sars-Cov-2 na célula, além de impedir o aumento de carga viral e ter efeito anti-inflamatório. “Temos, portanto, duas substâncias altamente inovadoras e que podem ter desenvolvimento como novos candidatos a fármacos efetivos e eficazes contra a covid-19”, destaca o líder da pesquisa.
Parcerias
O projeto contou com a colaboração de várias instituições e pesquisadores de renome. Em parceria com a professora Patrícia Dias Fernandes, do Instituto de Ciências Biomédicas da Universidade Federal do Rio de Janeiro (ICB/UFRJ), aconteceram estudos em animais expostos ao vírus Sars-Cov-2 inativado, que desenvolviam um quadro de pneumonia similar ao da covid-19.
Além disso, estudos antivirais foram feitos em colaboração com a professora Jordana Alves Coelho dos Reis, da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e com o pesquisador Laurent Emmanuel Dardenne, do Laboratório Nacional de Computação Científica (LNCC) e líder do Grupo de Modelagem Molecular de Sistemas Biológicos.
Segundo o professor Cláudio Viegas, a premissa que norteou o desenvolvimento da pesquisa foi o próprio interesse do grupo centrado em doenças inflamatórias crônicas, que incluem doenças neurodegenerativas, parasitárias e câncer. “Nossa hipótese inicial foi: ‘Será que as substâncias que planejamos e sintetizamos para terem efeitos múltiplos em doenças multifatoriais, incluindo atividade anti-inflamatória, poderiam ser eficazes contra o quadro inflamatório da covid-19?’”, detalha.
Junto ao Laboratório Nacional de Computação Científica, o pesquisador explica que aconteceram estudos computacionais em alvos do Sars-Cov-2, buscando identificar possíveis mecanismos de ação e potencial antiviral.
Com quatro anos de pesquisa intensa, a equipe agora celebra o depósito da patente no INPI. Isso assegura a autoria da descoberta e garante exclusividade para o desenvolvimento.